quarta-feira, 17 de março de 2021

Superman 4 - Em Busca da Paz


 Em 1987, quando foi realizado o quarto e último filme do Superman interpretado por Christopher Reeve, as circunstâncias eram bem diferentes daquelas que cercaram o primeiro filme, capitaneado por Richard Donner. Desiludidos com o desempenho de público e crítica obtido com o irregular “Superman 3”, os produtores Alexander e Ilya Salkind venderam os direitos autorais do personagem para cinema aos produtores Menahem Golan e Yoram Globus.

Á frente da picareta Cannon Films –que, ao longo de toda década de 1980, popularizou os filmes caça-níqueis de ação pauleira estrelados por Chuck Norris e Jean Claude Van Damme –Golan e Globus não tardaram a garantir para seu novo filme as presenças de Reeve (Superman/Clark Kent em pessoa) e Gene Hackman (Lex Luthor), deixando a direção a cargo de um de seus operários-padrões, Sidney J. Furie, que havia contentado bastante seus empregadores fazendo muito com pouco orçamento na produção “Águia de Aço” –um primo pobre de “Top Gun”. Em outras palavras, o novo filme de Superman era um filme B com todas as letras, conduzido por um diretor moldado nessa orientação, dono de um orçamento irrisório e –consequência de tudo isso –resultou numa obra mambembe, oscilante entre a pretensão comercial e a auto-paródia involuntária.

Rumores indicavam o descontentamento imediato de Christopher Reeve já nas primeiras semanas de filmagem –consta que Golan e Globus conseguiram fisgá-lo para voltar ao papel protagonista prometendo a ele a direção da segunda unidade, além de uma participação determinante na construção do roteiro.

De fato, em sua trama, “Superman 4” apela para um viés político e pacifista que procura disfarçar a pobreza compulsiva de sua realização.

Herói magnânimo dos EUA e do mundo, Superman deixa de lado os percalços mais intimistas dos filmes anteriores para abraçar a figura que ele representa em larga escala: Inspirado pela carta de um garotinho, ele decide aderir ao movimento (real) de desarmamento nuclear de então e tenta abolir as ogivas atômicas em todo o mundo.

Talvez inspirado por isso, seu arqui inimigo, Lex Luthor, agora acompanhado de seu sobrinho à tiracolo (Jon Cryer, de “A Garota de Rosa Shocking” e da série “Two And A Half Men”, cujo personagem substitui, muito mal e porcamente, o Ottis de Ned Beatty), vale-se do DNA do Superman e, num plano maquiavélico, cria uma duplicata radioativa do Homem de Aço (vivido pelo brutamontes inexpressivo Mark Pillow).

É irônico que o filme de pretensões mais grandiosas da série, seja também aquele que mais flerta com o cinema poeira do período: Com o pouco que tem, Sidney J. Furie até faz o possível para emular o trabalho de Donner, embora não tarde para sua narrativa sentir a pressão e ceder, em sua segunda metade, a toda sorte de inverossimilhanças quando as cenas de ação e o uso recorrente de superpoderes exige do filme algo que ele não tem: Uma produção sólida e competente.

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