O diretor inglês Stephen Frears não resiste à
tentação de registrar um microcosmo em suas camadas humanas, morais e éticas,
essa é a definição para praticamente todos os trabalhos que ele realizou.
Aqui não é diferente.
Ele lança seu olhar a um só tempo divertido e
antropológico aos centros de apostas onde a protagonista cai de paraquedas. Ela
é Beth Raymer, que proporciona à esmerada atriz Rebecca Hall (normalmente encarregada
de papéis mais sérios) uma caracterização rica em técnicas estudadas –ainda que
no fundo transpareça um certo histrionismo.
Da cidade de Tallahassee, onde amargava um degradante
trabalho de stripper à domicílio, Beth vai para Las Vegas tentar a sorte e
consegue emprego na casa de apostas do bookmaker Dink (Bruce Willis, em sua
faceta mais vulnerável). Aos poucos, Beth se adapta aos números e às circunstâncias
melindrosas das apostas fazendo o lugar usufruir de lucros.
Nesse trecho, o filme de Frears engata um ritmo
de comédia... romântica, inclusive, já que o flerte algo inocente entre Beth e
Dink aponta nessa direção.
Porém, o diretor está apenas se valendo de uma
ampla experiência com expedientes de gênero para subverter a expectativa do
público: O demasiado afeto que envolve a relação de Beth com o patrão Dink
incomoda a esposa deste (Catherine Zeta-Jones) levando a moça a ser despedida.
Ao lado do apaixonado Jerry (Joshua Jackson),
ela vai então para Nova York, onde se junta ao apostador Rosie (Vince Vaughn,
com os mesmos tiques nervosos de sempre). Contudo, como bem lhe adverte Dink
–que àquela altura já tornou-se uma espécie de mentor para Beth –as apostas são
ilegais no Estado de Nova York, ao contrário do que acontece em Las Vegas, e
uma aposta específica, envolvendo a vultuosa quantia de 75 mil dólares, pode
colocar o FBI atrás de Beth e de Jerry.
Se “O Dobro Ou Nada” não chega aos níveis de
excelência que Frears obteve em outros projetos, isso provavelmente se deve
pelo fato do material tê-lo encontrado num período menos inspirado: Há algo de
indiferente em sua narrativa que parece negligenciar o humor para fazer dele
uma comédia e a tristeza para fazer dele um drama –ou até mesmo o amor para
dele fazer um romance.
O filme termina sem um gênero definido, o que
também o torna assim enfadonho na indecisão por um propósito –uma pena, o
trabalho bastante radiante e notável de Rebecca Hall merecia o protagonismo de
um filme mais eficaz.
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