Mas, que choque deve ter sido “Dívida de
Sangue” –ou “Cat Ballou”, seu título original –para as platéias dos anos 1960,
que se dividiam entre os que ainda cultivavam o gosto por faroestes
tradicionais (um gênero que então minguava) e uma platéia jovem na esteira de
transformações que ainda viriam a se consolidar –o próprio faroeste spaghetti
ainda não estava por completo disseminado.
“Cat Ballou” corresponde à imagem de
questionamento irreverente que se tem quando vemos sua personagem-título vivida
por Jane Fonda (de “Barbarella”).
No papel de Cat, ela exibe a descontração,
sensualidade e leveza que jamais iríamos esperar de uma habitante real do Velho
Oeste. Mas, Fonda tem, em vez de realismo, carisma irreprimível.
Narrada em cantigas de mariachis (e, com
efeito, o filme apresenta seus narradores dessa maneira, com violões e tudo!),
acompanhamos a jovem Catherine em regresso para a cidade onde nasceu, Wolf City,
no Wyoming, desejosa tão somente de ser a professora das crianças do lugar.
O destino, entretanto, tem outros planos para
Cat: Ela testemunha seu pai, Frankie Ballou (John Marley), ser morto pelo
terrível fora-da-lei Tim Strawn a mando de empresários inescrupulosos que
querem lhe tirar o rancho da família. Obrigando-se a deixar de lado a figura de
inocente mocinha e salvar o próprio pescoço, Cat se une à um bando de renegados
(todos eles personagens de caricata jocosidade) e passa a lidera-los no encalço
dos bandidos contra os quais deseja vingança.
É um faroeste nos moldes pré-feministas de
“Johnny Guittar”, lançado décadas antes, mas justapõe essa premissa
condescendente com comédia e música (!), emulando uma narrativa que não evoca
outra coisa a não ser deboche.
Há um sem-fim de entrelinhas, portanto, neste
trabalho do diretor Elliot Silverstein, a começar pela curiosa reflexão
levantada pelo fato do mesmo ator –o sensacional Lee Marvin que por este feito
levou o Oscar –incorporar tanto o protagonista masculino (o cowboy alcoólatra
Kid Shelleen, tão bêbado que ao longo do filme é incapaz de andar, de montar e
de atirar) como o antagonista (o sórdido pistoleiro Tim Strawn, que ostenta um
irreal nariz postiço).
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