segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O Advogado dos 5 Crimes


O tradicional ódio norte-americano contra advogados faz parte da diversão deste noir pós-moderno assinado por Rowdy Herrington (de “Matador de Aluguel”) que imbrica por uma trama intrincada, quase inverossímil, pontuada de sensualidade e reviravoltas às vezes estapafúrdias –e tão hábil ele é nessa condução que faz desses mesmos lapsos a sua graça.
Aproveitando a boa maré trazida por seu Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em “Jerry Maguire”, Cuba Gooding Jr. encara aqui o protagonista Lawson Russell que, na tradição do film noir, conta sua história de ascensão e queda por meio do envolvimento direto com uma espécie de crime.
Advogado de defesa, proeminente na cidade de Nova Orleans justamente por defender réus tão culpados quanto milionários (como o estuprador do começo, vivido por Eric Stolz), Russell é acometido de uma súbita crise de consciência –crise esta que, percebemos, o livra, por pouco, de ser assassinado.
Todavia, ele arca com outras consequências: Perde seu direito de exercer advocacia e, com isso, muda-se para uma cidade litorânea onde afirma, tentará finalizar um livro.
Lá, trabalhando em um barco de aluguel, ele conhece o idoso milionário Marlowe (quando notamos que se trata não de um velho e sim de alguém usando maquiagem de velho, percebemos que ali tem coisa) apresentando-se como viúvo e sem família. Mais ainda: Ele escreveu um livro, “O Assassinato dos Corvos”, que, segundo ele, absolutamente ninguém ficou sabendo; ele entrega o manuscrito original para Russell ler e dar seu aval.
Seu conteúdo reflete a raiva incontida por advogados que Marlowe havia deixado clara em conversas anteriores com Russell: Fala sobre um assassino que parte atrás não dos criminosos, mas dos advogados que os inocentaram de seus crimes,
Após a leitura –e a constatação de que trata-se de uma obra-prima –Russell tenta lhe devolver o livro e, eis que Marlowe faleceu!
Enxergando ali uma oportunidade, Russell publica o livro afirmando ser de sua autoria que torna-se um best-seller. Entretanto, as coisas se complicam quando o livro chega às mãos do detetive Dubose (Tom Berenger) que identifica os cinco crimes relatados na história como sendo reais –as descrições dos crimes, inclusive, são ricas em detalhes sigilosos que somente o próprio assassino poderia saber, colocando Russell em maus lençóis.
Certamente prazeroso de se assistir, não obstante um incômodo aspecto de filme televisivo, este trabalho do diretor Herrington pode ter até uma primeira parte relativamente lenta, mas consegue manter o interesse graças à junção incomum e atraente de sua trama entre questionamentos legais e éticos em contraponto à armadilhas narrativas do mais traiçoeiro suspense.

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