Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original em
2008 (perdendo para “Juno”), este sensível trabalho do diretor Craig Gillespie
depende muita mais, em sua inusitada natureza, da competência do ator Ryan
Gosling para se fazer plausível.
Depende também de alguma cumplicidade da parte
do expectador; uma disposição em abraçar uma ideia bastante absurda. Como
recompensa àqueles que fizerem isso, o filme oferece uma visão agridoce sobre
as percepções indiretas do relacionamento e, sobretudo, uma tocante amostra de
uma pequena, mas, empática comunidade num esforço conjunto para contentar seu
membro mais disfuncional.
Lars –que Gosling interpreta com precisão
minuciosa e enternecedora –sofre de uma timidez que chega às raias da
patologia. Ele não se comunica. Seus parcos relacionamentos íntimos, familiares
e profissionais não andam bem: A amorosa cunhada Karin (Emily Mortimer) precisa
praticamente imobiliza-lo para convence-lo a jantar com ela e com o irmão (Paul
Schneider) e as hesitantes investidas da apaixonada Margo (Kelli Garner) só o
deixam ainda mais retraído.
Certo dia, inspirado talvez pelo breve diálogo
com um colega do escritório, Lars faz uma encomenda misteriosa e, quando seus
familiares menos esperam, chega a eles com a notícia de que apaixonou-se por
uma estrangeira. E que ela está hospedada em sua casa.
A surpresa, no entanto, dá lugar ao
estarrecimento quando Karin e seu marido descobrem que a tal moça, Bianca, é na
verdade uma boneca comprada na internet (!).
Entretanto, todo o comportamento e as reações
de Lars para com ela, pressupõe que ela seja alguém real –e tamanha é a
autenticidade de sua relação com ela (tornada genuína graças à competência de
Ryan Golsing) que ninguém tem coragem de contraria-lo.
Levam-no, no máximo, á uma médica (Patricia
Clarkson, também ela excelente); o diagnóstico: Lars sofre de um delírio
comportamental e é necessário que ele saia de sua loucura por conta própria, ou
seja, até isso acontecer (se é que vai acontecer) todos à sua volta devem
compactuar com seu devaneio e tratar Bianca como se fosse normal.
O delírio de Lars em torno de sua namorada
ideal é elaborado: Ela é cadeirante, o que explica porque tem de carrega-la em
todos os lugares. Com ela, Lars vai à igreja, às festas (em sequência
primorosamente constrangedoras) e termina interagindo com as pessoas de modo
muito mais intenso e satsifatório do que fazia quando era sozinho.
É uma visão tipicamente artística aquela
lançada sobre esta premissa –a de que toda uma pequena cidade trabalharia em
mutirão para corroborar uma maluquice dessas –a qual certamente não encontraria
prosseguimento na cínica vida real. Aqui, quando muito, esse cinismo encontra
tímida expressão nas injúrias ocasionais (e gradativamente mais brandas) do
irmão de Lars.
É intenção do roteiro e da direção, entretanto
que, ao fim, haja uma percepção geral do quão importante em termos existenciais
foi Bianca na vida de Lars e, por consequência, na vida de todos que o cercavam
e o queriam bem –e tal percepção, no desfecho radicalmnte simbólico, pode ser
visto como um exagero por alguns expectadores, e como uma demonstração de
convicção inabalável dos realizadores por outros.
Há que se reconhecer aqui o
mérito de terem feito um filme muito simpático amparado num conceito
dificílimo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário