segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Benção Mortal


As características de um especialista em terror já surgem aqui, neste trabalho de Wes Craven, anterior a muitas das obras que depois o fizeram famoso: A construção ligeira e certeira de uma atmosfera imediatamente tensa –na qual a trilha sonora se revela de uma contribuição importantíssima; o sadismo latente para com a condução de inúmeros personagens, sobretudo, os mais relapsos; o manejo de circunstâncias até politicamente incorretas em prol de uma premissa que atende as demandas do gênero.
De maneira geral, “Benção Mortal” é uma ideia um tanto estapafúrdia que a habilidade de Wes Craven rapidamente consegue tornar palatável e envolvente.
Numa região afastada de uma cidade norte-americana vive os hititas, uma comunidade que replicada características dos amish (vistos, por exemplo, em “A Testemunha”), porém, com uma intolerância e uma irredutibilidade que chegam às raias da inverossimilhança –e que, deveras, só poderiam mesmo habitar o enredo de um filme de terror.
Ao lado da comunidade, está a fazenda de Jim (Douglas Barr), rapaz que outrora pertenceu ao grupo, mas foi expulso por seu pai intransigente, Isaiah (Ernest Bognine), por ter se envolvido com Martha (Mare Jensen) uma moça de fora da comunidade –e, como todas elas, vista pelos hititas como um mero instrumento da tentação.
Quando os personagens aqui e ali começam a morrer no melhor estilo slasher –com um uso hábil de câmera subjetiva do ponto de vista do assassino que lembra muito as sequências de “Halloween” –o diretor Craven oferece um vasto leque de suspeitos, entre eles, o próprio Isaiah, e o truculento William (interpretado por Michael Berryman, de “Quadrilha de Sádicos).
Ele oferece também um vasto leque de potenciais vítimas para o assassino: Aparecem na fazenda também as melhores amigas de Martha, as urbanizadas Lana (Sharon Stone, ainda em início de carreira) e Vick (Suzan Buckner) que vem a envolver-se com o outro filho de Isaiah, John (Jeff East, o jovem Clark Kent em “Superman-O Filme”).
Lançado em 1981 –três anos antes de “A Hora do Pesadelo” –“Benção Mortal” possui, inclusive, uma cena que já antecipa em execução, ideia e enquadramento a famosa cena da banheira; esse fato passou completamente despercebido do público porque injustamente “Benção Mortal” é um trabalho quase desconhecido, certamente composto de elementos que ele iria aprimorar em seus futuros filmes –embora a carreira de Craven tenha sido sempre definida por obras que jamais chegaram ao polimento completo.
Após visitar todas as definições do sub-gêneros slasher que começava a proliferar no cinema comercial –e sair-se relativamente bem nisso –o filme de Craven se encerra num desfecho inesperado e inusitado, algo raivoso, abraçando elementos sobrenaturais que até então ele não havia lançado mão.
Prova de que, além de fazer muito bem suas obras de terror, Craven se divertia a valer com elas.

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