A Pixar vinha de um sucesso estrondoso (“Toy
Story”) e um sucesso razoável (“Vida de Inseto”) quando, ainda na necessidade
de se provar perante público e crítica, provou, com este “Monstros S.A.”, que
era sim capaz de apreender doses cavalares de genialidade e astúcia narrativa
no que parecia apenas um longa-metragem descompromissado.
Numa dimensão paralela habitada por monstros, o
baixinho Mike (voz de Billy Cristal, caprichando no improviso) e o grande e peludo Sully (John Goodman, emotivo) trabalham numa usina de energia
especializada em arrancar gritos de terror das crianças da nossa dimensão (o
medo das crianças é uma fonte de energia na dimensão deles).
Mas, as crianças, cada vez mais incrédulas, já
não têm tanto medo assim dos monstros que se materializam no armário, tanto que
o mundo de Mike e Sully enfrenta uma crise de energia generalizada. É quando,
sem querer, os dois deixam uma garotinha humana –a apaixonante Boo –escapar
para o seu mundo criando um enorme pandemônio (os monstros acham que as
crianças são tóxicas).
Incluído entre as primeiríssimas produções
indicadas ao Oscar de Melhor Longa-Metragem de Animação em 2001 –o primeiro ano
em que essa categoria foi instaura –“Monstros S.A.” injustamente perdeu para o
sarcástico, mas não tão memorável, “Shrek”.
Uma pena: Dono de um roteiro primoroso –onde
são levadas em conta capacidades pouco exploradas das crianças em encarar a
tensão da narrativa e a complexidade de certos tópicos –o filme se permite uma
inesperada e bem-humorada reflexão sobre as prioridades trabalhistas e as
características perniciosas do medo.
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