Assim como o cultuado porn softcore de terror
“Vampyres”, este último capítulo da “Trilogia Karnstein” também foi batizado no
Brasil de “As Filhas de Drácula”, um indicativo da preguiça de muitos
distribuidores para imaginar títulos que fossem menos genéricos.
“Carmilla”, o primeiro capítulo da trilogia havia
sido bem-sucedido em causar um impressão de reinvenção por parte da Hammer
Studios que, finda a década de 1960, apresentava prejudiciais desgastes em suas
ultrapassadas temáticas de terror. Os monstros de sempre (e suas
caracterizações de sempre) já não empolgavam e nem capturavam o interesse do
público: Eles queriam monstros novos!
Entre permanecer obsoleta até minguar e ceder à
tendência do sexploitation de então, a Hammer encontrou, no roteirista Tudor
Gates e nos produtores Harry Fine e Michael Styles (oriundos da produtora
independente Fantale Films), uma espécie de meio-termo: “Carmilla” deu origem
ao filão das vampiras sanguinárias e sensuais com sugerida inclinação ao
lesbianismo.
No entanto, também essa manobra logo se mostrou
saturada, e após a irregular segunda parte, “Luxúria de Vampiros”, o estúdio
estava à sombra da ameaça de fazer um terceiro filme irrelevante quando os
produtores tiveram uma ideia inesperada: Bastou uma olhada num ensaio da
revista Playboy –o primeiro a trazer irmãs gêmeas nuas em seu poster central
–para ocorrer a ideia que salvaria o filme; e se houvessem vampiras gêmeas?
O roteirista Tudor Gates imediatamente
abandonou os planos originais para o terceiro filme e elaborou essa nova
premissa, abrilhantada por pequenas circunstâncias da época que a foram
moldando, como o primeiro terço, no qual quase esquecemos tratar-se de um filme
de vampiros para concentrar-se num horror até mais palpável e real, a
Inquisição, na qual homens cruéis capturavam jovens inocentes para queima-las
na fogueira sob alegação de serem servas de Satã. Um desses homens é Gustav
Wein que Peter Cushing interpreta com estudada frieza.
Há algo de hipócrita em Gustav Wein, sobretudo,
na excitação quase incontida que ele e seus pares deixam escapar quando perpetram
seus atos terríveis. A influência de Gustav só se detém perante o aristocrata
local, Conde Karnstein (Damien Thomas) que se mostra, sim, amoral, endiabrado e
herege, mas, é blindado contra as ameaças de Gustav por sua nobreza.
Num momento de hedonismo, o Conde Karnstein,
ansioso por corresponder ao legado de maldade de seus ancestrais contrata
charlatões para realizar um ritual satânico em seu castelo que só não se revela
completamente inútil porque o sangue da pobre jovem sacrificada escorre para as
catacumbas do lugar, caindo sobre o cadáver de Mircalla, a vampira que dá o
ponta-pé narrativo a praticamente todos os filmes da trilogia.
Interpretada desta vez por Katya Wyeth e
fazendo aqui a mais breve aparição nos três filmes, Mircalla surge como a única
conexão desta produção com as anteriores (ainda que hajam pistas nítidas de que
esta trama se ambienta num período de tempo anterior aos demais filmes) e vem
para transformar o Conde Karnstein num vampiro; embora houvessem indícios
mal-explicados de que um vampiro já existia na aldeia antes.
É quando surgem no vilarejo as gêmeas Maria e
Frieda, vividas pelas deliciosas gêmeas Collinson, Mary e Madeleine (as mesmas
gêmeas vistas na Playboy).
Tendo como guardião legal seu incompreensivo
tio Gustav, as gêmeas logo revelam personalidades díspares: Enquanto Maria é
gentil e dócil, Frieda é impulsiva e selvagem.
Logicamente que será Frieda quem irá deixar-se
atrair para o castelo, onde o Conde Karnstein a transformará em vampira.
Assim sendo, da forma como se apresenta, o
filme dirigido por John Hough abre mão da velha fórmula do bem contra o mal em
que vampiros são confrontados por caçadores de vampiros, e explora com alguma
audácia uma estrutura diferenciada onde os que já eram maus (os puritanos da
Inquisição) são confrontados com algo ainda pior (os vampiros), tirando
completamente a figura do herói dessa equação: Nem mesmo personagens que
levariam jeito para tal papel (como a gêmea ‘do bem’ Maria, ou o professor de
música vivido por David Warbeck) têm oportunidade de exerce-lo terminando mais
como vítimas ou meros coadjuvantes.
Mais interessante que o
capítulo do meio da “Trilogia Karnstein”, este derradeiro capítulo da série com
a qual a Hammer esperou sobreviver às transformações irreversíveis dos anos 1970
é beneficiado por uma percepção distinta de seu jovem diretor dos mecanismos
narrativos do macabro (diferente da visão algo embotada dos veteranos
realizadores do estúdio) e vem abrilhantado pelo carisma e sex-appeal das
maravilhosas Gêmeas Collinson. Pena que para seus fãs em geral, as cenas de
nudez que elas entregam aqui sejam um bocado mais tímidas (ainda que
extasiantes) do que se poderia esperar.
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