Desde seus créditos iniciais, a intenção do
filme de Elio Petri (de “A Classe Operária Vai Ao Paraíso”) é a de
desconcertar: Imagens imprevisivelmente desestabilizadoras se alternam com
telas de cores primárias e efeitos estroboscópios lisérgicos ao som de uma
trilha sonora estranha e digressiva.
Lá no fundo, “Um Lugar Tranquilo No Campo” quer
incorporar a concepção de realidade de seu próprio protagonista, o pouco
realista artista de vanguarda vivido por Franco Nero.
Como ele, o filme de Petri subestima a
realidade e dela tenta escapar a todo o momento –para infortúnio de seu
personagem principal.
Leonardo (personagem de Nero cuja alcunha já
faz uma relação algo pedante com Leonardo Da Vinci) é um pintor assolado por
todas as peculiaridades do artista manhoso: Desde o sonho ambíguo e sexualmente
repressor que inicia o filme até a realidade desperta onde ele segue cheio de
suspeitas a agente literária e também namorada, Flavia (a belíssima Vanessa
Redgrave, que casou-se na vida real com Nero), Leonardo se vê atormentado pela
paranoia.
Produzir arte, para ele, significa livrar-se
das inconveniências sociais e afastar-se de todos; daí o enorme interesse que
uma casa de campo afastada na Itália lhe desperta.
Sob os protestos de Flavia, ele vai para lá,
onde passa a dedicar-se às suas pinturas, entretanto, estranhas ocorrências não
lhe escapam à atenção –ocorrências que tornam-se estranhamente mais violentas
todas as vezes em que Flavia vem visita-lo (móveis parece cair sozinhos sobre
ela, e bizarros acidentes fazem parecer que a própria casa a hostiliza!).
Logo, Leonardo descobre que o lugar foi palco
de atrozes acontecimentos na época da Segunda Guerra, e que o fantasma de uma
jovem trajada de vestido vermelho –o qual ele próprio já presenciou em algumas
ocasiões –ronda por aqueles corredores, apresentando o mesmo comportamento da
jovem quando era viva: Insinuante para com os homens; competitiva para com as
mulheres.
Em momento algum o filme de
Elio Petri se acomoda no convencionalismo sugerido nessa sinopse típica de casa
mal-assombrada. Seu filme visita e revisita constantemente o interior artístico
e efervescente do protagonista dando corpo a cenas que nem sempre somos capazes
de distinguir entre um lampejo de imaginação, uma memória dilacerante ou um
acaso sobrenatural. Essa opção autoral drena do filme uma identificação
protagonista/expectador que normalmente um filme de terror nos moldes
convencionais teria (o público não se relaciona por completo com Leonardo
devido às suas esquisitices e, com efeito, importasse muito pouco com o fato
dele estar numa casa assediada por fantasmas), no entanto, enche seu trabalho
de curiosidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário