No frigir dos ovos, a realização do diretor
colombiano Gustavo Nieto Roa é um trabalho básico, definido pela sinopse
genérica onde ‘rapaz encontra moça’, e ambientado num único e restrito cenário,
além de apoiar-se em apenas dois intérpretes o tempo todo.
Mas, o diretor se desvencilha dessa aridez com
malícia: “Entre Lençóis” traz, como seu casal protagonista, os belíssimos
Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira, e faz uma irresistível provocação com o
expectador ao colocá-los numa premissa onde está em foco a nudez onipresente de
ambos.
A trama parte de um conceito já bastante
aproveitado em filmes europeus de temática voltada à sexualidade (como no
clássico “O Último Tango Em Paris”, ou no posterior “Uma Relação Indecente”) no
qual dois jovens se encontram aleatoriamente numa boate.
Sem trocar palavra, eles sentem a atração
instantânea e, num ímpeto, se prestam a uma noite de sexo dos mais casuais
dentro de um quarto de apartamento.
E pronto. Supostamente, as coisas seriam
simples assim. No entanto, a medida em que a noite vai se passando –e o desejo
de transar vai e vem ao sabor dos altos e baixos de seus humores –ele e ela
trocam confidências, conversam e acabam revelando, para os expectadores e para
eles próprios, um pouco mais de si mesmos.
Há um formato invariavelmente teatral na
narrativa do diretor Roa, mas ele deveras não parece incomodado com isso;
parece, sim, fascinado em percorrer os corpos de seus atores, num exercício de
fetiche que flerta perigosamente com o enfadonho em determinado ponto do filme:
Porque Roa não adere por completo à nudez total, optando por certa elegância na
sugestão –o problema é que tanta firula começa a incomodar quando o expectador
percebe que a provocação pode não levar a lugar nenhum. Diferente de, por exemplo,
Julio Medem, que soube conduzir “Um Quarto Em Roma” (outro filme com
praticamente o mesmo conceito) trabalhando maravilhosamente a nudez de suas
protagonistas do início ao fim.
Ao menos, Roa constrói muito bem o arco
narrativo do pouco de história que aqui conta –no que é certamente seu maior
mérito –em grande parte, devido ao bom trabalho dos dois atores que escalou:
Entre rusgas súbitas de implicância e recaídas repentinas à paixão
recém-descoberta, os dois jovens desconhecidos revelam sua história um ao
outro, suas dúvidas e angústias, suas incertezas e alegrias, expondo dois
distintos relacionamentos (o dela e o dele) enquanto não percebem que, com
isso, um terceiro relacionamento (entre os dois) aflora.
Há algo de oportunista no
fato do filme de Roa assumir tão descaradamente a nudez velada de seu casal
protagonista como seu maior chamariz comercial, bem como na pouca importância
dada ao fato de não haver qualquer esforço da premissa em escapar de sua falta
de originalidade, não obstante desses detalhes, porém, o filme faz uma
envolvente síntese de história de amor,
reflexão da relação à dois e saudável sacanagem.
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