quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Cat Ballou - Dívida de Sangue


Mas, que choque deve ter sido “Dívida de Sangue” –ou “Cat Ballou”, seu título original –para as platéias dos anos 1960, que se dividiam entre os que ainda cultivavam o gosto por faroestes tradicionais (um gênero que então minguava) e uma platéia jovem na esteira de transformações que ainda viriam a se consolidar –o próprio faroeste spaghetti ainda não estava por completo disseminado.
“Cat Ballou” corresponde à imagem de questionamento irreverente que se tem quando vemos sua personagem-título vivida por Jane Fonda (de “Barbarella”).
No papel de Cat, ela exibe a descontração, sensualidade e leveza que jamais iríamos esperar de uma habitante real do Velho Oeste. Mas, Fonda tem, em vez de realismo, carisma irreprimível.
Narrada em cantigas de mariachis (e, com efeito, o filme apresenta seus narradores dessa maneira, com violões e tudo!), acompanhamos a jovem Catherine em regresso para a cidade onde nasceu, Wolf City, no Wyoming, desejosa tão somente de ser a professora das crianças do lugar.
O destino, entretanto, tem outros planos para Cat: Ela testemunha seu pai, Frankie Ballou (John Marley), ser morto pelo terrível fora-da-lei Tim Strawn a mando de empresários inescrupulosos que querem lhe tirar o rancho da família. Obrigando-se a deixar de lado a figura de inocente mocinha e salvar o próprio pescoço, Cat se une à um bando de renegados (todos eles personagens de caricata jocosidade) e passa a lidera-los no encalço dos bandidos contra os quais deseja vingança.
É um faroeste nos moldes pré-feministas de “Johnny Guittar”, lançado décadas antes, mas justapõe essa premissa condescendente com comédia e música (!), emulando uma narrativa que não evoca outra coisa a não ser deboche.
Há um sem-fim de entrelinhas, portanto, neste trabalho do diretor Elliot Silverstein, a começar pela curiosa reflexão levantada pelo fato do mesmo ator –o sensacional Lee Marvin que por este feito levou o Oscar –incorporar tanto o protagonista masculino (o cowboy alcoólatra Kid Shelleen, tão bêbado que ao longo do filme é incapaz de andar, de montar e de atirar) como o antagonista (o sórdido pistoleiro Tim Strawn, que ostenta um irreal nariz postiço).

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