Antes de tornar-se o Midas de Hollywood,
Spielberg era um diretor extraordinariamente promissor. Mais do que isso: Era
quase um gênio em formação, uma vez que ele já havia entregue obras de
qualidade sem igual como “Tubarão” e “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”.
Como o esperado, Spielberg aproveitou as portas
que se abriram para experimentar outros gêneros, como a comédia.
E muitos são os cineastas que podem afirmar ser
esse um dos mais difíceis gêneros de se trabalhar: Humor é algo muito mais
particular do que, por exemplo, o medo –sentimento trabalhado de modo sempre
recorrente no terror –o humor funciona de maneira distinta em cada pessoa, e
com isso as circunstâncias e o contexto de um filme de comédia se tornam muito
relativos. Isso talvez explique porque “1941” não funcionou na época de seu
lançamento e hoje seja uma comédia até bastante satisfatória; além do fato de
que a qualidade das comédias de hoje se vulgarizou a ponto de olharmos com
outros olhos os bons e incompreendidos exemplares do passado.
Há quem diga (não sem uma certa razão) que um
dos erros de Spielberg foi fazer uma comédia ambientada num episódio da Segunda
Guerra Mundial ainda visto com alguma amargura pelo subconsciente
norte-americano: O ataque à base de Pearl Harbor.
Por conseqüência, crítica e público enxergaram
no filme um deboche inapropriado. Não é bem assim: O humor de Spielberg é bem
mais ingênuo, inofensivo, e seu filme guarda elementos que o aproximam das
comédias físicas de Buster Keaton e Charles Chaplin, ou mesmo das peripécias de
inevitável apelo visual dos desenhos animados.
Após a base aérea de Pearl Harbor tornar-se
palco de um ataque difundido aos quatro ventos pelos EUA, a Costa da Califórnia
se vê tomada de uma preocupação generalizada –pode, afinal, lá ser um dos
próximos alvos dos imprevisíveis inimigos.
Dessa forma, diversas situações são flagradas
com galhofa e leveza, bem como personagens cheios de ingenuidade que dividem-se
entre os desastrados (John Belushi e Dan Aykroyd, os mesmo de “Irmãos
Cara-de-Pau”, vivendo respectivamente um piloto e o sargento de um tanque, que
nunca se encontram em cena), os apaixonados, os divertidos e os quase
inofensivos vilões (como o personagem de Treat Williams, cuja petulância lembra
quase o Brutus de “O Marinheiro Popeye”).
Nesse cenário –e com uma cena de abertura que
Spielberg usa para parodiar de forma hilária o seu “Tubarão” –surge um
submarino japonês, capitaneado por um oficial nipônico e outro alemão (Toshiro
Mifune e Christopher Lee, participações especialíssimas) que ronda as águas de
região e não tardará a causar grandes confusões.
Deliberadamente desprovido da contundência de “M.A.S.H.”,
Spielberg optou nesta primeira comédia de sua carreira (um gênero que mesmo
anos depois permanece raro em sua filmografia) por uma abordagem amena,
essencialmente divertida e sem segundas intenções.
Para público e crítica de então, talvez, tenha
sido esse seu erro.
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