quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Match Point - Ponto Final

 


Abrindo mão de forma surpreendente de seu já tão difundido e conhecido senso corrosivo de humor, o diretor e roteirista Woody Allen deu, nos idos de 2005, um novo rumo à sua carreira com este “Match Point”: Ele abandonou, por algum tempo, a cidade de Nova York –ambientação de quase a totalidade de suas obras –e aventurou-se em contar histórias transcorridas em cidades referenciais da Europa; ele também nomeou a deliciosa e competente atriz Scarlett Johasson como sua nova musa desta nova fase (Johansson estrelou este e outros dois filmes de Allen); e (ao menos aqui) assumiu uma postura de seriedade e austeridade no roteiro e na condução que não apareciam com tanta à ênfase em suas realizações desde algumas audazes experiências dos anos 1980, como “A Outra” ou “Hannah e Suas Irmãs”.

“Match Point” é, sobre muitos aspectos, Woody Allen tentando se travestir de Alfred Hitchcock. É também Woody Allen incorporando as aglutinações morais de Dostoyevski em “Crime e Castigo” –ele é inclusive citado num trecho fundamental do filme –e nesse processo, de tatear novas percepções ao estilo que ameaçou engessá-lo na década de 1990, Woody Allen concebe um filme notável em seu frescor autoral.

Jonathan Rhys Meyers é o ambicioso londrino Chris Wilton. Sua mentalidade calculista e pragmática o atrai em direção à garota milionária Chloe Hewett (Emily Mortimer), no entanto, seu desejo irracional o empurra para a atraente Nola Rice (Scarlett), então namorada do irmão de Chloe (Matthew Goode).

Chris procura em vão inibir esse desejo a medida que seu interesseiro enlace com Chloe segue os ritos de praxe –namoro, noivado, casamento. No entanto, quando reencontra Nola, agora, não mais namorando seu cunhado, ele vê a chance de ter seus avanços correspondidos; e ela se torna sua amante engravidando, pouco depois.

Agora Chris tem um dilema em mãos: Contar a verdade para Chloe, e ter o confortável status social com o qual se acostumou ameaçado, ou permanecer como está?

A segunda alternativa, Nola está disposta a não tornar viável: Ela ameaça contar a verdade a Chloe se ele não a assumir e ao bebê que está esperando.

Toda essa árdua preparação –levada por Woody Allen tendo por elemento de sublinhamento das passagens chaves o trecho “Una Furtiva Lagrima” de L’elisir d’amore –serve para nos levar ao elaborado assassinato que se sucede quase na metade do filme; e que revela “Match Point” ser, de fato, sobre a arquitetação de um crime aparentemente perfeito (por sinal, essa é a premissa também de “Scoop-O Grande Furo”, projeto imediatamente seguinte que Allen fez com Scarlett Johansson).

Entretanto, como Allen parece ter apreendido de Hitchcock, o conceito que determina um crime perfeito (aquele do qual seu perpetrador consegue escapar impune) do imperfeito depende de uma série de pequenos detalhes, explorados aqui com criterioso humor negro, em especial, um detalhe sutil, inusitado e determinante, justaposto numa analogia com a prática esportiva do tênis, especialidade do protagonista, que termina também batizando este trabalho um tanto memorável, e um tanto capaz de surpreender (e, em alguns casos, até frustrar!) aqueles que estiverem esperando por um Woody Allen típico das mesmas comédias irônicas e sofisticadas que ele entregou nos anos 1990.

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