Certamente interessou ao diretor inglés Ken
Russell o teor escandaloso presente nas obras literárias de D.H. Lawrence,
tendo ele adaptado “Mulheres Apaixonadas” e sua prequel “O Despertar de Uma
Mulher Apaixonada” –era como se Russell se identifica-se com a insistente
postura de Lawrence em chocar seus pares afrontando a moral vigente; com filmes
frequentemente desafiadores e controversos (e que por vezes reservaram à sua
carreira uma espiral de altos e baixos), a postura de Russell enquanto
realizador cinematográfico foi exatamente essa.
Outro indício da relação estreita entre esta
obra adaptada com os títulos representativos da carreira e da personalidade de
Ken Russell é, aqui, a escalação da bela Joely Richardson como protagonista
–ela, que é filha de Vanessa Redgrave, mesma atriz empregada por Russell no
horripilante “Os Demônios” no complexo papel de Madre Joana dos Anjos, e irmã
da falecida Natasha Richardson, presente por sua vez em “Gothic” como Mary
Shelley.
Joely é a jovem Constance, cujo marido, Sir
Clifford Chatterley (James Wilby), sofre um acidente que o deixa paralítico.
Embora o amor pelo marido se mantenha, torna-se
um fardo para Constance ser jovem e ardente num matrimônio cujas injustiças do
destino abreviaram num afeto platônico –numa cena paradoxalmente excitante e
melancólica ela exibe seu corpo nu para ele numa ânsia por alguma expressão de
desejo que Clifford não possui mais.
E dessa involuntária necessidade carnal surgem
as pulsões que a levam até o rude Mellors (Sean Bean), o guarda-caça da mansão,
com quem Lady Chatterley passa a ter encontros extraconjugais numa cabana em
meio à floresta.
Lá, ela e seu amante experimentam o
arrebatamento da paixão física que ela, com seu marido, já não pode almejar –e
nessa dinâmica, Russell investiga os reais tópicos de culpa de uma mulher cujo
pecado foi deixar-se guiar por instintos inerentes à ela, num aproveitamento em
cores quentes de todo o erotismo a que se tem direito (e a nudez de Joely
Richardson é um fetiche que ele utiliza e reutiliza sistematicamente), como
também na ênfase de contravenção existente numa premissa que se atreve a unir
em circunstâncias tão íntimas dois indivíduos de classes sociais tão opostas.
Entretanto, no rumo de tragédia clássica que
sabemos ser o cerne da obra, os excessos de Lady Chatterley levam a uma
consequência irrevogável –ela engravida! –e esse fato não é apenas a
confirmação de seu adultério, como também o ponto de não retorno no qual uma
escolha dolorosa e irreversível se fará necessária da parte de Lady Chatterley
e de seu marido.
Uma dentre tantas versões
que “O Amante de Lady Chatterley” ganhou no cinema, esta de Ken Russell teve
sua origem como uma minissérie da BBC de Londres, exibida em quatro episódios
no ano de 1993, no entanto, aqui no Brasil e em boa parte do resto do mundo,
ela foi lançada nas salas de cinema em uma versão reduzida (cento e dez minutos
de duração) que, embora resumisse a trama e seus desdobramentos de ordem
melodramática preservava o elemento pelo qual Ken Russell era reconhecido: O
escândalo de cunho sexual.
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