Após demonstrar ótimo tino comercial com os
excelentes roteiros de “Os Goonies” e “Gremlins”, Chris Columbus teve, em 1987,
a oportunidade de estrear como diretor neste “Uma Noite de Aventuras” que, se
não é um clássico inabalável do período, conserva hoje intactos sua diversão,
seu ritmo e sua empatia com o expectador –e muito disso se deve pela presença
inebriante e encantadora da pra lá de carismática Elisabeth Shue no papel da
jovem babá Chris.
No descontraído início do filme, ao som da
contagiante “Then He Kissed Me”, dos “The Crystals”, Chris dança exaltada com a
iminente noite ao lado do namorado, o displicente Mike (Bradley Whitford, que
aparece já bem envelhecido em “Corra!”).
Contudo, uma desculpa esfarrapada dele frustra os
planos da jovem que se vê então disponível para atender os apelos de um casal
amigo da família: Eles, que irão a uma festa no centro da cidade, precisam de
uma babá que cuida de seus dois filhos, o adolescente Brad (Keith Coogan), que
é apaixonado por Chris, e a garotinha Sara (Maia Brewton), aficionada pelo
herói da Marvel, “Thor”; tenha isso em mente na hora de conferir a ótima participação especial de Vincent D'Onofrio.
Parecia uma noite tranquila e normal, porém,
numa habilidade para converter o banal em extraordinário característica de John
Hugues (não à toa, o próprio Columbus veio a dirigir “Esqueceram de Mim”,
produzido por ele), o roteiro apresenta Brenda (Penelope Ann Miller), melhor
amiga de Chris que decide fugir de casa (!), sem dar-se conta de que não tem um
tostão no bolso (!!).
Brenda está, assim, na rodoviário de Manhatan,
sem dinheiro para ir ou vir –e precisa da amiga para que, pelo menos, tenha uma
carona para voltar embora!
A contragosto, Chris mete Sara e Brad –e mais
Daryl (Anthony Rapp), o melhor amigo dele –dentro do carro e segue para a
cidade.
É o início dos absurdos sucessivos e deliciosos
do filme: Ainda na via rápida, o pneu do carro de Chris fura; eles são
atendidos por um motorista de reboque com uma mão de gancho que, no entanto,
mostra-se simpático –mas, ele não deixa de envolve-los em mais confusões
quando, num rompante, os leva até sua casa no subúrbio, a fim de tirar
satisfações com a esposa infiel. E assim, Chris e as três crianças sem vêem
perdidos, sem carro e sem dinheiro numa parte perigosa da cidade.
Tão perigosa que vão parar dentro de um carro roubado
pelo simpático ladrão Joe (Calvin Levels). Nem tão simpáticos são seus chefes
(os verdadeiros vilões do filme) que passaram toda a noite perseguindo Chris e
as crianças por uma razão bastante pitoresca: Daryl e Brad descobrem (como
inúmeros outros personagens) que Chris vem a ser a cara da Miss Março, a
Playmate da revista Playboy daquele mês (numa sacada maliciosamente inocente
bem típica dos anos 1980), e por conta disso, é essa revista que os rapazes
pegam do escritório dos bandidões (sem saber que eles fizeram importantes
anotações sobre seus roubos no pôster central da revista!).
Quase como uma versão
juvenil de “Depois de Horas”, de Martin Scorsese (uma referência que certamente
deve ser levada em conta), o filme vai enfileirando situações uma após a outra
que vão colocando a babá e as crianças nos mais diversos apuros. Leve, mas sem
ser demasiadamente pueril, é um filme que até hoje impressiona pelo equilíbrio
com que executa sua premissa: Nos tempos de hoje, não seria improvável
identificar no filme, em meio a uma revisão, elementos politicamente
incorretos, ou uma excessiva ingenuidade na condução dos eventos, mas o bom
trabalho de Chris Columbus na direção, se não atinge picos de genialidade,
encontra desenvoltura de sobra para explorar o humor, a tensão e o frenesi
fazendo deste um entretenimento saborosíssimo –aquilo que, em sua despretensão,
ele sempre se propôs a ser.
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