O tradicional ódio norte-americano contra
advogados faz parte da diversão deste noir pós-moderno assinado por Rowdy Herrington
(de “Matador de Aluguel”) que imbrica por uma trama intrincada, quase
inverossímil, pontuada de sensualidade e reviravoltas às vezes estapafúrdias –e
tão hábil ele é nessa condução que faz desses mesmos lapsos a sua graça.
Aproveitando a boa maré trazida por seu Oscar
de Melhor Ator Coadjuvante em “Jerry Maguire”, Cuba Gooding Jr. encara aqui o
protagonista Lawson Russell que, na tradição do film noir, conta sua história
de ascensão e queda por meio do envolvimento direto com uma espécie de crime.
Advogado de defesa, proeminente na cidade de
Nova Orleans justamente por defender réus tão culpados quanto milionários (como
o estuprador do começo, vivido por Eric Stolz), Russell é acometido de uma
súbita crise de consciência –crise esta que, percebemos, o livra, por pouco, de
ser assassinado.
Todavia, ele arca com outras consequências:
Perde seu direito de exercer advocacia e, com isso, muda-se para uma cidade
litorânea onde afirma, tentará finalizar um livro.
Lá, trabalhando em um barco de aluguel, ele
conhece o idoso milionário Marlowe (quando notamos que se trata não de um velho e sim de alguém usando maquiagem de velho, percebemos que ali tem coisa) apresentando-se
como viúvo e sem família. Mais ainda: Ele escreveu um livro, “O Assassinato dos
Corvos”, que, segundo ele, absolutamente ninguém ficou sabendo; ele entrega o
manuscrito original para Russell ler e dar seu aval.
Seu conteúdo reflete a raiva incontida por
advogados que Marlowe havia deixado clara em conversas anteriores com Russell:
Fala sobre um assassino que parte atrás não dos criminosos, mas dos advogados
que os inocentaram de seus crimes,
Após a leitura –e a constatação de que trata-se
de uma obra-prima –Russell tenta lhe devolver o livro e, eis que Marlowe
faleceu!
Enxergando ali uma oportunidade, Russell
publica o livro afirmando ser de sua autoria que torna-se um best-seller. Entretanto,
as coisas se complicam quando o livro chega às mãos do detetive Dubose (Tom
Berenger) que identifica os cinco crimes relatados na história como sendo reais
–as descrições dos crimes, inclusive, são ricas em detalhes sigilosos que
somente o próprio assassino poderia saber, colocando Russell em maus lençóis.
Certamente prazeroso de se assistir, não
obstante um incômodo aspecto de filme televisivo, este trabalho do diretor
Herrington pode ter até uma primeira parte relativamente lenta, mas consegue
manter o interesse graças à junção incomum e atraente de sua trama entre
questionamentos legais e éticos em contraponto à armadilhas narrativas do mais
traiçoeiro suspense.
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