Abrindo mão de forma surpreendente de seu já tão difundido e conhecido senso corrosivo de humor, o diretor e roteirista Woody Allen deu, nos idos de 2005, um novo rumo à sua carreira com este “Match Point”: Ele abandonou, por algum tempo, a cidade de Nova York –ambientação de quase a totalidade de suas obras –e aventurou-se em contar histórias transcorridas em cidades referenciais da Europa; ele também nomeou a deliciosa e competente atriz Scarlett Johasson como sua nova musa desta nova fase (Johansson estrelou este e outros dois filmes de Allen); e (ao menos aqui) assumiu uma postura de seriedade e austeridade no roteiro e na condução que não apareciam com tanta à ênfase em suas realizações desde algumas audazes experiências dos anos 1980, como “A Outra” ou “Hannah e Suas Irmãs”.
“Match Point” é, sobre muitos aspectos, Woody
Allen tentando se travestir de Alfred Hitchcock. É também Woody Allen
incorporando as aglutinações morais de Dostoyevski em “Crime e Castigo” –ele é
inclusive citado num trecho fundamental do filme –e nesse processo, de tatear
novas percepções ao estilo que ameaçou engessá-lo na década de 1990, Woody
Allen concebe um filme notável em seu frescor autoral.
Jonathan Rhys Meyers é o ambicioso londrino
Chris Wilton. Sua mentalidade calculista e pragmática o atrai em direção à
garota milionária Chloe Hewett (Emily Mortimer), no entanto, seu desejo
irracional o empurra para a atraente Nola Rice (Scarlett), então namorada do
irmão de Chloe (Matthew Goode).
Chris procura em vão inibir esse desejo a
medida que seu interesseiro enlace com Chloe segue os ritos de praxe –namoro,
noivado, casamento. No entanto, quando reencontra Nola, agora, não mais
namorando seu cunhado, ele vê a chance de ter seus avanços correspondidos; e ela
se torna sua amante engravidando, pouco depois.
Agora Chris tem um dilema em mãos: Contar a
verdade para Chloe, e ter o confortável status social com o qual se acostumou
ameaçado, ou permanecer como está?
A segunda alternativa, Nola está disposta a não
tornar viável: Ela ameaça contar a verdade a Chloe se ele não a assumir e ao
bebê que está esperando.
Toda essa árdua preparação –levada por Woody
Allen tendo por elemento de sublinhamento das passagens chaves o trecho “Una
Furtiva Lagrima” de L’elisir d’amore –serve para nos levar ao elaborado
assassinato que se sucede quase na metade do filme; e que revela “Match Point”
ser, de fato, sobre a arquitetação de um crime aparentemente perfeito (por
sinal, essa é a premissa também de “Scoop-O Grande Furo”, projeto imediatamente
seguinte que Allen fez com Scarlett Johansson).
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