terça-feira, 12 de março de 2019

A Garota Na Teia de Aranha

Fenômeno literário, a “Trilogia Millennium” escrita pelo falecido Stieg Larsson revolucionou o gênero policial investigativo e introduziu a contundente personagem da hacker Lisbeth Salander no imaginário popular e nas listas de protagonistas mais antológicas.
Da própria Suécia natal veio a primeira adaptação em forma de minissérie (estrelada pela ótima Noomi Rapace) que mais tarde, sob uma nova edição, foi lançada nos cinemas no formato esperado de trilogia: “Os Homens Que Não Amavam As Mulheres”; “A Menina Que Brincava Com Fogo”; e “A Rainha do Castelo de Ar”.
Na inevitável versão hollywoodiana (dirigida com a habilidade de sempre por David Fincher), quem viveu Lisbeth (e ainda levou uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz) foi Rooney Mara.
Todavia, no que tange à literatura, o sucesso de “Millennium” não podia parar simplesmente pelo falecimento de seu autor (!), e assim, foi encomendado ao escritor David Langercrantz que prosseguisse com a história de Lisbeth Salander, emulando o estilo de Larsson e dando continuidade ao interesse crescente dos fãs.
Com o sucesso relativamente tímido da versão de Fincher –que embora excelente exigiu um orçamento considerável do estúdio –a Sony Pictures decidiu por seguir em frente adaptando diretamente o livro inédito, deixando de lado o segundo e o terceiro (embora, nesta produção a trama de ambos continue valendo para a história), e optando por um novo diretor (o jovem Fede Alvarez, que fez bonito no remake de “Evil Dead” e em “O Homem Nas Trevas”), e um novo elenco.
O prólogo já dá uma perfeita ideia do que se esperar de “ Garota na Teia de Aranha”: Uma Lisbeth Salander (a talentosa Claire Foy) com ares de justiceira usa de seus recursos e sua mente estratégica para dar o devido troco a um marido violento para com a esposa. O problema não é, de modo algum, a cena que se segue (uma forma de introduzir Lisbeth como uma protagonista já definida e definitiva, o que ela é de fato), mas o que dela resulta; mais bem editada no trailer do que no filme, a cena revela de imediato o acerco visual do diretor Fede Alvarez e expõe também o seu equívoco no tom e no ritmo ao tratar o material.
É exatamente esse o lapso que afligirá o filme que vem logo depois.
Há três anos sem estabelecer contato com Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason), a arredia Lisbeth assume casos desafiadores para qualquer especialista em internet. Um deles lhe chama a atenção: Um gênio projetista (Stephen Merchant, de “Logan”) deseja que ela invada a protegida rede da CIA e roube um programa que ele arrependeu-se de criar –um algoritmo capaz de acessar num único clique todas as ogivas nucleares do mundo (!).
Depois do serviço feito, a complicação de Lisbeth se revela de fato. Ela tem seu apartamento invadido. Quase morre, e o precioso algoritmo lhe é roubado. Seu cliente pensa que o responsável foi ela –que possivelmente quis guarda-lo para si –e procura pelos agentes suecos de Inteligência. Para complicar ainda mais, os EUA despacham o agente Needhan (Lakeith Stanfield, de “Corra”) para reaver o algoritmo.
No entanto, o grande problema está na real identidade e nas motivações dos verdadeiros culpados: Um grupo terrorista denominado “Aranhas” cujo líder é ninguém menos que a vingativa irmã de Lisbeth, Camilla (Sylvia Hoeks, de “Blade Runner 2049”), cujo desejo de destruir a vida da própria irmã se revela implacável.
Embora o filme se ampare nos intrincados e bem elaborados artifícios que sedimentam o estilo notável e palpitante dos livros, o trabalho do diretor Alvarez, ainda que consiga se impor à medida que a trama avança, perde em comparação com as mais bem orquestradas e bem resolvidas adaptações anteriores (seja a sueca ou a americana) que pareceram compreender melhor os empuxos da trama e da protagonista.
Com efeito, é lamentável que Claire Foy seja uma Lisbeth Salander tão brilhante e empática: Uma presença magnífica que tem a infelicidade de estrelar a obra mais fraca a adaptar “Millennium” até então.

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