Durante algum tempo, o sucesso de “Pânico”, de
“Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado” e de “Prova Final” transformou o
roteirista Kevin Williamson numa espécie de Midas hollywoodiano da década de
1990. Seus scripts, se não tinham inovação autoral nem inteligência ou
relevância artística legítima, ao menos eram sempre sintonizados com a
juventude do período e seu gosto particular por expedientes muito específicos
do terror (elementos que Williamson certamente sabia manipular muito bem) e por
referências à outros exemplares de gêneros cinematográficos de consumo juvenil:
Aqui, a maior menção à sobressair-se de alguma redundância é a presença da
ex-rainha das comédias românticas oitentistas Molly Ringwald.
Com “Tentação Fatal”, Williamson planejou
migrar de roteirista para também diretor, mas tudo o que conseguiu foi, pela
primeira vez, deixar público e crítica cientes de suas limitações criativas.
Vinda da série “Dawson’s Creek” –um produto
televisivo também ele concebido por Williamson –a jovem e bela Katie Holmes
interpreta Leigh Ann, aluna modelo da Grandsboro High School prestes a
formar-se e a enveredar numa promissora vida universitária se tudo der certo.
Leigh Ann, contudo, é assombrada pelo fantasma
do fracasso: Aquele risco sempre opressivo de que tudo acontecerá de ruim,
prendendo-a à vida medíocre daquela cidadezinha, e confinando-a à vida de
garçonete da qual sua mãe não foi capaz de se desvencilhar.
E, no momento, ninguém representa melhor esse
risco para Leigh Ann do que a amarga e irredutível Sra. Tingle (Helen Mirren,
poderosa e altiva), a professora de história da escola, temida por alunos e até
mesmo por membros do corpo docente.
É dela que depende a nota A que Leigh Ann
precisa tirar para ser a melhor colocada na escola, o que irá lhe garantir uma
vaga na bolsa de estudos que permitirá a realização de seus sonhos.
Mas, a Sra. Tingle é osso duro de roer, e
parece ter um sadismo ao assistir a derrota de seus alunos em geral e de Leigh
Ann em particular.
Numa ocasião especialmente delicada, ela flagra
Leigh Ann com seus dois amigos, Luke (Barry Watson, da série evangélica “O
Sétimo Céu”), e Jo Lynn (Marisa Coughlan), de posse de uma cópia de uma de suas
provas finais –e, embora inocente da travessura armada pelos dois amigos, é
Leigh Ann quem irá prejudicar-se mais por isso.
Ela procura pela Sra. Tingle em sua casa para
esclarecer o mal-entendido, mas o diálogo, testemunhado por Luke e Jo Lynn,
não é em nada amistoso: A professora maldosa faz questão de deixar bem claro
que não vai abrir mão da única oportunidade que teve para acabar com as chances
da aluna perfeitinha.
Numa progressão de contratempos que só poderia
partir mesmo da ficção –assim como (espera-se!) só poderia partir mesmo da
ficção uma personalidade tão absurdamente rancorosa, cruel e apática como Sra.
Tingle –Leigh Ann e seus amigos acabam sem querer atingindo de raspão a Sra.
Tingle com uma flecha (!), deixando-a desacordada; a saída, para não piorar
ainda mais suas denúncias, é amarrá-la em sua cama e esperar, nos dias que se
seguem, uma solução aparecer, uma vez que certamente, ela não partirá da nada
razoável Sra. Tingle.
Na comparação com as outras criações de
Williamson, “Tentação Fatal” carrega menos no terror e mais no suspense, ao
centralizar a premissa numa situação-limite resumida a uma simples ambientação
(um roteiro planejado para facilitar ao máximo a tarefa de Kevin Williamson
como diretor estreante), discorrendo sobre as aflições adolescente emolduradas
pela atmosfera de preocupação que ele tão bem sabe administrar.
O trecho final, onde as tensões se afunilam com
repercussões mais físicas entre os antagonistas ganha certo viés eletrizante,
contudo, Williamson não é um diretor tão entrosado nos fundamentos do terror a
ponto de saber transgredi-lo (como Wes Craven em “Pânico”), nem tão audacioso
para com as ferramentas narrativas do próprio cinema (como Robert Rodrigues em
“Prova Final”); o resultado de seu trabalho, na maior parte do tempo, é
genérico e acomodado, sublinhando tão somente os ocasionais lampejos inspirados
do roteiro (que nem se releva tão brilhante assim).
Uma crítica que tornou-se
chavão a respeito desse filme –e da qual nenhum comentário provavelmente é
capaz de escapar –é a afirmação de que, se o filme se destaca em alguma coisa,
é na presença sempre impecável da dama Helen Mirren, saindo léguas na frente do
fraquíssimo elenco jovem, e construindo uma vilã desequilibrada e sádica,
tirando de letra a inverossimilhança em sua psicologia e ressaltando o elemento
que, no final das contas, importa a um filme desses: A diversão.
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