Numa de suas primeiras obras, o mestre Akira
Kurosawa imerge de tal forma na cultura e na percepção japonesa que a narrativa
deste trabalho soa quase inacessível a muitos expectadores ocidentais –uma
observação e tanto para se fazer a um realizador acusado, em seu próprio Japão
natal, de ser ocidentalizado.
É possível notar já em “Os Homens Que Pisaram
Na Cauda do Tigre”, a atenção de Kurosawa a detalhes que viriam a compor um
estilo singular como o movimento sincronizado (e carregado de diversos
propósitos) de vários corpos em cena.
Imerso na dialética característica da poesia
japonesa, Kurosawa narra um conto sobre um general e seus soldados que, no ano
de 1185, tentam atravessar um entreposto florestal em pleno território inimigo
disfarçados de monges.
No percurso, eles encontram um humilde camponês
que por diversas razões e propósitos decidem levar consigo; o filme enxutíssimo
que se segue (meros cinquenta e oito minutos de duração, quase um
média-metragem ao invés de um longa) acompanha assim as tensões inerentes à
circunstâncias dos disfarçados; assim como as dinâmicas de empatia e
contradição que se formam entre personagens norteados por honra e ideologia.
Oriunda de uma peça tradicional do teatro Nô e
Kabuki, a premissa que Kurosawa trabalha, como tal, assimila assim as
linguagens de sua mídia original, convertendo sua condução cinematográfica, no
desfecho, em uma elegia contemplativa de versos que inspecionam a angústia
errante de seus personagens.
Em meio às notas de
grandeza impar que Akira Kurosawa alcançaria em sua carreira, este singelo
conto de perseguição e aventura assume-se como um acorde dissonante e tímido,
naturalmente vindo de uma fase inicial de aprendizagem –para tanto, o próprio
Kurosawa revisitou a mesma trama, sob diferentes ângulos, no extraordinário “A
Fortaleza Escondida”, mas essa... é uma outra história.
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