Até este presente momento existem seis filmes
live-action produzidos nos EUA sobre o Homem-Aranha. São eles: A Trilogia de Sam Raimi, onde ele é vivido por Tobey Maguire; a equivocada duologia de Marc
Webb (que, por seus tropeços, sequer conseguiu chegar ao terceiro filme) onde
quem o interpreta é Andrew Garfield; e “Homem-Aranha-De Volta Ao Lar”, que deu
ao talentoso Tom Holland a chance de ser o atual Escalador de Paredes
–lembrando que ainda este ano sairá “Homem-Aranha-Longe de Casa”, o segundo
filme protagonizado por Holland, sem contar, claro, suas ótimas participações
em “Capitão América-Guerra Civil”, “Vingadores-Guerra Infinita” e no recente
“Vingadores-Ultimato”.
Em todos esses casos, há uma ou outra ressalva
dos expectadores em relação à forma com que é retratado o herói, ou às escolhas
visuais que definem seu traje e suas imprescindíveis acrobacias nos
arranha-céus de Nova York.
Contudo, vai ser improvável que tais ressalvas
apareçam neste belo trabalho em animação, por um motivo até bastante simples:
Pelo fato de não se restringir à limitação humana, o trabalho de animação pode
assim materializar o mais perfeito Homem-Aranha em movimento que a
cinematografia já concebeu.
E, se esse primor singular já é um acerto que
em si vale o filme, a sua premissa, de uma audácia brilhante, só vem a
coroá-lo: Peter Parker não é, aqui, um herói em início de carreira com sua
origem contada pela enésima vez.
Ele é, em vez disso, uma variação do personagem
que conhecemos –várias, na verdade! E ao ocupar assim esse posto icônico nesta
mitologia super-heróica específica, ele é também uma espécie de mentor para o
real protagonista do filme: O jovem Miles Morales.
Filho de um casal latino e afrodescendente,
Miles é a representação étnica do cidadão comum que outrora os heróis salvavam,
ganhando aqui a chance de virar, ele próprio, o herói –um conceito presente nos
heróis da Marvel em geral e (como ficará evidente nesta maravilhosa animação)
no Homem-Aranha em particular.
Miles era, de fato, um jovem comum até ser
mordido por uma aranha radioativa (ou geneticamente modificada, como queira)
ganhando todos os poderes relativos ao já conhecido herói Homem-Aranha.
Entretanto, Miles sequer tem sossego para aprender a controlar seus poderes
–que além dos já conhecidos, incluem invisibilidade e a capacidade de provocar
eletrochoques! –ele testemunha o Homem-Aranha ser assassinado pelo Rei do
Crime, enquanto buscava frustrar seu megalomaníaco plano de gerar um portal
dimensional e, de uma realidade alternativa, trazer sua esposa e filho, mortos
em acidente.
O que o Rei do Crime não sabe, mas o
Homem-Aranha/Peter Parker, sim, é que tal portal pode provocar um rombo no multiverso
que destruirá a realidade.
Assim diante da morte dele, o
Homem-Aranha/Miles Morales deve cumprir essa missão de salvar o mundo. Por
sorte, Miles terá ajuda: Durante a confusão dimensional, cinco realidades
acabaram despejando, por acaso, suas próprias versões do herói: O Peter Parker
mais envelhecido e desiludido de uma dimensão onde perdeu Tia May, separou-se
de Mary Jane e ficou à beira da depressão (é esse Homem-Aranha quem irá se
encarregar de treinar Miles); a sensacional Mulher-Aranha (ou ‘Spider-Gwen’,
para os fãs), de uma dimensão onde foi Gwen Stacy, e não Peter Parker, quem foi
picada pela aranha; o Homem-Aranha Noir, vindo de um dimensão em preto &
branco, retrô e caracterizada segundo o gênero cinematográfico do film noir; o
impagável Porco-Aranha, de uma realidade de desenhos animados à la Chuck Jones;
e a Garota-Aranha, Peni Parker, que pilota um robô de grandes proporções e é
inteiramente correspondente a um anime japonês (!).
Apesar dessa tremenda variedade de ganchos
narrativos –que se desdobram na trama de aprendizagem de Miles, nas
relativamente desenvolvidas trajetórias de cada um dos outros heróis (com mais
destaque, certamente, para Peter Parker e Gwen), nas personalidades do grupo de
vilões (incluindo um, com ligações mais pessoais com o herói), nas motivações
até palatáveis do grande vilão, no manejo esperto das boas participações
coadjuvantes (com destaque para Tia May e o pai de Miles) –“Homem-Aranha No
Aranhaverso” consegue uma brilhante síntese entre essas complicadas facetas e
as eletrizantes cenas de ação: Aqui a história não para (e nem pode parar) para
que as cenas de ação transcorram; ela se desenvolve em meio à própria ação!
Aliado à um senso visual
bastante incomum e original para uma animação computadorizada (ele extrai uma
técnica similar ao do premiado curta “O Avião de Papel” somado a uma percepção
de textura que remete às mais recentes e visualmente elaboradas HQs),
“Homem-Aranha No Aranhaverso” calibra à perfeição seus predicados numa sinergia
frenética que o transformam facilmente num espetáculo. Uma das mais
arrebatadoras obras de animação entregues por um estúdio sem qualquer vínculo
com a Disney ou as animações japonesas.
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