sexta-feira, 29 de março de 2019

Uma Noite de Aventuras

Após demonstrar ótimo tino comercial com os excelentes roteiros de “Os Goonies” e “Gremlins”, Chris Columbus teve, em 1987, a oportunidade de estrear como diretor neste “Uma Noite de Aventuras” que, se não é um clássico inabalável do período, conserva hoje intactos sua diversão, seu ritmo e sua empatia com o expectador –e muito disso se deve pela presença inebriante e encantadora da pra lá de carismática Elisabeth Shue no papel da jovem babá Chris.
No descontraído início do filme, ao som da contagiante “Then He Kissed Me”, dos “The Crystals”, Chris dança exaltada com a iminente noite ao lado do namorado, o displicente Mike (Bradley Whitford, que aparece já bem envelhecido em “Corra!”).
Contudo, uma desculpa esfarrapada dele frustra os planos da jovem que se vê então disponível para atender os apelos de um casal amigo da família: Eles, que irão a uma festa no centro da cidade, precisam de uma babá que cuida de seus dois filhos, o adolescente Brad (Keith Coogan), que é apaixonado por Chris, e a garotinha Sara (Maia Brewton), aficionada pelo herói da Marvel, “Thor”; tenha isso em mente na hora de conferir a ótima participação especial de Vincent D'Onofrio.
Parecia uma noite tranquila e normal, porém, numa habilidade para converter o banal em extraordinário característica de John Hugues (não à toa, o próprio Columbus veio a dirigir “Esqueceram de Mim”, produzido por ele), o roteiro apresenta Brenda (Penelope Ann Miller), melhor amiga de Chris que decide fugir de casa (!), sem dar-se conta de que não tem um tostão no bolso (!!).
Brenda está, assim, na rodoviário de Manhatan, sem dinheiro para ir ou vir –e precisa da amiga para que, pelo menos, tenha uma carona para voltar embora!
A contragosto, Chris mete Sara e Brad –e mais Daryl (Anthony Rapp), o melhor amigo dele –dentro do carro e segue para a cidade.
É o início dos absurdos sucessivos e deliciosos do filme: Ainda na via rápida, o pneu do carro de Chris fura; eles são atendidos por um motorista de reboque com uma mão de gancho que, no entanto, mostra-se simpático –mas, ele não deixa de envolve-los em mais confusões quando, num rompante, os leva até sua casa no subúrbio, a fim de tirar satisfações com a esposa infiel. E assim, Chris e as três crianças sem vêem perdidos, sem carro e sem dinheiro numa parte perigosa da cidade.
Tão perigosa que vão parar dentro de um carro roubado pelo simpático ladrão Joe (Calvin Levels). Nem tão simpáticos são seus chefes (os verdadeiros vilões do filme) que passaram toda a noite perseguindo Chris e as crianças por uma razão bastante pitoresca: Daryl e Brad descobrem (como inúmeros outros personagens) que Chris vem a ser a cara da Miss Março, a Playmate da revista Playboy daquele mês (numa sacada maliciosamente inocente bem típica dos anos 1980), e por conta disso, é essa revista que os rapazes pegam do escritório dos bandidões (sem saber que eles fizeram importantes anotações sobre seus roubos no pôster central da revista!).
Quase como uma versão juvenil de “Depois de Horas”, de Martin Scorsese (uma referência que certamente deve ser levada em conta), o filme vai enfileirando situações uma após a outra que vão colocando a babá e as crianças nos mais diversos apuros. Leve, mas sem ser demasiadamente pueril, é um filme que até hoje impressiona pelo equilíbrio com que executa sua premissa: Nos tempos de hoje, não seria improvável identificar no filme, em meio a uma revisão, elementos politicamente incorretos, ou uma excessiva ingenuidade na condução dos eventos, mas o bom trabalho de Chris Columbus na direção, se não atinge picos de genialidade, encontra desenvoltura de sobra para explorar o humor, a tensão e o frenesi fazendo deste um entretenimento saborosíssimo –aquilo que, em sua despretensão, ele sempre se propôs a ser.

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