Dono do redundante título “O Mafioso” aqui no
Brasil, este é o melhor trabalho até então do roteirista e diretor Jonathan
Hensleigh que já havia até assinado uma das várias tentativas de adaptar o
anti-herói “O Justiceiro” da Marvel (aquela estrelada por Thomas Jane).
As diferenças qualitativas abissais entre as
duas obras denunciam ou o espetacular salto de refinamento e sofisticação
executado por Hensleigh aqui, ou as consequências para lá de positivas de
quando bons artesãos têm liberdade criativa e não sofrem interferência dos
estúdios em seus projetos.
“Kill The Irishman” começa em 1975, não no
princípio de sua trama baseada em fatos reais, mas justamente num dos momentos
mais inacreditáveis da história de seu protagonista Danny Greene (Ray Stevenson
que, por sua vez, estrelou outra tentativa de adaptação do Justiceiro, “Em Zona
de Guerra”): Quando ele escapa (por um triz!) da explosão de uma bomba plantada
dentro de seu carro!
É dessa dicotomia –a de que por mais
inacreditável que seja, de fato aconteceu –que se alimenta o filme; a partir
dali ele retrocede quinze anos. Descendente de irlandeses (e entusiasmado
proclamador disso), o grandalhão Danny Greene sempre foi um humilde proletário
de Cleveland, cuja instrução que o destacava vinha de sua natureza autodidata.
Trabalhando desde jovem nas docas portuárias,
ele conviveu cedo com as máfias locais –a começar pelos corruptos líderes
sindicais (representados no personagem de Bob Gunton, de “Um Sonho de Liberdade”).
É aí que Greene adentra esse mundo: Buscando
eleger-se Presidente do Sindicato para defender adequadamente os direitos de
seus companheiros.
Já nesse cargo, Greene conhece o mafioso John
Nardi (Vincent D’Onofrio) de quem se torna amigo. Ao lado dele, Greene passa a
galgar alguns degraus da máfia de Cleveland, sobretudo, depois que é preso por
pagamentos de propina e liberado sem denunciar nomes.
Ele passa a atuar como cobrador para o agiota
Shondor (Christopher Walken), e mais tarde começa a alimentar esperanças de ser
um empresário honesto.
Entretanto, o empréstimo milionário pedido a um
gangster siciliano (Paul Sorvino) é extraviado por um entregador drogado –o que
não impede Greene de contrair a dívida que, ao recusar-se a pagar, o transforma
no inimigo n° 1 da máfia de Cleveland.
As infindáveis tentativas frustradas de
mata-lo, parecem cenas extraídas da ficção tal é o grau de improbabilidade com
o qual Greene consegue escapar delas.
Sua história é narrada pelo policial Joe
Manditski (Val Kilmer) que testemunhou a maior parte desses acontecimentos e
relutou em aproximar-se de Greene, de quem terminou se tornando amigo.
Ágil do início ao fim –num
estilo que referencia sem a menor dúvida o trabalho de Martin Scorsese em “Os Bons Companheiros” –este magnífico trabalho se ampara no talento fulgurante da
montanha de carisma chamada Ray Stevenson; ele consegue fazer justiça a um
personagem realmente de facetas complicadas para qualquer ator; Greene era
grande e truculento, mas também astuto e inteligente; era violento, mas não raro
cortês e cativante; era corrupto e corruptível, mas inquestionavelmente
empático. O seu sucesso em incorporar cada uma dessas nuances é o que garante a
diversão deste filmaço.
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