sexta-feira, 9 de novembro de 2018

1941 - Uma Guerra Muito Louca


Antes de tornar-se o Midas de Hollywood, Spielberg era um diretor extraordinariamente promissor. Mais do que isso: Era quase um gênio em formação, uma vez que ele já havia entregue obras de qualidade sem igual como “Tubarão” e “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”.
Como o esperado, Spielberg aproveitou as portas que se abriram para experimentar outros gêneros, como a comédia.
E muitos são os cineastas que podem afirmar ser esse um dos mais difíceis gêneros de se trabalhar: Humor é algo muito mais particular do que, por exemplo, o medo –sentimento trabalhado de modo sempre recorrente no terror –o humor funciona de maneira distinta em cada pessoa, e com isso as circunstâncias e o contexto de um filme de comédia se tornam muito relativos. Isso talvez explique porque “1941” não funcionou na época de seu lançamento e hoje seja uma comédia até bastante satisfatória; além do fato de que a qualidade das comédias de hoje se vulgarizou a ponto de olharmos com outros olhos os bons e incompreendidos exemplares do passado.
Há quem diga (não sem uma certa razão) que um dos erros de Spielberg foi fazer uma comédia ambientada num episódio da Segunda Guerra Mundial ainda visto com alguma amargura pelo subconsciente norte-americano: O ataque à base de Pearl Harbor.
Por conseqüência, crítica e público enxergaram no filme um deboche inapropriado. Não é bem assim: O humor de Spielberg é bem mais ingênuo, inofensivo, e seu filme guarda elementos que o aproximam das comédias físicas de Buster Keaton e Charles Chaplin, ou mesmo das peripécias de inevitável apelo visual dos desenhos animados.
Após a base aérea de Pearl Harbor tornar-se palco de um ataque difundido aos quatro ventos pelos EUA, a Costa da Califórnia se vê tomada de uma preocupação generalizada –pode, afinal, lá ser um dos próximos alvos dos imprevisíveis inimigos.
Dessa forma, diversas situações são flagradas com galhofa e leveza, bem como personagens cheios de ingenuidade que dividem-se entre os desastrados (John Belushi e Dan Aykroyd, os mesmo de “Irmãos Cara-de-Pau”, vivendo respectivamente um piloto e o sargento de um tanque, que nunca se encontram em cena), os apaixonados, os divertidos e os quase inofensivos vilões (como o personagem de Treat Williams, cuja petulância lembra quase o Brutus de “O Marinheiro Popeye”).
Nesse cenário –e com uma cena de abertura que Spielberg usa para parodiar de forma hilária o seu “Tubarão” –surge um submarino japonês, capitaneado por um oficial nipônico e outro alemão (Toshiro Mifune e Christopher Lee, participações especialíssimas) que ronda as águas de região e não tardará a causar grandes confusões.
Deliberadamente desprovido da contundência de “M.A.S.H.”, Spielberg optou nesta primeira comédia de sua carreira (um gênero que mesmo anos depois permanece raro em sua filmografia) por uma abordagem amena, essencialmente divertida e sem segundas intenções.
Para público e crítica de então, talvez, tenha sido esse seu erro.

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