Um ícone televisivo dos anos 1980, “Miami vice”
ganhou enfim as telas de cinema do único jeito aceitável: Urgido pelo mesmo
realizador responsável pela alta qualidade da série, Michael Mann, que a partir
dos anos 1990, efetuou, ele próprio, uma migração da tela da TV para as telas
de cinema.
Também a versão cinematográfica de “Miami Vice”
exigiu sua própria transposição: Ao invés do obedecer à caracterização
predominantemente oitentista (e, portanto, fora da moda) da série, Mann optou
por estilismo à toda prova, revestindo os personagens e o submundo criminal que
os cerca de elegância, e com isso, foi assim ao cerne da proposta original de “Miami
Vice”; uma trama policial vistosa, arrojada e plenamente atraente, um noir
vibrante e pós-moderno –nada como um realizador que compreende por inteiro o
material só pra variar.
Nos papéis de Sonny Crocket e Ricardo Tubbs
tornados antológicos pelas interpretações de Don Johnson e Phillip Michael Thomas, estão agora Colin
Farrel e Jamie Foxx que dão suas próprias e inestimáveis contribuições a eles.
Policias infiltrados e grandes amigos, eles têm
a missão de desbaratar o esquema de tráfico de drogas que se alastra por toda
Miami.
Dessa forma, assumem papéis de traficantes
oportunistas para galgar a hierarquia do crime organizado valendo-se de um
trunfo vantajoso –um meio de atravessar os carregamentos de droga pela
fronteira dos EUA com dois aviões colados um ao outro; e portanto, capturados
no radar da polícia como um só –e assim chegar ao chefão.
Como era sintomático na série, Sonny, o
personagem de Farrel, tem a habilidade de envolver-se com a mulher errada e por
tudo a perder –essa mulher, aqui, no caso é a sino-americana Isabella, que nas
formas esculturais e estonteantes da chinesa Gong Li justifica plenamente o fascínio
que o protagonista desenvolve por ela.
A intercalar essa trama –consideravelmente destituída
de surpresas, sobretudo, para os fãs conhecedores do seriado –estão cenas de
perseguição, tiroteio e ação que constituem a definição do próprio gênero
policial e às quais o diretor Michael Mann concede seu refinamento áspero,
truculento e eletrizante.
Uma pena que, pela fidelidade admirável
despendida ao próprio conceito, pela apropriada ausência de humor, e pela pouca
compreensão dos expectadores mais jovens a essas opções, este filme, certamente
um dos melhores policiais de 2006, ficou muito aquém de suas expectativas de
bilheteria, o quê comprometeu a sobrevida de “Miami Vice” como uma série desta
vez cinematográfica.
Se as continuações não vieram, entretanto,
resta como consolo este espetacular filmaço de ação para o usufruto.
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