quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Entre Lençóis

No frigir dos ovos, a realização do diretor colombiano Gustavo Nieto Roa é um trabalho básico, definido pela sinopse genérica onde ‘rapaz encontra moça’, e ambientado num único e restrito cenário, além de apoiar-se em apenas dois intérpretes o tempo todo.
Mas, o diretor se desvencilha dessa aridez com malícia: “Entre Lençóis” traz, como seu casal protagonista, os belíssimos Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira, e faz uma irresistível provocação com o expectador ao colocá-los numa premissa onde está em foco a nudez onipresente de ambos.
A trama parte de um conceito já bastante aproveitado em filmes europeus de temática voltada à sexualidade (como no clássico “O Último Tango Em Paris”, ou no posterior “Uma Relação Indecente”) no qual dois jovens se encontram aleatoriamente numa boate.
Sem trocar palavra, eles sentem a atração instantânea e, num ímpeto, se prestam a uma noite de sexo dos mais casuais dentro de um quarto de apartamento.
E pronto. Supostamente, as coisas seriam simples assim. No entanto, a medida em que a noite vai se passando –e o desejo de transar vai e vem ao sabor dos altos e baixos de seus humores –ele e ela trocam confidências, conversam e acabam revelando, para os expectadores e para eles próprios, um pouco mais de si mesmos.
Há um formato invariavelmente teatral na narrativa do diretor Roa, mas ele deveras não parece incomodado com isso; parece, sim, fascinado em percorrer os corpos de seus atores, num exercício de fetiche que flerta perigosamente com o enfadonho em determinado ponto do filme: Porque Roa não adere por completo à nudez total, optando por certa elegância na sugestão –o problema é que tanta firula começa a incomodar quando o expectador percebe que a provocação pode não levar a lugar nenhum. Diferente de, por exemplo, Julio Medem, que soube conduzir “Um Quarto Em Roma” (outro filme com praticamente o mesmo conceito) trabalhando maravilhosamente a nudez de suas protagonistas do início ao fim.
Ao menos, Roa constrói muito bem o arco narrativo do pouco de história que aqui conta –no que é certamente seu maior mérito –em grande parte, devido ao bom trabalho dos dois atores que escalou: Entre rusgas súbitas de implicância e recaídas repentinas à paixão recém-descoberta, os dois jovens desconhecidos revelam sua história um ao outro, suas dúvidas e angústias, suas incertezas e alegrias, expondo dois distintos relacionamentos (o dela e o dele) enquanto não percebem que, com isso, um terceiro relacionamento (entre os dois) aflora.
Há algo de oportunista no fato do filme de Roa assumir tão descaradamente a nudez velada de seu casal protagonista como seu maior chamariz comercial, bem como na pouca importância dada ao fato de não haver qualquer esforço da premissa em escapar de sua falta de originalidade, não obstante desses detalhes, porém, o filme faz uma envolvente  síntese de história de amor, reflexão da relação à dois e saudável sacanagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário