Muitos não sabem, mas o ator e comediante Steve
Martin é também romancista. Sua obra, “Garota da Vitrine” é adaptada para
cinema aqui, pelo diretor Anand Tucker (de “Hilary & Jackie”), e
roteirizada por ele próprio que também interpreta um dos protagonistas.
A verve literária de Martin destoa da impressão
que temos dele enquanto astro de cinema: O humor rasgado e físico é substituído
por um lirismo elegante no trato carregado de sensibilidade para com as nuances
do relacionamento. Essa verve é transposta com considerável fidelidade para o
filme –certamente sua onipresença como roteirista e membro do elenco colaborou
para isso.
A garota da vitrine que dá nome ao filme é
Mirabelle Buttersfield, interpretada com a excelência de sempre por Claire
Danes (hoje mais conhecida por sua presença na série “Homeland”). Vinda do
interior de Vermont para a ensolarada Los Angeles, Mirabelle tem aspirações
artísticas, mas quando a encontramos no início do filme ela nada mais é que a
atendente de balcão da Saks, uma loja de departamentos de Beverly Hills.
Mirabelle sente-se medíocre, comum,
inexpressiva, e assim a narrativa parece defini-la. Aos poucos, novas texturas
vão sendo agregadas em sua vida –sobretudo, no que tange aos relacionamentos –e
mais dela podemos assim vislumbrar: Ela conhece o jovem Jeremy (Jason
Schwartzman) que apesar de inconveniente e esquisito não esconde seus
sentimentos por ela.
Há uma certa carência que leva Mirabelle a
relevar tudo o mais e se envolver com ele.
Logo em seguida, ela conhece Ray Porter (Steve
Martin, num personagem despido de sua usual comicidade), mais velho e
sofisticado homem de negócios.
Ele alimenta a vaidade dela cortejando-a com
requinte e ostentação, e Mirabelle cede às suas investidas. Entretanto, Ray e
Mirabelle têm visões diferentes do relacionamento que constroem: Ela quer
solidez; ele, intensidade.
Um triângulo amoroso ameaça se desenhar: A
relação com Ray carece de química, a com Jeremy, de empatia.
Contudo, quando Jeremy cai na estrada com uma
banda de rock, o caminho para Mirabelle e Ray fica relativamente livre; o filme
que Anand Tucker vai narrando não se prende à construção dos conflitos de
sempre, ele prefere avaliar as circunstâncias.
Amparado na música melodiosa e triste de
Barrington Pheloung, o que vemos durante a maior parte da duração são as idas e
vindas do romance entre Mirabelle e Ray –as distintas percepções que
experimentam; os contratempos ocasionados pela depressão dela; as dúvidas dele
em contraposição às certezas dela; e, ao fim, a postura superficial dele que
termina sabotando a relação –até Jeremy finalmente começar a ganhar mais alguma
estatura na trama já perto dos vinte minutos finais.
É uma obra que paira sobre
os gêneros de comédia romântica, romance e drama sem jamais mergulhar em definitivo
em nenhum deles. Ainda assim, seu acerto na escolha da atriz principal (Claire
Danes é tão encantadora quanto magistral) lhe garante uma capacidade insuspeita
que capturar plenamente o interesse do público.
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