O filme já se inicia com uma incongruência
quando ao exibir seu predominante estilo de falso documentário –o ‘found-footage’
–introduz também créditos iniciais, deixando bem claro que seus personagens são
vividos por atores e que tudo o que vemos é resultado do empenho artístico de
uma equipe de filmagem.
É nesses créditos, por sinal, que descobrimos
que o diretor é Eduardo Sanchez, o mesmo que co-dirigiu o fenômeno “A Bruxa de
Blair”, responsável por introduzir o conceito de ‘found-footage’ no cinema
norte-americano a partir do início dos anos 2000.
“Eles Existem” assim parte do mesmo princípio
para elaborar uma produção em estilo e pormenores muito semelhantes (de novo um
filme de terror que parece tentar simular uma experiência real, e de novo
girando em torno de uma lenda local, desta vez, o monstro conhecido como
Sasquatch, ou Pé-Grande), mas, prejudicado justamente pela ausência de um sopro
de originalidade; grande parte do apelo de “A Bruxa de Blair” vinha do fato de
não sabermos que tudo era um filme –tão convincentes eram as circunstâncias que
em tudo se dava que assistir ao filme se tornava uma experiência aflitiva. Já,
aqui, sabemos desde o início tratar-se de um filme.
Em defesa da obra de Eduardo Sanchez podemos
argumentar que todos os filmes de linguagem convencional –incluso aí grandes
filmes de terror –são vistos na consciência de sua encenação, e isso não
atrapalha a suspensão de crença necessária.
O grupo que a narrativa acompanha num passeio
de fim de semana a uma floresta longínqua é o mesmo grupo de personagens arquétipos
que constitui toda a premissa de terror, como “Evil Dead”, “Cabin Fever”, “O
Segredo da Cabana” ou tantos outros: São vários amigos (cinco, no caso), entre
eles alguns casais (dois, no caso), e sobre eles pouco há para se falar, exceto
que um deles, Brian (Chris Osborn), é entusiasta de filmagens digitais –no começo,
seu papel é o de chato do grupo que aporrinha a todos sua câmera a flagrar cada
gafe.
No entanto, como é previsível, Brian será os
olhos do público quando, ao crescer tenebroso dos perigos que antes
desdenhavam, decidir manter a câmera sempre ligada para registrar cada
desenlace de pavor a medida que o monstro Pé-Grande passar a ronda-los e
acua-los naquela cabana da qual, a partir de um determinado momento, já não
serão mais capazes de sair –seu carro foi destruído, seus celulares não têm
mais sinal, o tio do protagonista que poderia vir para resgatá-los... ops, não
virá mais.
Na auto-consciência narrativa que emula, talvez
involuntariamente, do fato de reconhecer seu falso documentário como um produto
de fato, Eduardo Sanchez emprega nele técnicas narrativas que o aproximam de um
filme normal de terror –e que podem passar despercebidas ao expectador médio –de
repente num lampejo de compreensão, também ele involuntário, de que a época em
que seu trabalho foi inovador já se passou.
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