Um dos grandes filmes policiais do cinema, “A
Testemunha”, do sempre notável diretor australiano Peter Weir, não se restringe
apenas a esse gênero: É funcional também como suspense, como drama e como
romance.
Tal mérito se deve ao roteiro equilibrado de
Earl W. Wallace e William Kelley que, somado à condução sempre austera e
impregnada de vivacidade de Weir, dá ao filme uma atmosfera dramática
extremamente desigual e incomum.
Por isso talvez haja um comprometimento tão
acentuado e singular na atuação de Harrison Ford (que recebeu aqui a única
indicação ao Oscar de Melhor Ator de sua carreira) no papel de John Book, o
policial encarregado de um caso onde um garotinho amish (o pequeno Lukas Haas)
torna-se a única testemunha de um brutal assassinato, logo descobrindo que o
assassino vem a ser um conceituado detetive da polícia de Los Angeles (Danny
Glover).
O homicídio em questão envolve, portanto,
corrupção nos mais altos escalões da polícia, o quê o obriga, sem alternativas,
a refugiar-se, junto da criança e de sua mãe (Kelly McGillis, de “Top Gun”,
belíssima) na comunidade amish ao qual os dois pertencem.
É quando o filme de Weir revela seu aspecto
mais inusitado e brilhante: Homem rígido e urbanizado, John Book encontra
dificuldade e reticência em sua adaptação a esse novo modo de vida no qual, ao
contrário da rotina moderna que cultivou a vida inteira, prima pela harmonia,
pela simplicidade (num nível quase atroz) e pela abnegação de comodidades
fúteis e banais.
Paralela a essa adaptação –que acontece em
todas as suas nuances de sutileza e drama –floresce também uma paixão contida
entre ele e Rachel (personagem de McGillis), completamente impedida pelas
circunstâncias e pelo contraste do mundo a que ambos pertencem.
Essa faceta do filme de Weir, tão magistral e
bem realizada em todos os seus aspectos se mostra que chega a engolir a trama
policial que engatilhou a narrativa, mas ela retorna na meia hora final, brilhantemente
tensa e aflitiva, para ilustrar o realizador completo que é o seu diretor.
Ao fim, a idéia com a qual
Peter Weir encerra o filme e deixa o expectador é a mesma de quase todos os
seus filmes: O fato indelével –e fascinante até –que o ser humano tem de
transformar e deixar ser transformado pelo ambiente à sua volta.
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