Desde a revelação em “Ligeiramente Grávidos” e
“ Virgem de 40 Anos”, de tempos em tempos aparece nas telas de cinema um filme
realizado pela turma de Judd Apatow (não necessariamente dirigido por ele, mas
as vezes, somente produzido como é o caso deste) que, construído naquele senso
de humor muito peculiar e norte-americano, obtém notável êxito de crítica,
ainda que lá no fundo não seja exatamente um grande filme.
“Wanderlust” –ou “Viajar É Preciso” –sofre de
inúmeros problemas, mas o pior deles é certamente trazer um humor dificilmente
acessível ao público brasileiro; prova disso foi a recepção indiferente que o
filme teve, seja nos cinemas, seja em homevideo.
Ambos curiosamente oriundos da série televisiva
“Friends”, Jennifer Aniston e Paul Rudd (ela, uma das protagonistas da série;
ele, uma participação que com o tempo tornou-se fixa; ambos também fizeram
dupla num filme dos anos 1990 chamado “A Razão do Meu Afeto”) vivem o casal
Linda e George Gengerblatt cujos sonhos capitalistas de ascender no mundo
moderno encontram seguidos contratempos: Compram um pequeno apartamento em Nova
York, no qual não faz mais sentido morarem depois que George perde o emprego e
Linda tem frustrada uma de suas inúmeras tentativas de emplacar uma meta profissional.
Para piorar as perspectivas, George tem um
irmão insuportável, Rick (Ken Marino), que só fala impropérios e grosserias, e
esfrega na cara do irmão sua cômoda e confortável situação financeira.
Ainda assim, é para a casa do irmão de George
(morador de Atlanta) que ele e Linda vão quando as coisas dão errado. No meio
do longo caminho, acomedida de uma súbita injúria de viajar, Linda acaba
insistindo para ela e George se hospedarem numa pousada. Terminam, porém,
passando a noite numa acomodação habitada por hippies (!).
A filosofia alternativa de vida deles, sem
intervenções da competitiva vida capitalista e com uma bisonha orientação
estilo paz & amor, os fascina numa primeira impressão –tanto que George e
Linda resolvem voltar para lá quando se dão conta do quão insuportável é a
permanência na casa do irmão dele.
Nos dias que se seguem, no entanto, a tal
comunidade começa a revelar (sobretudo, para George) suas facetas nem tão
charmosas: O líder, Seth (Justin Theroux, de “Cidade dos Sonhos”, casado na
vida real com Jennifer Aniston), se mostra um manipulador orquestrando os
ditames supostamente pacifistas do grupo a seu favor quando se descobre
enamorado de Linda e disposto a minar o casamento dela com George.
Embora a fauna de personagens entusiasmados em
sua falta de noção aponte para uma espécie de sátira à contracultura –além de
Seth e sua bela e promíscua companheira (Malin Akerman, de “Watchmen”), há o
personagem do velho e destrambelhado fundador da comunidade (Alan Alda), o
casal multi-racial (formado pelo também diretor Jordan Peele e pela atriz
Lauren Ambrose), o naturalista metido a escritor (Joe Lo Truglio), e a ex-atriz
pornô convertida em hiponga mala (Kathryn Hahn, de “Um Amor a Cada Esquina”)
–não é bem uma sátira que o trabalho do diretor David Wain acaba sendo; em meio
aos improvisos cênicos que caracterizam o estilo solto dos trabalhos assinados
por Judd Apatow, o que “Wanderlust” termina resultando é numa comédia
romântica, onde o registro abilolado da cultura hippie executado insanamente
pelos coadjuvantes serve quando muito como um empecilho na descoberta eventual
do casal protagonista de que seu amor é, afinal, o mais importante.
Portanto, voluntária ou
involuntariamente, existe até uma curiosa reflexão em “Wanderlust”: Os
protagonistas inadequados oriundos da vivência urbana levam consigo, no fim das
contas, um conceito de paz e amor mais transparente e real do que os
melindrosos argumentos que os pseudo-hippies passam o filme todo a teorizar.
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