sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Parker


Pode-se presumir um romance entre os astros Jason Statham e Jennifer Lopez neste filme ao observá-los ostensivamente na capa, porém, não é isso que ocorre –e nem combinaria com o sisudo Stataham –e isso é um dos elementos irônicos que o diretor Taylor Hackford parece usar na tentativa de agregar algum diferencial ao filme.
A medida que foi se consolidando como um dos grandes astros de ação e pancadaria dos últimos anos (um tanto mais jovem do que os outros com os quais ombreia, como Stallone e Schwarzenegger), Statham passou a almejar mais qualidade e versatilidade em seus trabalhos; até conseguiu o primeiro (como atestam as presenças de Jennifer e de Hackford, um diretor indicado ao Oscar, neste filme), mas não o segundo –salvo uma coisa ou outra, o filme como um todo não difere da postura e da proposta de filmes como “Carga Explosiva” e “Adrenalina” que fizeram a sua fama.
Com sua expressão impassível e severa de sempre –além de uma desenvoltura prodigiosa nas cenas de luta –Statham é Parker, assaltante especializado em golpes planejados de modo impecável, onde a contagem de vítimas é mínima e os lucros, os maiores possíveis.
Sua atenção aos detalhes soa tão paranoica quanto metódica.
Todavia, uma equipe sugerida por seu quase-sogro (Nick Nolte) acaba por complicar a vida de Parker: Depois de uma série de desleixos quando tentam roubar o caixa de uma feira agropecuária, os cúmplices, liderados pelo traiçoeiro Melander (Michael Chiklis) voltam-se contra Parker, deixando-o alvejado por tiros à beira de uma estrada.
Nesse ponto, em que seu protagonista acuado e procurado pelas autoridades deve valer-se dos parcos recursos a que dispõe para fugir, esconder-se e tramar sua vingança, a narrativa de Hackford chega quase a emular o tom envolvente de “O Fugitivo”, com Harrison Ford, mas a situação-chave do enredo ainda está se construindo.
É estranho como o filme sofre algumas guinadas até que o núcleo principal dos personagens ruma para Miami onde, por fim, tomamos conhecimento de Leslie, personagem a quem Jennifer Lopez empresta uma sensualidade insuspeita e espontânea –ela se comporta quase como uma espécie de ‘Sandra Bullock para marombados’; sua personagem parece não se encaixar muito bem no filme a que pertence, soando, com sua ingenuidade meio forçada, como a protagonista de alguma comédia romântica.
Na verdade, ela é uma agente imobiliária lutando para desvencilhar-se da mediocridade na própria empresa em que trabalha. É aí que aparece Parker, supino como só Jason Statham sabe ser, disfarçado de milionário texano a fim de investigar os planos dos ex-cúmplices que fugiram para lá, e os quais ele deseja dar cabo.
Embora se construa por meio inusitados, o filme de Hackford não escapa nem do óbvio e nem do convencional –absolutamente não existem surpresas em seu enredo e a estrutura de seu roteiro segue tudo o que gênero já fez em outros exemplares; até mesmo o romance inexistente entre Jennifer e Statham parece não ocorrer simplesmente porque os realizadores não sabiam como fazê-lo, tão acostumados que estavam com cenas de pancadaria a ação.
É nesse aspecto, entretanto, que ‘Parker’ se sai muito bem: Se lhe falta sutileza para com a narrativa, sobra-lhe habilidade para torná-la envolvente, ágil e explosiva.

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