As características de um especialista em terror
já surgem aqui, neste trabalho de Wes Craven, anterior a muitas das obras que
depois o fizeram famoso: A construção ligeira e certeira de uma atmosfera
imediatamente tensa –na qual a trilha sonora se revela de uma contribuição
importantíssima; o sadismo latente para com a condução de inúmeros personagens,
sobretudo, os mais relapsos; o manejo de circunstâncias até politicamente
incorretas em prol de uma premissa que atende as demandas do gênero.
De maneira geral, “Benção Mortal” é uma ideia
um tanto estapafúrdia que a habilidade de Wes Craven rapidamente consegue
tornar palatável e envolvente.
Numa região afastada de uma cidade
norte-americana vive os hititas, uma comunidade que replicada características
dos amish (vistos, por exemplo, em “A Testemunha”), porém, com uma intolerância
e uma irredutibilidade que chegam às raias da inverossimilhança –e que,
deveras, só poderiam mesmo habitar o enredo de um filme de terror.
Ao lado da comunidade, está a fazenda de Jim
(Douglas Barr), rapaz que outrora pertenceu ao grupo, mas foi expulso por seu
pai intransigente, Isaiah (Ernest Bognine), por ter se envolvido com Martha
(Mare Jensen) uma moça de fora da comunidade –e, como todas elas, vista pelos
hititas como um mero instrumento da tentação.
Quando os personagens aqui e ali começam a
morrer no melhor estilo slasher –com um uso hábil de câmera subjetiva do ponto
de vista do assassino que lembra muito as sequências de “Halloween” –o diretor
Craven oferece um vasto leque de suspeitos, entre eles, o próprio Isaiah, e o
truculento William (interpretado por Michael Berryman, de “Quadrilha de
Sádicos).
Ele oferece também um vasto leque de potenciais
vítimas para o assassino: Aparecem na fazenda também as melhores amigas de
Martha, as urbanizadas Lana (Sharon Stone, ainda em início de carreira) e Vick
(Suzan Buckner) que vem a envolver-se com o outro filho de Isaiah, John (Jeff
East, o jovem Clark Kent em “Superman-O Filme”).
Lançado em 1981 –três anos antes de “A Hora do
Pesadelo” –“Benção Mortal” possui, inclusive, uma cena que já antecipa em
execução, ideia e enquadramento a famosa cena da banheira; esse fato passou
completamente despercebido do público porque injustamente “Benção Mortal” é um
trabalho quase desconhecido, certamente composto de elementos que ele iria
aprimorar em seus futuros filmes –embora a carreira de Craven tenha sido sempre
definida por obras que jamais chegaram ao polimento completo.
Após visitar todas as definições do sub-gêneros
slasher que começava a proliferar no cinema comercial –e sair-se relativamente
bem nisso –o filme de Craven se encerra num desfecho inesperado e inusitado,
algo raivoso, abraçando elementos sobrenaturais que até então ele não havia
lançado mão.
Prova de que, além de fazer muito bem suas
obras de terror, Craven se divertia a valer com elas.
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