Datado de 1983, o filme de Manoel Paiva (e
fotografado por Carlos Reichenbach) é acometido de todas as tendências e inevitabilidades
artísticas que regiam o cinema nacional de então, definido por circunstâncias
precárias e maltratado pela crítica especializada. Seu elenco se amparava em
presenças de destaque em novelas televisivas, como a exuberante Claudia
Alencar, um símbolo sexual por conta de sua personagem na novela “Roda de Fogo”.
Numa alternância que fazia o gosto do público da época, essas atrizes (e alguns
atores, por que não) obtinham reconhecimento e visibilidade na TV para
proporcionar aos fãs cenas de sexo e nudez nas pornochanchadas do cinema.
Ainda que “Doce Delírio” não seja exatamente
uma pornochanchada com sua variação de drama romântico (e suspense) –algo nele
se aproxima daquela abordagem intimista e feminina (e, no fim das contas,
embustida) que fez tanto sucesso em “Bete Balanço” devido ao seu estreito
diálogo com a juventude da época.
Razão primordial para uma conferida no filme, a
deliciosa Claudia Alencar interpreta Eva, uma modelo fotográfica na esteira de
neuroses comuns aos relacionamentos, entre brigas e reconciliações (mais brigas
do que reconciliações) com seu namorado fotógrafo Cacá (Eduardo Tornaghi, da
novela “A Gata Comeu”), a maior parte delas deflagradas depois que ela se vê
obrigada a fazer um aborto.
Na sua busca por felicidade, Eva procura por
outros parceiros na noite, tendo um encontro com um rapaz egocêntrico e arrogante
(Paulo Cesar Grande) e um breve caso com um artista entusiasta de esquerda
(Jonas Bloch).
Intercalando a trajetória de Eva está, com
menos expressão, a da mãe dela, Júlia (Barbara Fazio) cuja rejeição velada do
próprio marido (Mauro Mendonça) a leva também a encontrar um amante na noite
paulista –Júlia, entretanto, não sabe lidar com seu novo lado livre, libertino
e sensual, e num surto, mata o rapaz com quem dormiu (!), terminando internada
numa clínica psiquiátrica.
É um olhar basicamente voltado para a angústia
existencial dessas duas protagonistas femininas, em sua busca por uma identidade
e uma autonomia emocional, culminando (para propósitos metafóricos, quem sabe)
numa descabida cena (ainda que bastante sensual) em que Eva se besunta em mel
para então se masturbar (!).
O desfecho revela que Eva voltou com o
arrependido Cacá, e que Júlia saiu da clínica para voltar a cuidar do marido –as
mulheres estão mais confiantes; mas, os homens, no viés machista da época,
ainda que abalados, não tiveram qualquer prejuízo pela problemática que suas
atitudes acarretaram, preservando o direito de serem imaturos e insensíveis
como antes.
Ao fim, “Doce Delírio” talvez faça uma alusão
dos relacionamentos modernos ao próprio ato sexual, que passa por tentativas
imperfeitas, pelo frenesi e pelo auge do êxtase, para então minguar, trazer a
realidade de volta à relação –e então recomeçar tudo de novo.
Pensando bem, risca isso: É
reflexão demais para um filme tão insípido e descolado.
Aquela cena de nudez do Paulo César Grande vale o filme inteiro,imaginem aquilo tudo numa tela grande?
ResponderExcluirAquela cena de nudez do Paulo César Grande vale o filme inteiro,imaginem aquilo tudo numa tela grande?
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