quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A História de Xinghua

Lançado em 1993, este trabalho, hoje bastante desconhecido do público (e, por isso mesmo, difícil de se encontrar), logo incluiu o diretor Yin Li entre os notáveis realizadores da nova geração de cineastas chineses de então que integrava os consagrados Zhang Ymou (“Lanternas Vermelhas”) e Chen Caige (“Adeus, Minha Concubina”). O tempo revelou o pouco fôlego do trabalho de Li em se manter perene, sobretudo, na comparação com aqueles brilhantes antecessores, mas não há como negar que ele realizou uma obra delicada, caprichada em sua dramaturgia singela e seu visual modesto, porém, acertado.
Diria-se que foi –guardados seus prós e contras –uma obra promissora.
A personagem-título, Xinghua (Jiang Wenli), assim como seu malandro esposo (Zhang Guoli) são moradores do nordeste da China, onde províncias pequenas e paupérrimos vilarejos vivem ao largo da Grande Muralha da China.
Vivendo praticamente em meio à ruínas que passam despercebidas da imensa construção pela qual seu país é conhecido, essas pessoas precisam se virar das maneiras mais precárias que permite a natureza do cinema neo-realista: O marido de Xinghua extrai pedras da Grande Muralha para vender.
Com o tempo, sua ocupação progride para uma escavação clandestina na busca por um possível tesouro escondido embaixo de uma das torres de observação.
Paralelo a isso, Xinghua busca engravidar como toda boa esposa que queira se mostrar honrada à família (de quem foi comprada) e ao marido. No entanto, Xinghua logo se dá conta da esterilidade dele.
O filme de Yin Li mostra assim, os dois protagonistas em busca de uma ilusão que se traveste muito bem de realidade: Para Xinghua, engravidar, deveras, não lhe soa impossível, embora ela não consiga fazê-lo; assim, como para seu marido, a almejada fortuna parece estar sempre ali, no local em que ainda não escavou, mas que está prestes a escavar.
A mulher, ao menos, parece compreender e se adaptar à realidade nua e crua de uma forma que o homem, sonhador, não é capaz de fazer: Xinghua se envolve com um homem de discurso idealista que a engravida de fato –todavia, o idealismo vira covardia e conformismo quando confrontado com a chance de arcar com suas responsabilidades.
Uma alegoria algo simpática e demasiado evidente das transformações políticas e sociais da China, o filme de Yin Li é um esforço válido no registro artístico que intenciona, seu maior problema é nem tanto a comparação desfavorável com obras tão aclamadas que surgiram nesse mesmo período, mas uma aparente consciência do próprio diretor do alcance artístico, técnico e estético muito mais amplo dessas mesmas obras, o que leva seu filme e sua narrativa a se ressentir dessa redundância em muitos de seus momentos.

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