terça-feira, 6 de novembro de 2018

Trens Estreitamente Vigiados


Os anos 1960 viram o alvorecer de algumas vertentes cinematográficas muito interessantes, como a nouvelle vague tcheca que, apesar de render várias pérolas e revelar ao mundo talentos notáveis (como Milos Forman) foi fugaz, uma vez que se encerrou em 1968 com a invasão da República Tcheca pela União Soviética.
“Trens Estreitamente Vigiados” é emblemático e exemplar para esse movimento por ter conquistado o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1968 e por abordar o despertar da sexualidade com ternura.
O adolescente Milos (Vaclav Neckar), vindo de uma família de amplo histórico em desventuras na sua Tchecoslováquia natal, se contenta em arrumar um emprego na interiorana estação ferroviária de sua cidade.
Nada muito animador acontece, e ele, junto do chefe da estação Zednicek (Vlatismil Brodsky) –um compenetrado criador de pombos –e o sinaleiro Hubicka (Josef Somr) se concentram no fluxo de trens.
Como ocorre a todo adolescente, porém, as ansiedades da carne ocupam constantemente o pensamento de Milos –no que ele encontra, em Hubicka, um cumplice e incentivador adulto com quem tem bastante compatibilidade.
Hubicka não apenas almeja obter para ele a primeira transa –algo do qual a narrativa se ocupa durante sua maior parte, distraindo o expectador de seu preocupante contexto histórico –tal transa, imaginamos, deve ser a adorável Masha (Jitka Bendová), perfeita candidata a namoradinha de Milos que trabalha como condutora num dos trens.
Após uma fracassada tentativa de intercurso sexual com ela, Milos tenta o suicídio, desgostoso com suas frustrações.
Depois descobrimos que Hubicka é consideravelmente simpatizante dos guerrilheiros que se opõem aos nazistas que ocuparam o país; tais nazistas, quando surgem em cenas, não passam de burocratas resmungões e mal-humorados.
É durante uma das missões clandestinas de Hubicka (à qual ele gaiatamente envolve Milos) que surge a chance para o jovem enfim ter sua primeira experiência sexual com uma mulher madura escolhida como contato para a tarefa.
Muitos desses aspectos organizados pelo diretor Jiri Menzel levam realmente o expectador a abraçar a opção de descontraída comédia dramática que parece contaminar toda a narrativa, o que faz de seu desfecho impiedoso um verdadeiro choque ao público quando o filme por fim alcança seu clímax.
Apesar da simplicidade –ou talvez por conta dela –“Trens Estreitamente Vigiados” é uma justaposição poética de divertidos e, por que não, comoventes momentos da vida normal, emoldurados pela tragédia e pelo perigo das circunstâncias da Segunda Guerra Mundial.

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