quinta-feira, 18 de março de 2021

Sonho de Verão


 Em algum momento da segunda metade dos anos 1980 e anos 1990 além, a apresentadora Xuxa Meneghel construiu um império. Seu programa televisivo batia recordes de audiência, ela vendia discos e toda sorte de produtos com sua marca, e até se aventurava estrelando produções cinematográficas.

Houve um momento em que ela sequer precisou estar presente numa obra, para que esta viesse a chamar a atenção do público: Bastava que “Sonho de Verão” trouxesse seu nome como produtora, para ser um lançamento de destaque durante as férias de 1990. O protagonista era Sergio Mallandro, seu aloprado parceiro de cena em “Lua de Cristal”, e o elenco coadjuvante correspondia, majoritariamente, aos Paquitos e Paquitas, os assistentes de palco de Xuxa em seu programa de TV.

A trama de “Sonho de Verão” gira em torno de Leo, personagem ao qual Sergio Mallandro empresta sua galhardia irreprimível –e pouco mais há para se falar sobre sua atuação, sobre suas motivações ou qualquer outra coisa.

Ele é um motorista de taxi que, num belo dia, captura uma significativa conversa entre um casal idoso de passageiros à caminho do aeroporto: Donos de uma mansão, eles partem para os EUA a fim de encontrar um especialista que cure o trauma de sua filha (Juliana Baroni, sim, uma das Paquitas!), praticamente muda desde a morte da irmã.

Essa filha –pasmem... –eles deixaram sozinha em casa com a criadagem e a governanta (vivida pela histriônica Fafy Siqueira).

Leo, cujos estratagemas visam ter um bom momento com a namorada (a bela Andrea Veiga, outra Paquita...), se diz sobrinho do velho casal e passa a ocupar a mansão, trazendo para lá a namorada e mais um grupo de amigos. Mais tarde, porém, até mesmo um ônibus lotado de jovens (todo o restante dos Paquitos e Paquitas!) vai parar por acaso no lugar –conduzido pelo roteiro com as mais estapafúrdias justificativas –e, inspirado pelo clima de algazarra, Leo acaba corroborando o engano deles, que tomam o lugar como uma colônia de férias.

Se até então “Sonho de Verão” mal tinha protagonistas, propósitos e uma premissa meramente esboçada, a partir daí, tudo se torna uma insensatez lisérgica com o diretor Paulo Sérgio de Almeida satisfazendo-se em filmar sequências de festa, uma seguida da outra, julgando que isso forneceria algum fio narrativo ao filme.

Em meados de 2020, houve um inusitado resgate da lembrança de “Sonho de Verão” –que aparentava estar meio esquecido na memória dos cinéfilos –devido ao fato de que alguns expectadores apontaram uma curiosa semelhança de sua premissa com a do aclamado e premiado “Parasita” (?!) –em ambos, personagens supostamente cheios de ginga usam de subterfúgios pouco sinceros para experimentar, mesmo que de modo fugaz, a vivência numa mansão de propriedades inatingíveis ao seu modo de vida. Entretanto, é preciso ter muita imaginação –ou muita falta do que fazer –para estabelecer maiores similaridades entre a obra-prima sul-coreana e esta produção fuleira, non-sense e inconstante daqueles estranhos anos 1990.

Tão alienado e sem sentido “Sonho de Verão” é, que nem mesmo se encaixa numa definição dentro da própria época a que pertence: Embora houvessem os últimos extertores da produção cinematográfica nacional da época (bruscamente interrompida pela extinção da Embrafilme), “Sonho de Verão” não reflete nada disso, sendo um produto de consumo relapso, vazio e indeciso entre a vontade de divertir por meio de piadas irrisórias, a pretensa seriedade que surge nos momentos mais inadequados possíveis e um festival absurdo de merchandising –essa uma característica até comum em todos os filmes da Xuxa –a poluir cada uma de suas cenas,

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