Em “Taxi Driver”, o mestre Martin Scorsese
achou que seria dramaticamente contundente explorar a gradual transformação de
um homem comum, já abalado por celeumas de seu tempo, num estopim de fúria
psicopata que é revelada na antológica sequência final.
Da mesma maneira, o diretor Joel Schumacher
partiu de reflexão parecida ao moldar este seu “Um Dia de Fúria”, com um
diferencial mais objetivo: Nem tanto interessa a ele as motivações bem
pavimentadas que o caminho de seu protagonista em direção ao surto apresenta;
ele que mostrar são as consequências e
os desdobramentos do surto em si.
Por isso, o filme já começa com William
(Michael Douglas, vibrante) dando um basta de dentro de um carro que não
conseguia avançar devido ao engarrafamento; além de tudo o calor escaldante da
Califórnia e o suor resultante lhe acirram os nervos –sua imediata ida (a pé
mesmo) à uma loja de conveniência próxima só piora ainda mais o quadro.
Indignado com uma pouco lisonjeira discussão com o dono do lugar, William
inicia ali seu acerto de contas. Em seguida, ele promove um rastro de
intolerância reagindo com violência a tudo e a todos que lhe cruzam o caminho,
provocando um caos em sua ida para casa.
Aliás, uma ida para a casa que ele presume ser
sua já que é onde sua ex-mulher está com sua filha.
Paralela a essa cada vez mais perigosa
trajetória (e hoje munida de uma certa ingenuidade), estão as investigações do
policial Prendergast (Robert Duvall) que, em seu último dia de trabalho, encara
o inusitado caso de um homem que chegou ao cúmulo de sua injúria com o sistema –e
é esse personagem quem vai juntar as peças, no decorrer do filme, a fim de
esclarecer tudo, inclusive os motivos (mais pontuais do que se pode imaginar)
para William querer extravasar sua fúria nos inadvertidos e alienados seres
humanos que vê a sua frente.
De recepção popular consideravelmente calorosa –pode
até ser definido assim como cult –este trabalho oscila entre cenas muito boas e
alguns momentos bastante discutíveis e lamentáveis, todos eles preenchendo uma
premissa das mais promissoras que rendeu um filme menos brilhante do que
poderia ter sido.
Ainda assim, com a respeitável exceção da bela
adaptação cinematográfica de “O Fantasma da Ópera”, este curioso conto sobre as
neuroses reprimidas e, por fim, extravasadas do cidadão médio comum da década
de 1990 é o melhor filme de toda a carreira do irregular diretor Joel
Schumacher que, a bem da verdade, fez muita porcaria.
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