Teria o filme “Dupla Explosiva” inspirado
George Romero a realizar o estranho “Cavaleiros de Aço”? A ideia do filme todo
estrelado por motoqueiros que adotam a mesma postura de cavaleiros medievais
duelando com lanças pontiagudas e usando motos no lugar de cavalos é a mesma
presente numa das mais divertidas cenas deste filme, uma das melhores
colaborações da famosa dupla Terence Hill e Bud Spencer.
Ao contrário do que deveria imaginar toda a
geração de expectadores brasileiros que cresceu vendo reprises de seus filmes
na TV, Hill e Spencer não eram norte-americanos e, sim, italianos (!) –Hill
tinha como nome de batismo Mario Giuseppe Girotti, enquanto que Spencer na
verdade se chamava Carlo Pedersoli –o que não impedia seus filmes de ter aval
americano, de trazer uma trama que se passava em terras americanas e, depois de
seu sucesso consolidado, se passar de fato nos EUA.
Datado de 1974, “Dupla Explosiva” foi realizado
dois anos depois de “Dá-Lhe Duro, Trinity!” e um ano antes de “Dois Missionários
em Apuros” –é, portanto, o oitavo filme da dupla, enquanto também alternavam
esses trabalhos com produções ‘solo’; e é também uma de suas realizações mais
acertadas. Impressiona, justamente por isso, o fato do diretor e roteirista
Marcelo Fondatto ter tão poucos créditos, ostentando, mesmo assim, um trabalho
melhor até do que o veterano Sergio Corbucci que também assinou filmes dos
dois.
Na trama, Terence Hill é Kid, e Bud Spencer é
Ben. Ambos disputam um rally no qual almejam ganhar como prêmio principal um
buggy vermelho de capota amarela.
Após a disputa –que em si é uma sequência de
corridas, batidas e capotagens insana e eletrizante, dirigida e editada com
admirável habilidade –os dois terminam empatados em primeiro lugar. Agora,
donos do mesmo veículo, eles devem decidir com quem o buggy vai ficar.
Após as piadas de praxe –que pontuam
alegremente toda a narrativa do filme e fazem muito lembrar os filmes dos
Trapalhões que também faziam sucesso em terras nacionais pelo mesmo período –os
dois resolvem decidir numa competição de quem come mais salsichas e bebe
cerveja. Enquanto o fazem, a lanchonete em que estão é atacada por capangas
mafiosos que simplesmente arrebentam todo o lugar. Os protagonistas, numa
atitude muito parecida com certos desenhos animados, continuam a conversar como
se nada ao redor deles estivesse acontecendo.
Contudo, na sua saída, o buggy deles é atingido
por um carro, capota e pega fogo. Com seu precioso prêmio destruído, resta a
Kid e a Ben irem procurar o chefe mafioso para lhe cobrar o prejuízo. Tal chefe
(John Sharp), glutão e afetado como o mais caricato estereótipo de gangster que
se possa imaginar não lhes dá ouvidos; ele só ouve os conselhos insensatos e
vilanescos de seu braço direito, um alemão, também ele afetado, vivido por
Donald Pleasence.
Assim, Kid e Ben ao invés do buggy ressarcido,
acabam recebendo uma série de ataques dos quais se desvencilham com a
desenvoltura costumeira da dupla: Num ginásio, eles enfrentam vários ginastas
que os atacam a mando do mafioso. Depois, um grupo de motoqueiros os aborda na
oficina onde Ben trabalha –dando início a uma divertida perseguição (na qual as
motos, inclusive, correspondem às características dos dois heróis!) e que
culmina na cena que eu mencionei lá em cima.
Se há um detalhe que destaca “Dupla Explosiva”
dos tantos outros filmes protagonizados pela dupla, é a quantidade notável de
cenas memoráveis entregues sucessivamente, como quando o chefão encomenda os
caros serviços de um atirador chamado Paganini (Manuel de Blas) que tenta
encurralar os dois durante um ensaio de coral –do qual Ben participa! É um
momento hilário que certamente ficou na mente de muitos expectadores que viram
o filme nos anos 1980.
Ou o embate final de Kid e Ben contra os
mafiosos no salão de um restaurante tomado por balões, o auge do estilo
‘pancadaria cômica’ que Terence Hill e Bud Spencer tanto difundiram em seus
filmes.
Bons tempos em que a série
“Trinity” rendia essas agradáveis e descompromissadas aventuras.
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