Escrito e dirigido pelo argentino Juan Solanas, “Mundos Opostos” é uma fusão entre ficção científica altamente fantasiosa e romance melodramático e rasgado, amparado em conceitos visuais que ora funcionam, ora emolduram um certo vazio em sua caracterização.
No mundo fantástico em cujo contexto a trama
está inserida, existem dois ‘planetas gêmeos’, por assim dizer, com todas as
características urbanas do planeta Terra; eles têm superfícies que são tão
próximas que um chega a encobrir o céu do outro.
Um deles se chama o Lado de Cima –rico, cheio
de belíssimas construções e pleno de vida confortável –o outro se chama o Lado
de Baixo –paupérrimo e sujo, quase uma espécie de subúrbio –e existem certas
regras: Cada indivíduo é atraído pela gravidade de seu próprio mundo, e a
permanência no mundo vizinho pode levar o intruso a incendiar-se (!) ficando lá
por muito tempo.
Com essas barreiras existenciais e mirabolantes
elaboradas, o filme se ocupa então de moldar sua já desafortunada história de
amor: Adam (Jim Sturgess) é um órfão a viver no Lado de Baixo; Eden (Kirsten
Dunst) é uma jovem a viver do Lado de Cima. Ainda muito jovens, eles se
apaixonam ao se encontrarem por meio de duas montanhas em seus mundos que quase
se tocam numa região remota.
Como a transição entre os mundos é proibida
–sobretudo a ida de moradores de Baixo para o Lado de Cima –eles são
perseguidos por soldados, e Eden cai da montanha. Sem que Adam fique sabendo,
ela tem amnésia e o esquece pelos próximos dez anos.
Entretanto, uma oportunidade de rever o amor
perdido surge para Adam quando enxerga, certo dia, Eden na TV: Ela agora é
funcionária da corporação Transmundo –que explora implacavelmente a mão de obra
do Lado de Baixo para prover riqueza ao Lado de Cima, mas que representa o único
meio de fato desses dois mundos se entrecruzarem.
Ao criar uma fórmula revolucionária –um creme
facial que utiliza propriedades de ingredientes do mundo inverso para desafiar
a gravidade –Adam obtém aval para então trabalhar no edifício da Transmundo, um
complexo que une os dois mundos –e um achado em termos de direção de arte –no
qual, em sua interseção, o chão de um andar, significa o teto do outro (!), com
funcionários de Cima e de Baixo interagindo uns com os outros, ainda que
regidos por rígidas normas.
O objetivo de Adam não é progredir
profissionalmente, mas sim reencontrar-se com Eden, e retomar seu amor de onde
ele foi interrompido; o que significa escapadas cuidadosamente planejadas para
o outro lado, onde precisa compensar a gravidade que o puxa de volta para cima
e o perigo de morrer queimado se lá ficar tempo demais.
Os propósitos que a concepção dessa trama muito
particular atende parecem ser explicitamente visuais: Na ânsia de retratar o
universo singular no qual se ambienta, o filme do diretor Solanas lança mão de
exuberantes recursos na direção de fotografia, subterfúgios imaginativos no
emprego de ângulos inusitados de câmera –sobretudo, plongées e contra-plongées
–e emoldura a obra, de ponta a ponta, com imagens de extravagante elaboração
visual, talvez para compensar seus rumos previsíveis.
Na analogia de simbolismo cristão que parece
tentar fazer, o protagonista Adam (Adão), surge não em busca de uma contraparte
feminina e romântica propriamente dita (Eva), mas em busca de uma utopia ainda
mais virtualmente inatingível, Eden (o Paraíso), sempre acima, sempre além de
suas perspectivas e possibilidades.
Se havia intenção reflexiva nessa metáfora
sobre obstinação moral, então o roteiro e a direção cometeram pequenos
deslizes, ao focar em elementos prosaicos, redundantes e pouquíssimo válidos na
trajetória de altos e baixos do amor essencialmente pueril que registram; não
há muita química entre o desengonçado inglês Sturgess e a bela, porém,
inacessível Kirsten (detalhe complicado e comprometedor numa trama onde eles
não se encontram em boa parte do tempo); e os pontos cruciais onde a história
avança e evolui, essas etapas são construídas em cima de sequências de
orientação clichê, presente em toda a qualquer produção rasteira sobre amor
impossível que se preze.
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