segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Quatro Amigas e Um Jeans Viajante


A narrativa do filme de Ken Kwapis é tão adocicada e feminina quanto o livro de Ann Brashares que lhe inspirou. Na esteira das adaptações recentes de best-sellers recentes, o filme por vezes abre mão da própria autenticidade para transpor o máximo possível das circunstâncias literárias da trama para a tela –uma fidelidade canina que o torna um filem pequeno e asséptico.
Todavia, se a simpatia e a profunda identificação com seu público alvo eram os méritos do livro, eles continuam a ser do filme também.
Nascidas praticamente no mesmo período, cujas mães frequentaram o mesmo curso aeróbico de pré-natal, as quatro jovens protagonistas não podiam ser mais diversificadas entre si: A loira e impetuosa Bridget (Blake Lively); a niilista e questionadora Tibby (Amber Tamblyn, de “O Chamado” e “127 Horas”), que é também narradora do filme; a sonhadora e tímida Lena (Alexis Bledel, de “Sin City” e da série “Gilmore Girls”); e a descendente de porto-riquenhos Carmen (America Ferrera, da série “Ugly Betty”).
A premissa, contudo, não gira em torno de sua união, mas de um ocasional afastamento: Durante as férias de verão, Lena vai visitar familiares na Grécia; Bridget parte para um torneio de futebol no ensolarado México; Carmen vai passar algum tempo com o pai (Bradley Whitford, de “Corra!”), divorciado da mãe (Rachel Ticotin, de “O Vingador do Futuro”), na cidadezinha de Charleston; e Tibby, que ficou em casa, decide dividir seu tempo entre um enfadonho trabalho no supermercado e o projeto de um documentário que ela parece incapaz de concluir.
E o que as amigas inventam para encontrar um meio de ficar sempre próximas, mesmo indo para lugares e destinos tão diferentes?
Uma calça jeans, encontrada num brechó lhes dá, digamos, a dica: Apesar de seus tamanhos e alturas diferentes, o jeans serve em todas elas, algo que as quatro jovens interpretam como um sinal mágico (!), e assim firmam um pacto, por meio do qual, graças à eficiência dos correios, irão revezar o jeans nos quatro lugares em que se encontram.
Embevecida de fofura adolescente, a narrativa habilmente faz com que as intervenções do jeans sejam, de fato, pertinentes à trama de cada uma: Lena descobre usando-o que o jovem (Michael Rady) por quem eventualmente se enamorou na Grécia vem a ser –no melhor estilo “Romeu e Julieta” –membro de uma família inimiga da sua; para Bridget, o jeans chega no exato momento em que precisa reunir coragem para prosseguir em seu flerte com o treinador de um dos times (Mike Vogel, de “Cloverfield-Monstro”); já Carmem, que descobriu que seu pai tem uma nova esposa (Nancy Travis), uma nova família e está de casamento marcado para breve, acaba usando da segurança proporcionada pelo jeans para assumir o ressentimento contido da situação; e Tibby, justamente por um pequeno equívoco na entrega postal do jeans acaba conhecendo Bayley (Jenna Boyd), uma jovem radiante, mas com um trágico segredo, que irá operar uma mudança na sua vida e na sua forma de encará-la.
Pertinente ao tratar temas corriqueiros nos chamados ‘filmes de adolescentes’ com mais profundidade e maturidade que o normal nesse sub-gênero, este bom trabalho –preciso e eficaz ao público que se dirige –se sustenta, sobretudo, no carisma e na habilidade de seu fantástico quarteto de atrizes que exploram as variações de seus dramas pessoais, seja em conjunto, seja individualmente, com desenvoltura, graça e encanto.

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