sexta-feira, 26 de julho de 2019

Deu A Louca No Mundo

Após uma carreira frutífera como produtor e diretor de filmes dramáticos, com frequente crítica social, o realizador Stanley Kramer decidiu, em 1963, enveredar pelo terreno da comédia.
Entretanto, não uma comédia qualquer: Valendo-se de sua influência como produtor, ele arrendou um elenco espetacular –além de uma infinidade de participações especiais (Jerry Lewis, Peter Falk, os Três Patetas e tantos outros) –e colocou todos para encenar uma maluquice desregrada em ritmo de ação cujas consequência de humor pastelão atingem níveis épicos.
No papel do que pode ser considerado uma espécie de vilão da trama, o grande Spencer Tracy é só um dos incríveis achados desta implacável comédia que fez história, e estabeleceu uma espécie de subgênero que outros cineastas tentam igualar até hoje, sem conseguir chegar perto deste brilhante trabalho –a comédia “Tá Todo Mundo Louco”, de Jerry Zucker, é só um exemplo de muitos filmes que tentaram reaproveitar sua fórmula.
Após um acidente, um homem convalescido (Jimmy Durante) morre à beira da estrada no deserto central norte-americano, em algum lugar próximo de Palm Desert, na Califórnia, pouco antes de revelar a um grupo de variados motoristas que passavam ali a localização de um tesouro escondido em Santa Rosita –produto de quinze anos de roubo, pelo qual é procurado pela polícia de quem estava fugindo.
Entre os motoristas testemunhas do óbito –e conhecedores acidentais assim do local do tesouro –estão o dentista Melville Crump (Sid Caesar) e sua esposa (Edie Adams); o perplexo e passivo Russel Finch (Milton Berle), com sua esposa Emmeline (Dorothy Provine) e sua insuportável sogra Sra. Marcus (Ethel Merman); os dois amigos Ding Bell (Mickey Rooney) e Benji Benjamin (Buddy Rackett); e o motorista de um caminhão de mudanças Lennie Pike (Jonathan Winters).
Inicialmente decididos a não ludibriar uns aos outros segue-se, logo na sequência, uma alucinada corrida para tentar chegar primeiro ao tão disputado tesouro.
Todo e qualquer meio de transporte é válido: Eles saem em disparada, inicialmente em seus próprios carros, mas não demora para que Crump e a esposa resolvam fretar um avião (caindo aos pedaços, diga-se) para chegar com mais antecedância ao lugar –a cerca de 1.000 km de distância!
Ding e Benji têm ideia parecida, contudo, se levam uma melhor sorte por conseguir um avião em melhores condições, eles têm o infortúnio de ter a companhia de um piloto beberrão, que desmaia em pleno voo (!), colocando a dupla em maus lençóis.
Russel, por sua vez, às voltas com os palpites ferozes da sogra (que mais atrapalha que ajuda) encontra pela frente um inglês, o pomposo o Tenente-Coronel Algernon Hawthorne (Terry Thomas, de “Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras”) para lhe dar carona e inclui-lo na bagunça, enquanto que o ingênuo e truculento Lennie, divide a localização do tesouro com outro motorista, Otto Meyer (Phil Silvers), que tenta lhe passar para trás –e também acaba encontrando pela frente suas próprias complicações.
Acompanhando de perto as estripulias e confusões de todos, está o chefe de polícia de Santa Rosita, o Capitão Culpeper (o próprio Spencer Tracy) que, ao longo do filme, vai se desiludindo com a profissão (sua tão almejada aposentadoria não saiu) e com a família (a esposa e a filha implicam até lhe acabar com os nervos) a ponto de querer, já perto do desfecho, passar a perna em todo mundo e ficar com o dinheiro para si.
Manipulando com extremo brilhantismo todas essas linhas narrativas –e ostentando, por meio desse controle, uma perícia que à época poderia soar revolucionária –o diretor Kramer se vale de uma edição primorosa que, a um certo ponto, intercala as situações com tanta agilidade e fluência que o ritmo se converte num turbilhão absurdo de acontecimentos; tudo isso sem que nada soe desorganizado ou caótico.
Abrilhantado pelo empenho apaixonado de uma talentosa equipe técnica e de um elenco imenso e fantástico que comprou sua ambiciosa ideia, Stanley Kramer concebe aqui um filme devastador e hilariante em seu humor inconsequente e irredutível, baseado essencialmente em piadas visuais.

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