domingo, 4 de junho de 2017

A Testemunha

Um dos grandes filmes policiais do cinema, “A Testemunha”, do sempre notável diretor australiano Peter Weir, não se restringe apenas a esse gênero: É funcional também como suspense, como drama e como romance.
Tal mérito se deve ao roteiro equilibrado de Earl W. Wallace e William Kelley que, somado à condução sempre austera e impregnada de vivacidade de Weir, dá ao filme uma atmosfera dramática extremamente desigual e incomum.
Por isso talvez haja um comprometimento tão acentuado e singular na atuação de Harrison Ford (que recebeu aqui a única indicação ao Oscar de Melhor Ator de sua carreira) no papel de John Book, o policial encarregado de um caso onde um garotinho amish (o pequeno Lukas Haas) torna-se a única testemunha de um brutal assassinato, logo descobrindo que o assassino vem a ser um conceituado detetive da polícia de Los Angeles (Danny Glover).
O homicídio em questão envolve, portanto, corrupção nos mais altos escalões da polícia, o quê o obriga, sem alternativas, a refugiar-se, junto da criança e de sua mãe (Kelly McGillis, de “Top Gun”, belíssima) na comunidade amish ao qual os dois pertencem.
É quando o filme de Weir revela seu aspecto mais inusitado e brilhante: Homem rígido e urbanizado, John Book encontra dificuldade e reticência em sua adaptação a esse novo modo de vida no qual, ao contrário da rotina moderna que cultivou a vida inteira, prima pela harmonia, pela simplicidade (num nível quase atroz) e pela abnegação de comodidades fúteis e banais.
Paralela a essa adaptação –que acontece em todas as suas nuances de sutileza e drama –floresce também uma paixão contida entre ele e Rachel (personagem de McGillis), completamente impedida pelas circunstâncias e pelo contraste do mundo a que ambos pertencem.
Essa faceta do filme de Weir, tão magistral e bem realizada em todos os seus aspectos se mostra que chega a engolir a trama policial que engatilhou a narrativa, mas ela retorna na meia hora final, brilhantemente tensa e aflitiva, para ilustrar o realizador completo que é o seu diretor.
Ao fim, a idéia com a qual Peter Weir encerra o filme e deixa o expectador é a mesma de quase todos os seus filmes: O fato indelével –e fascinante até –que o ser humano tem de transformar e deixar ser transformado pelo ambiente à sua volta.

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