Embora hoje a série da HBO seja bem mais
conhecida (e mais bem sucedida), o conceito que a norteia se originou mesmo
neste obscuro suspense de ficção científica realizado nos anos 1970, que
imaginava –com um anacronismo característico das produções do período –um local
onde a alta tecnologia proporcionava uma imersão radical num ambiente
específico.
Num prólogo desnecessariamente longo e talvez
deliberadamente artificial, assistimos à uma propaganda de Delos, um resort que
promete uma aventura sem precedentes: Nele, os visitantes podem escolher por três
mundos distintos, o Mundo Medieval, o Mundo Romano e o Westworld (que simula o
Velho Oeste). Lá, vigiados por um sistema da mais alta tecnologia, os
visitantes podem experimentar a sensação real de se viver por alguns dias a
experiência de se estar naquele período histórico, cercados por robôs avançados
que fazem as vezes de moradores originais daquele mundo –e que replicam com
perfeição as características humanas.
Os amigos John (James Brolin, pai de Josh
Brolin e um dos maridos de Barbra Streisand) e Peter (Richard Benjamin) são
dois desses visitantes. O primeiro é um frequentador assíduo do Westworld, o
segundo, em vias de se divorciar, deseja se divertir junto do amigo.
Pela atuação dos dois atores, pelo carisma de
ambos e até pelos aspectos de seus personagens, somos levados a crer que o
protagonista seja John, no entanto, não é isso que acontece: Quando as
máquinas, sem motivos mais aparentes, começam a dar defeitos e a se voltar
contra os poucos humanos presentes no local (algo que nem é tão aproveitado
assim, talvez, em função do orçamento reduzido), eles começam a ser perseguidos
por um pistoleiro valentão –um androide programado para ser um antagonista
constantemente chato durante a estadia –(interpretado, por sua vez, pelo astro
Yul Brinner, antecipando o quê Arnold Schwarzenegger faria anos depois em “Exterminador do Futuro”), e é John quem não tarda a ser morto e sair de cena, colocando o
errático e hesitante Peter como personagem principal –uma das muitas escolhas
equivocadas de um filme que poderia ter rendido muito mais.
Embora tenha uma premissa promissora e curiosa,
o filme não consegue corresponder à própria expectativa, e esse lapso
possivelmente diz respeito ao fato de Michael Crichton (autor de “Jurassic Park”)
ter insistido em acumular as funções de roteirista e diretor.
No que diz respeito à trama, ele simplifica
demais os elementos que a cercam e a definem –nunca dá uma explicação
satisfatória ao pane que leva às máquinas à rebelião, por exemplo –e termina se
satisfazendo, ao final, com uma perseguição pouco empolgante por corredores
vazios e escuros.
No que diz respeito à condução, ele comete
inúmeros erros de um diretor visivelmente sem experiência, por meio dos quais
deixa seu elenco abandonado sem uma liderança que traga convicção às atuações
(isso se reflete até mesmo no experiente Yul Brinner), desperdiça fatores
funcionais de suspense (o duelo final chega com protagonista e antagonista
destituídos de armas, e portanto, de alguma ameaça um para o outro) e demonstra
uma grande preguiça em oferecer ao expectador maiores informações sobre o
enredo.
De um modo geral, “Westworld” representa mais
uma promessa do que a concretização de um bom filme de fato, embora a fama de
Yul Brinner tenha conseguido resgatar esta obra da obscuridade ao longo das
décadas de 1980 e 90, durante as transposições dos filmes antigos para outras
mídias como o VHS e o DVD.
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