Após uma carreira frutífera como produtor e
diretor de filmes dramáticos, com frequente crítica social, o realizador
Stanley Kramer decidiu, em 1963, enveredar pelo terreno da comédia.
Entretanto, não uma comédia qualquer:
Valendo-se de sua influência como produtor, ele arrendou um elenco espetacular
–além de uma infinidade de participações especiais (Jerry Lewis, Peter Falk, os
Três Patetas e tantos outros) –e colocou todos para encenar uma maluquice
desregrada em ritmo de ação cujas consequência de humor pastelão atingem níveis
épicos.
No papel do que pode ser considerado uma
espécie de vilão da trama, o grande Spencer Tracy é só um dos incríveis achados
desta implacável comédia que fez história, e estabeleceu uma espécie de
subgênero que outros cineastas tentam igualar até hoje, sem conseguir chegar
perto deste brilhante trabalho –a comédia “Tá Todo Mundo Louco”, de Jerry Zucker,
é só um exemplo de muitos filmes que tentaram reaproveitar sua fórmula.
Após um acidente, um homem convalescido (Jimmy
Durante) morre à beira da estrada no deserto central norte-americano, em algum
lugar próximo de Palm Desert, na Califórnia, pouco antes de revelar a um grupo
de variados motoristas que passavam ali a localização de um tesouro escondido
em Santa Rosita –produto de quinze anos de roubo, pelo qual é procurado pela
polícia de quem estava fugindo.
Entre os motoristas testemunhas do óbito –e conhecedores
acidentais assim do local do tesouro –estão o dentista Melville Crump (Sid
Caesar) e sua esposa (Edie Adams); o perplexo e passivo Russel Finch (Milton
Berle), com sua esposa Emmeline (Dorothy Provine) e sua insuportável sogra Sra.
Marcus (Ethel Merman); os dois amigos Ding Bell (Mickey Rooney) e Benji
Benjamin (Buddy Rackett); e o motorista de um caminhão de mudanças Lennie Pike
(Jonathan Winters).
Inicialmente decididos a não ludibriar uns aos
outros segue-se, logo na sequência, uma alucinada corrida para tentar chegar
primeiro ao tão disputado tesouro.
Todo e qualquer meio de transporte é válido:
Eles saem em disparada, inicialmente em seus próprios carros, mas não demora
para que Crump e a esposa resolvam fretar um avião (caindo aos pedaços, diga-se)
para chegar com mais antecedância ao lugar –a cerca de 1.000 km de distância!
Ding e Benji têm ideia parecida, contudo, se
levam uma melhor sorte por conseguir um avião em melhores condições, eles têm o
infortúnio de ter a companhia de um piloto beberrão, que desmaia em pleno voo
(!), colocando a dupla em maus lençóis.
Russel, por sua vez, às voltas com os palpites
ferozes da sogra (que mais atrapalha que ajuda) encontra pela frente um inglês,
o pomposo o Tenente-Coronel Algernon Hawthorne (Terry Thomas, de “Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras”) para lhe dar carona e inclui-lo na
bagunça, enquanto que o ingênuo e truculento Lennie, divide a localização do
tesouro com outro motorista, Otto Meyer (Phil Silvers), que tenta lhe passar para
trás –e também acaba encontrando pela frente suas próprias complicações.
Acompanhando de perto as estripulias e
confusões de todos, está o chefe de polícia de Santa Rosita, o Capitão Culpeper
(o próprio Spencer Tracy) que, ao longo do filme, vai se desiludindo com a
profissão (sua tão almejada aposentadoria não saiu) e com a família (a esposa e
a filha implicam até lhe acabar com os nervos) a ponto de querer, já perto do
desfecho, passar a perna em todo mundo e ficar com o dinheiro para si.
Manipulando com extremo brilhantismo todas
essas linhas narrativas –e ostentando, por meio desse controle, uma perícia que
à época poderia soar revolucionária –o diretor Kramer se vale de uma edição
primorosa que, a um certo ponto, intercala as situações com tanta agilidade e
fluência que o ritmo se converte num turbilhão absurdo de acontecimentos; tudo
isso sem que nada soe desorganizado ou caótico.
Abrilhantado pelo empenho apaixonado de uma talentosa equipe técnica e de um elenco imenso e fantástico
que comprou sua ambiciosa ideia, Stanley Kramer concebe aqui um filme
devastador e hilariante em seu humor inconsequente e irredutível, baseado
essencialmente em piadas visuais.
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