segunda-feira, 29 de abril de 2019

Viagem Fantástica

Certamente despido das pretensões científicas que orientavam projetos dessa natureza que chacoalharam o cinema naqueles anos 1960 (como “O Planeta dos Macacos”, de Franklin J. Schaffner, e principalmente “2001-Uma Odisséia No Espaço”, de Stanley Kubrick), este filme realizado por Richard Fleischer se propõe a ser nada mais que uma eficiente aventura –bem de acordo com o perfil modesto de seu realizador –entretanto, ele o faz com um aparato técnico tão arrojado que sua recriação das entranhas humanas aumentadas em improváveis proporções lhe valeu dois Oscar: Melhor Direção de Arte e Melhores Efeitos Especiais.
E Fleischer, ainda por cima, executa uma narrativa das mais eficazes e objetivas, muito de acordo com o resultado almejado.
Dessa forma, no início somos testemunhas de um prólogo eficiente que prescinde diálogos para mostrar o atentado contra um importante cientista perpetrado em solo americano pelo que será apenas mencionado como “o outro lado”; e podemos apenas supor que, sendo esta uma obra da década de 1960, esse “outro lado” possa tratar-se dos russos numa menção velada à Guerra Fria.
O filme, de fato, tem início logo ali: Com um coágulo no cérebro capaz de mata-lo, o importante cientista deve submeter-se a uma operação que, no entanto, não tem nada de usual.
O Agente Grant (Stephen Boyd, o Messala de “Ben-Hur”) é assim recrutado para uma missão da qual ele não tem muitas informações: Ao lado de uma equipe médica, ele deve integrar a tripulação de um submarino a ser miniaturizado e injetado na corrente sanguínea do dito cientista –o único jeito de salvá-lo, é eliminando o coágulo de dentro de seu cérebro e, para isso, a equipe precisa ser reduzida a um tamanho microscópico para ter acesso ao local da enfermidade.
Mais: A miniaturização irá durar apenas 60 minutos, o que dá ao grupo (constituído pelo capitão do submarino, dois médicos vividos por Arthur Kennedy e Donaldo Pleasence, e a enfermeira interpretada por Rachel Welch) apenas uma hora para executar o procedimento, salvar a vida do cientista e sair de seu cérebro.
O trabalho do diretor Richard Fleischer busca tornar a premissa tão interessante quanto ela de fato soa. Com efeito, ele imprime um realismo carregado de seriedade à condução, não obstante alguma ingenuidade de sua encenação e até mesmo certo anacronismo –possivelmente muito mais perceptível hoje do que na época de seu lançamento.
A verdade é que, com seu roteiro assim compenetrado e a criação incisiva de subterfúgios pontuais que beneficiam e muito o suspense, “Viagem Fantástica” é um belíssimo trabalho de um artesão competente que nunca pareceu muito interessado em se sagrar gênio.

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