Continuação direta de "O Baú da
Morte".
O terceiro filme de “Piratas do Caribe” herdava
uma sucessão de exageros que foram escalando no segundo –e que ainda afetam os
filmes novos: A cada novo filme, o diretor Gore Verbinski abandonava a
atmosfera ligeiramente lúdica do primeiro, em prol de um turbilhão suntuoso e
extravagante de efeitos visuais de ponta justificados com insistência pedante
no roteiro. Não são elementos ruins, mas apenas aspectos que expõem o quanto
uma história sofre ao ser ampliada além de sua necessidade.
O fato do primeiro “Piratas do Caribe” ter sido
tão bem sucedido, de sua mistura entre humor, aventura e filme de pirata ter
encontrado um filão comercial a ser explorado e, principalmente, do personagem
Jack Sparrow ter caído nas graças do público, tornava quase obrigatório a
realização de não uma, mas duas continuações (como se pôde constatar).
Os próprios roteiristas, Ted Elliot e Terry
Rossio, admitiram que conceberam o primeiro filme para ser uma história
fechada, com começo, meio e fim. A idéia de dar continuidade aos arcos
narrativos dos personagens, estendê-los e, no processo, buscar aprofundar o que
seria possível aprofundar (e tatear assim as bases para uma franquia duradoura
de filmes) veio certamente depois, e alguns problemas inerentes a este detalhe
chegam neste terceiro filme.
Já se registra certo cansaço na direção de Gore
Verbinski (que pegou várias dicas de Peter Jackson, familiarizado com filmagens
extensas de filmes gigantescos e interligados narrativamente, vide “O Senhor
dos Anéis”), inclusive certo descontrole em suas escolhas que, entre outras coisas,
levam este longa metragem a atingir a duração de três horas!
O quê começou como um entretenimento
despretensioso e enxuto, foi ganhando características cada vez mais megalomaníacas.
De qualquer forma, ainda há como relevar toda essa
gordura e se divertir com a trama que tem início logo após a estranha
"morte" de Jack Sparrow (Johnny Depp que pira sozinho durante todo o
primeiro terço de filme) ocorrida no clímax do filme anterior.
Will Turner e Elizabeth Swann (Orlando Bloom e Keira
Knightley, ambos visivelmente desgastados) precisando resgatá-lo de uma espécie
de limbo ao qual foi enviado e, para tanto, vão até Cingapura onde encontrarão
o pirata Sao Feng (a requintada e aguardada presença de Chow Yun Fat,
infelizmente breve demais), que lhes proporcionará meios de singrar essa
viagem, capitaneados pelo ressuscitado capitão Barbosa (Geoffrey Rush, uma
sentida ausência no filme anterior e que trava embates divertidíssimos com o
personagem de Depp).
Há um motivo especialmente urgente para trazer
Jack de volta: Os piratas estão sendo aniquilados pela união das forças do
perverso Lord Cuttler Beckett (Tom Hollander, nada interessante) com o
monstruoso Davy Jones (Bill Nigh, esse sim, bem legal!). Só a união dos Nove
Lordes Piratas terá poder para pará-los, e Jack Sparrow é um deles!
Tantos personagens, tramas e sub-tramas
(algumas francamente bastante desinteressantes) com o imperativo de serem
encerradas a contendo neste capítulo final da primeira trilogia (pois, outros
filmes se seguiram) afetam bastante o ritmo que Gore Verbinski impõe.
Tudo resulta cansativo, embora ainda sim seja
um feito notável em vista da catástrofe que poderia ter sido: Pode-se perceber
o pesadelo que foi organizar a logística de uma superprodução como esta só
tentando acompanhar, como mero expectador leigo, a profusão alucinante e
vertiginosa de detalhes que envolvem apenas a apoteótica batalha final, onde
dois navios, ocupados pelos protagonistas, se atracam em alto-mar.
Depois deste trabalho, não
só Verbinski abandonou a franquia, e outro cineasta entrou em seu lugar –foi Rob
Marshall, de “Chicago” e “Memórias de Uma Gueixa” –como também foram
aposentados os personagens de Keira Knightley e Orlando Bloom (e eles estavam
mesmo ficando insuportáveis!). Os produtores resolveram ficar somente com o quê
funcionava: O espírito irresistível e farsesco das aventuras de capa &
espada, e o personagem deliciosamente dúbio e debochado de Johnny Depp, o capitão
Jack Sparrow.
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