Em algum momento da segunda metade dos anos 1980 e anos 1990 além, a apresentadora Xuxa Meneghel construiu um império. Seu programa televisivo batia recordes de audiência, ela vendia discos e toda sorte de produtos com sua marca, e até se aventurava estrelando produções cinematográficas.
Houve um momento em que ela sequer precisou
estar presente numa obra, para que esta viesse a chamar a atenção do público:
Bastava que “Sonho de Verão” trouxesse seu nome como produtora, para ser um
lançamento de destaque durante as férias de 1990. O protagonista era Sergio
Mallandro, seu aloprado parceiro de cena em “Lua de Cristal”, e o elenco
coadjuvante correspondia, majoritariamente, aos Paquitos e Paquitas, os
assistentes de palco de Xuxa em seu programa de TV.
A trama de “Sonho de Verão” gira em torno de
Leo, personagem ao qual Sergio Mallandro empresta sua galhardia irreprimível –e
pouco mais há para se falar sobre sua atuação, sobre suas motivações ou
qualquer outra coisa.
Ele é um motorista de taxi que, num belo dia,
captura uma significativa conversa entre um casal idoso de passageiros à
caminho do aeroporto: Donos de uma mansão, eles partem para os EUA a fim de
encontrar um especialista que cure o trauma de sua filha (Juliana Baroni, sim,
uma das Paquitas!), praticamente muda desde a morte da irmã.
Essa filha –pasmem... –eles deixaram sozinha em
casa com a criadagem e a governanta (vivida pela histriônica Fafy Siqueira).
Leo, cujos estratagemas visam ter um bom
momento com a namorada (a bela Andrea Veiga, outra Paquita...), se diz sobrinho
do velho casal e passa a ocupar a mansão, trazendo para lá a namorada e mais um
grupo de amigos. Mais tarde, porém, até mesmo um ônibus lotado de jovens (todo
o restante dos Paquitos e Paquitas!) vai parar por acaso no lugar –conduzido
pelo roteiro com as mais estapafúrdias justificativas –e, inspirado pelo clima
de algazarra, Leo acaba corroborando o engano deles, que tomam o lugar como uma
colônia de férias.
Se até então “Sonho de Verão” mal tinha
protagonistas, propósitos e uma premissa meramente esboçada, a partir daí, tudo
se torna uma insensatez lisérgica com o diretor Paulo Sérgio de Almeida
satisfazendo-se em filmar sequências de festa, uma seguida da outra, julgando
que isso forneceria algum fio narrativo ao filme.
Em meados de 2020, houve um inusitado resgate
da lembrança de “Sonho de Verão” –que aparentava estar meio esquecido na
memória dos cinéfilos –devido ao fato de que alguns expectadores apontaram uma
curiosa semelhança de sua premissa com a do aclamado e premiado “Parasita” (?!)
–em ambos, personagens supostamente cheios de ginga usam de subterfúgios pouco
sinceros para experimentar, mesmo que de modo fugaz, a vivência numa mansão de
propriedades inatingíveis ao seu modo de vida. Entretanto, é preciso ter muita
imaginação –ou muita falta do que fazer –para estabelecer maiores similaridades
entre a obra-prima sul-coreana e esta produção fuleira, non-sense e inconstante daqueles estranhos anos 1990.
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