quinta-feira, 9 de maio de 2019

Síndrome da China

Michael Douglas é indiscutivelmente famoso como ator, mas na verdade, ele começou a carreira na indústria cinematográfica como produtor –talvez, desejoso de afastar-se de comparações com seu fulgurante pai, o astro Kirk Douglas –até mesmo o Oscar de Melhor Filme ele já havia conquistado (pela produção de “Um Estranho No Ninho”, em 1976).
Em “Síndrome da China”, o Douglas produtor tenta conciliar o Douglas ator, marcando presença num dos personagens fundamentais da trama.
Parte dos politizados esforços de desarmamento que moveram muitos veículos de mídia daquele período, “Síndrome da China” é dirigido por James Bridges que, de mais evidência, fez os filmes “Cowboy do Asfalto” e “Perfeição”, nos anos 1980, ambos com John Travolta.
E, se estamos falando de um projeto politizado, acaba sendo até espontânea a presença da estrela Jane Fonda. Ela vive Kimberly Wells, uma repórter televisiva constantemente frustrada na emissora em que trabalha: Bela e ruiva, ela é vista por seus superiores como uma apresentadora perfeita para noticiários banais em apresentações musicais e zoológicos. O sonho de cobrir um furo jornalístico de relevância parece-lhe um tanto distante.
Contudo, durante uma matéria corriqueira ao lado do cameraman Richard Adams (Michael Douglas) na usina nuclear de Verdana, Kimberly testemunha um acidente prontamente sanado pela equipe de manutenção.
A câmera de Richard, contra as orientações da empresa, filma toda a comoção da equipe cujos rostos assombrados e exacerbados indicam que a ocorrência foi muito mais séria do que sugere as atenuantes versões oficiais.
De seu lado, Kimberly e principalmente Richard, de natureza ativista e inconformista, tentam superar os inúmeros obstáculos para expor a verdade que aconteceu na usina nuclear.
Do outro, o veterano técnico Jack Godell (Jack Lemmon, fabuloso) descobre alarmantes indícios de que as certificações de segurança baseada nas quais a usina opera foram forjadas, ou seja, o funcionamento dos reatores nucleares pode acarretar uma catástrofe irreversível que os especialistas chamam de Síndrome da China.
Mais que uma realização brilhante de cinematografia (objetivo que ele atinge em partes), o filme de Bridges, em sua posição de denúncia, se faz notável pelo grau profético obtido por seu roteiro: Pouco depois de seu lançamento ocorreu o vazamento radioativo na usina nuclear de Three Miles Island, nos EUA, e logo mais tarde, deu-se o de Chernobyl, na União Soviética.

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