terça-feira, 30 de outubro de 2018

Monstros S.A.


A Pixar vinha de um sucesso estrondoso (“Toy Story”) e um sucesso razoável (“Vida de Inseto”) quando, ainda na necessidade de se provar perante público e crítica, provou, com este “Monstros S.A.”, que era sim capaz de apreender doses cavalares de genialidade e astúcia narrativa no que parecia apenas um longa-metragem descompromissado.
Numa dimensão paralela habitada por monstros, o baixinho Mike (voz de Billy Cristal, caprichando no improviso) e o grande e peludo Sully (John Goodman, emotivo) trabalham numa usina de energia especializada em arrancar gritos de terror das crianças da nossa dimensão (o medo das crianças é uma fonte de energia na dimensão deles).
Mas, as crianças, cada vez mais incrédulas, já não têm tanto medo assim dos monstros que se materializam no armário, tanto que o mundo de Mike e Sully enfrenta uma crise de energia generalizada. É quando, sem querer, os dois deixam uma garotinha humana –a apaixonante Boo –escapar para o seu mundo criando um enorme pandemônio (os monstros acham que as crianças são tóxicas).
Incluído entre as primeiríssimas produções indicadas ao Oscar de Melhor Longa-Metragem de Animação em 2001 –o primeiro ano em que essa categoria foi instaura –“Monstros S.A.” injustamente perdeu para o sarcástico, mas não tão memorável, “Shrek”.
Uma pena: Dono de um roteiro primoroso –onde são levadas em conta capacidades pouco exploradas das crianças em encarar a tensão da narrativa e a complexidade de certos tópicos –o filme se permite uma inesperada e bem-humorada reflexão sobre as prioridades trabalhistas e as características perniciosas do medo.

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