sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Miami Vice


Um ícone televisivo dos anos 1980, “Miami vice” ganhou enfim as telas de cinema do único jeito aceitável: Urgido pelo mesmo realizador responsável pela alta qualidade da série, Michael Mann, que a partir dos anos 1990, efetuou, ele próprio, uma migração da tela da TV para as telas de cinema.
Também a versão cinematográfica de “Miami Vice” exigiu sua própria transposição: Ao invés do obedecer à caracterização predominantemente oitentista (e, portanto, fora da moda) da série, Mann optou por estilismo à toda prova, revestindo os personagens e o submundo criminal que os cerca de elegância, e com isso, foi assim ao cerne da proposta original de “Miami Vice”; uma trama policial vistosa, arrojada e plenamente atraente, um noir vibrante e pós-moderno –nada como um realizador que compreende por inteiro o material só pra variar.
Nos papéis de Sonny Crocket e Ricardo Tubbs tornados antológicos pelas interpretações de Don Johnson e Phillip Michael Thomas, estão agora Colin Farrel e Jamie Foxx que dão suas próprias e inestimáveis contribuições a eles.
Policias infiltrados e grandes amigos, eles têm a missão de desbaratar o esquema de tráfico de drogas que se alastra por toda Miami.
Dessa forma, assumem papéis de traficantes oportunistas para galgar a hierarquia do crime organizado valendo-se de um trunfo vantajoso –um meio de atravessar os carregamentos de droga pela fronteira dos EUA com dois aviões colados um ao outro; e portanto, capturados no radar da polícia como um só –e assim chegar ao chefão.
Como era sintomático na série, Sonny, o personagem de Farrel, tem a habilidade de envolver-se com a mulher errada e por tudo a perder –essa mulher, aqui, no caso é a sino-americana Isabella, que nas formas esculturais e estonteantes da chinesa Gong Li justifica plenamente o fascínio que o protagonista desenvolve por ela.
A intercalar essa trama –consideravelmente destituída de surpresas, sobretudo, para os fãs conhecedores do seriado –estão cenas de perseguição, tiroteio e ação que constituem a definição do próprio gênero policial e às quais o diretor Michael Mann concede seu refinamento áspero, truculento e eletrizante.
Uma pena que, pela fidelidade admirável despendida ao próprio conceito, pela apropriada ausência de humor, e pela pouca compreensão dos expectadores mais jovens a essas opções, este filme, certamente um dos melhores policiais de 2006, ficou muito aquém de suas expectativas de bilheteria, o quê comprometeu a sobrevida de “Miami Vice” como uma série desta vez cinematográfica.
Se as continuações não vieram, entretanto, resta como consolo este espetacular filmaço de ação para o usufruto.

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