Lançado em 1993, este trabalho, hoje bastante
desconhecido do público (e, por isso mesmo, difícil de se encontrar), logo
incluiu o diretor Yin Li entre os notáveis realizadores da nova geração de
cineastas chineses de então que integrava os consagrados Zhang Ymou (“Lanternas Vermelhas”) e Chen Caige (“Adeus, Minha Concubina”). O tempo revelou o pouco
fôlego do trabalho de Li em se manter perene, sobretudo, na comparação com
aqueles brilhantes antecessores, mas não há como negar que ele realizou uma
obra delicada, caprichada em sua dramaturgia singela e seu visual modesto,
porém, acertado.
Diria-se que foi –guardados seus prós e contras
–uma obra promissora.
A personagem-título, Xinghua (Jiang Wenli),
assim como seu malandro esposo (Zhang Guoli) são moradores do nordeste da
China, onde províncias pequenas e paupérrimos vilarejos vivem ao largo da
Grande Muralha da China.
Vivendo praticamente em meio à ruínas que
passam despercebidas da imensa construção pela qual seu país é conhecido, essas
pessoas precisam se virar das maneiras mais precárias que permite a natureza do
cinema neo-realista: O marido de Xinghua extrai pedras da Grande Muralha para
vender.
Com o tempo, sua ocupação progride para uma escavação
clandestina na busca por um possível tesouro escondido embaixo de uma das
torres de observação.
Paralelo a isso, Xinghua busca engravidar como
toda boa esposa que queira se mostrar honrada à família (de quem foi comprada)
e ao marido. No entanto, Xinghua logo se dá conta da esterilidade dele.
O filme de Yin Li mostra assim, os dois
protagonistas em busca de uma ilusão que se traveste muito bem de realidade:
Para Xinghua, engravidar, deveras, não lhe soa impossível, embora ela não
consiga fazê-lo; assim, como para seu marido, a almejada fortuna parece estar
sempre ali, no local em que ainda não escavou, mas que está prestes a escavar.
A mulher, ao menos, parece compreender e se
adaptar à realidade nua e crua de uma forma que o homem, sonhador, não é capaz
de fazer: Xinghua se envolve com um homem de discurso idealista que a engravida
de fato –todavia, o idealismo vira covardia e conformismo quando confrontado
com a chance de arcar com suas responsabilidades.
Uma alegoria algo simpática
e demasiado evidente das transformações políticas e sociais da China, o filme
de Yin Li é um esforço válido no registro artístico que intenciona, seu maior
problema é nem tanto a comparação desfavorável com obras tão aclamadas que
surgiram nesse mesmo período, mas uma aparente consciência do próprio diretor
do alcance artístico, técnico e estético muito mais amplo dessas mesmas obras,
o que leva seu filme e sua narrativa a se ressentir dessa redundância em muitos
de seus momentos.
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