sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Eles Existem


O filme já se inicia com uma incongruência quando ao exibir seu predominante estilo de falso documentário –o ‘found-footage’ –introduz também créditos iniciais, deixando bem claro que seus personagens são vividos por atores e que tudo o que vemos é resultado do empenho artístico de uma equipe de filmagem.
É nesses créditos, por sinal, que descobrimos que o diretor é Eduardo Sanchez, o mesmo que co-dirigiu o fenômeno “A Bruxa de Blair”, responsável por introduzir o conceito de ‘found-footage’ no cinema norte-americano a partir do início dos anos 2000.
“Eles Existem” assim parte do mesmo princípio para elaborar uma produção em estilo e pormenores muito semelhantes (de novo um filme de terror que parece tentar simular uma experiência real, e de novo girando em torno de uma lenda local, desta vez, o monstro conhecido como Sasquatch, ou Pé-Grande), mas, prejudicado justamente pela ausência de um sopro de originalidade; grande parte do apelo de “A Bruxa de Blair” vinha do fato de não sabermos que tudo era um filme –tão convincentes eram as circunstâncias que em tudo se dava que assistir ao filme se tornava uma experiência aflitiva. Já, aqui, sabemos desde o início tratar-se de um filme.
Em defesa da obra de Eduardo Sanchez podemos argumentar que todos os filmes de linguagem convencional –incluso aí grandes filmes de terror –são vistos na consciência de sua encenação, e isso não atrapalha a suspensão de crença necessária.
O grupo que a narrativa acompanha num passeio de fim de semana a uma floresta longínqua é o mesmo grupo de personagens arquétipos que constitui toda a premissa de terror, como “Evil Dead”, “Cabin Fever”, “O Segredo da Cabana” ou tantos outros: São vários amigos (cinco, no caso), entre eles alguns casais (dois, no caso), e sobre eles pouco há para se falar, exceto que um deles, Brian (Chris Osborn), é entusiasta de filmagens digitais –no começo, seu papel é o de chato do grupo que aporrinha a todos sua câmera a flagrar cada gafe.
No entanto, como é previsível, Brian será os olhos do público quando, ao crescer tenebroso dos perigos que antes desdenhavam, decidir manter a câmera sempre ligada para registrar cada desenlace de pavor a medida que o monstro Pé-Grande passar a ronda-los e acua-los naquela cabana da qual, a partir de um determinado momento, já não serão mais capazes de sair –seu carro foi destruído, seus celulares não têm mais sinal, o tio do protagonista que poderia vir para resgatá-los... ops, não virá mais.
Na auto-consciência narrativa que emula, talvez involuntariamente, do fato de reconhecer seu falso documentário como um produto de fato, Eduardo Sanchez emprega nele técnicas narrativas que o aproximam de um filme normal de terror –e que podem passar despercebidas ao expectador médio –de repente num lampejo de compreensão, também ele involuntário, de que a época em que seu trabalho foi inovador já se passou.

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