quinta-feira, 2 de março de 2017

Sin City - A Cidade do Pecado

Por incrível que possa parecer, em 2005, ainda não se tinha aquela proliferação de adaptações de histórias em quadrinhos que vemos no circuito comercial de cinema atual –claro, haviam os filme do Batman (no caso, “Batman Begins”, primeiro filme da aclamada trilogia de Christopher Nolan, foi lançado naquele ano), haviam os filmes do Homem-Aranha (a primeira trilogia, de Sam Raimi, estava no segundo exemplar) e haviam os filmes dos X-Men (o terceiro, ainda com o elenco original e antes da reformulação em “Primeira Classe”, sairia só no ano seguinte), além de uma ou outra adaptação.
Ou seja, em 2005, além de não terem se consolidado como uma tendência do mercado, as adaptações de HQ, ainda tateavam em busca da linguagem ideal por meio da qual as narrativas da nona arte seriam transpostas para a sétima.
Êxito já tinha sido obtido, certamente, mas muita coisa ainda estaria por vir –a Marvel Studios só lançaria “Homem de Ferro” e iniciaria a construção de sua supremacia em 2008.
Nesse sentido –no de explorar possibilidades oferecidas nos quadrinhos que ampliassem a experiência cinematográfica em si –uma das mais notáveis produções a surgir em 2005 foi, sem sombra de dúvidas, “Sin City-A Cidade do Pecado”, de Robert Rodrigues e Frank Miller.
E não foi para menos...
A idéia no projeto de Rodrigues era adaptar três histórias extraídas da graphic-novel em preto e branco escrita e ilustrada por Frank Miller, uma coletânea de histórias de crime ao estilo pulp e noir, e que a despeito de serem quadrinhos, ignoravam os super-heróis.
Rodrigues foi ambicioso: Sua intenção era moldar uma adaptação absolutamente fiel em termos visuais e narrativos, capturando a opção estética das páginas (cujos desenhos apresentam um emprego ímpar do “chiaroscuro”). Era uma intenção de tal maneira definitiva que sequer há créditos, no filme, de montagem e direção de fotografia –em lugar disso, aparece nos créditos iniciais apenas “filmado e montado por Robert Rogrigues”.
Na primeira história, "Cidade do Pecado", o bruta-montes Marv (Mickey Rourke, fabuloso) jura vingança aos assassinos da única mulher na vida que teve coragem de fazer amor com ele, a enigmática garota de programa Goldie (a estonteante Jamie King).
Em seus percalços em busca dessa vingança –e de um mínimo de significado para o assassinato de Goldie –ele se depara com uma conspiração que envolve os políticos graúdos de Basin City, assim como um de seus mais respeitados sacerdotes e um jovem e estranho canibal. Isso tudo enquanto luta com os fantasmas ilusórios (e enganadores) de sua própria esquizofrenia.
Na segunda, "A Grande Matança", um mal-entendido protagonizado pelo foragido Dwight (Clive Owen), pela prostituta Gale (Rosário Dawson, vulcânica) e pela pequena ninja Miho (a ágil e surpreendente Devon Aoki) pode por em risco uma trégua milenar mantida entre os policiais e os moradores de um bairro chamado Cidade Velha.
Na terceira, "O Assassino Amarelo", acompanhamos o policial Hartigan (Bruce Willis, num papel perfeito para ele) que sacrifica sua vida, sua carreira e seu casamento para proteger a garotinha Nancy de um perverso assassino e maníaco sexual (Nick Stahl, fantástico) cujo fato de ser filho de um senador o torna blindado aos olhos da lei. Após tentar praticar justiça com as próprias mãos –e de amargar quinze anos na cadeia por isso –Hartigan deve encontrar Nancy (agora vivida pela bela Jéssica Alba) e salvá-la das garras desse psicopata.
Assim sendo, com essas três emblemáticas premissas (nada menos do que três contos extraídos da graphic-novel e escolhidos a dedo), Rodrigues concebeu essa transposição literal (em tom, enquadramento de câmera, e paleta de cores) do sensacional e inovador trabalho do quadrinista Frank Miller, que à propósito foi convidado a dividir com Rodrigues o crédito de direção: Mais uma prova do objetivo estóico de Rodrigues em manter-se completamente fiel à fonte de inspiração, uma postura em geral ignorada por outros realizadores.

Em tempo: Melhor amigo de Quentin Tarantino, Robert Rodrigues convidou-o para dirigir uma única cena do filme; trata-se da tensa, dúbia e surreal conversa banhada por luzes estroboscópicas entre Clive Owen e o personagem de Benicio Del Toro dentro de um carro em movimento.

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