Em sua estréia no cinema, a jovem Jennifer Jones conseguiu conquistar o Oscar de Melhor Atriz em 1944 numa disputa que envolvia Ingrid Bergman (por “Por Quem Os Sinos Dobram”), Joan Fontaine (por “De Amor Também Se Morre”), Jean Arthur (por “Original Pecado”) e Greer Garson (por “Madame Curie”), além de fazê-lo interpretando uma figura santa, verdadeira armadilha para intérpretes profissionais veteranos que nem sempre conseguem se equilibrar entre o enaltecimento ao personagem e a predisposição para humanizá-lo.
Neste filme habilmente dirigido por Henry King
(de “A Epopéia do Jazz” e “Suplício de Uma Saudade”), Jennifer Jones se
desvencilha de cada um desses contratempos ostentando uma serenidade
contagiante do início ao fim, absolutamente apropriada à pureza da personagem
que vivencia.
Ela é Bernadette Soubirous, filha de uma
família de pobres camponeses na cidadezinha de Lourdes, no interior da França
do Século XIX.
Assolada pela tuberculose, Bernadette não
consegue comparecer às aulas religiosas da paróquia local, e sua desinformação
quanto aos mais simples preceitos religiosos lhe acarreta a fama de idiota
entre os moradores do vilarejo.
Numa bucólica quinta-feira, Bernadette, junto
da irmã e de uma amiga, vai à beira de um rio, situado na área desolada de
Massabielle, nos arredores do vilarejo, a fim de catar lenha. Lá, Bernadette
tem uma visão: Uma mulher de beleza celestial, e vestes que, em sua descrição,
correspondem às da Virgem Maria, todavia, Bernadette se refere a ela tão somente
como a ‘Senhora’.
Embora ninguém mais seja capaz de enxergar a
aparição –o que abre espaço para todo o tipo de questionamento, e para maldosas
especulações de que a garota estaria louca –muitos são os que se mobilizam para
ver Bernadette rezar naquele mesmo lugar
após a ‘Senhora’ tê-la orientado para encontrá-la ali diariamente ao longo de 15
dias; inclusive sua mãe, uma das muitas pessoas inicialmente relutantes em
relação às alegações da filha.
Contudo, é a convicção irredutível de
Bernadette que convence a todos –uma garota tão simples e tão destituída de
segundas intenções, não seria capaz de inventar e manter uma história como essa
se fosse mentira.
Quando os mais céticos começam a cobrar uma
prova de tais visões, diante do clamor popular que o caso de Bernadette vai
tomando, surge uma fonte de água pura no mesmo lugar indicado por ela. A fonte
tem propriedades curativas; pessoas enfermas, ou até moribundas veem-se curadas
ao beber de sua água.
A história se espalha, mobilizando cada vez
mais fiéis que buscam a inexplicável água milagrosa providenciada por aquela
que, mais tarde, por meio da própria Bernadette se autointitulada Imaculada
Conceição.
Na faltam, na trajetória de Bernadette, os
desprezíveis indivíduos (comumente relacionados à autoridade) procurando
detê-la e desacreditá-la a qualquer custo: O mais significativo deles é o
promotor Vital Dutour, vivido por Vincent Price com a extrema generosidade em
abraçar papéis vilanescos que o fez notório.
Ele faz o possível para desacreditar Bernadette
–até contrata um psiquiatra com planos de interná-la em um hospício –e, mais
tarde, tenta valer-se da Lei para impedir o acesso do povo às águas da fonte,
isso quando a questão envolvendo Bernadette já havia chegado ao conhecimento do
Vaticano que, hesitante, iniciou um árduo processo para confirmar cada um dos
milagres relacionados.
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