É sabido que “Superman 1 e 2” fora, em si, uma
verdadeira epopéia: Diferenças criativas entre os irmãos produtores Alexander e
Ilya Salkind e o diretor Richar Donner durante a realização do fantástico
primeiro filme acarretaram uma indisposição que durante a segunda produção
levou Donner a um afastamento quando muito do material já havia sido filmado –o
diretor substituto, Richard Lester, incumbiu-se de finalizar o trabalho
obedecendo à orientação dos produtores.
Por fim, em “Superman 3”, lançado em 1983,
Lester teve sua lealdade recompensada podendo assumir integralmente a direção
da terceira aventura do herói imortalizado por Christopher Reeve.
Uma pena que, como antes, as opções um tanto
discutíveis dos produtores tornaram a pesar –e, diferente da visão
intransigente, porém, cinematograficamente austera de Donner, Lester cedeu a
todas as imposições, fazendo desta uma obra insossa, impessoal, irrelevante
para com seu heróico protagonista, e dando descabida importância à participação
de Richard Pryor (um alívio cômico que adquire ares de estrela na premissa
bobalhona) em detrimento à presença sempre imponente de Reeve.
Promovendo uma mudança de ares no ambiente e no
elenco de apoio que predominavam nos dois primeiros filmes, o repórter Clark
Kent (Reeve, num personagem do qual ele já era indissociável) sai de Metrópolis
para ir a uma reunião de sua antiga classe colegial na cidadezinha de
Smallville, e lá reencontra sua paixão da adolescência Lana Lang (a belíssima
Annette O’Toole, de “A Marca da Pantera” que, para efeitos de referência,
interpretou a mãe de Clark Kent na série “Smallville”).
Sai de cena então Lois Lane –que só aparece no
início e no final como forma de punir a atriz Margot Kidder devido a uma série
de críticas em relação ao tratamento dado pelos produtores ao diretor Donner
–cuja relação com Clark/Superman estava meio desfasada aos olhos do público
após dois filmes, e entra um novo interesse romântico cheio de frescor, ainda
que bastante inocente e nada aprofundado –do staff do Planeta Diário, somente o
fotógrafo Jimmy Olsen (Marc McClure) se mantém presente do filme.
Assim, “Superman 3” já incorpora algumas
mudanças que procuram afastar as comparações com as obras anteriores e conferem
alguma leveza ao novo filme. O vilão da vez é Ross Webster, interpretado por
Robert Vaughn com pouquíssima disposição em disfarçar o fato de que, no
roteiro, ele seria novamente Lex Luthor (pelas mesmas razões de Margot Kidder, Gene
Hackman se recusou a voltar ao papel), sem falar que suas motivações não
poderiam ser mais rasas: Indignado com as intervenções indiretas do Superman em
suas maracutaias, Webster contrata o gênio em computadores Gus Gorman (o
próprio Richard Pryor, incontrolável feito uma criança) para dar um jeito no
herói criando uma pedra de kryptonita artificialmente.
Contudo, o resultado é um tanto inesperado: Ao
invés da enfraquecer e retirar os poderes do herói, a kryptonita não produz
nenhum efeito imediato, entretanto, ao longo dos dias uma nova personalidade
passa a aflorar em Superman –ele começa a aparentar desleixo em relação aos
seus salvamentos, e gradativamente se torna cada vez mais hostil e desprezível,
até culminar numa cena (de longe, a melhor de todo o filme), em que dois
‘supermen’ se separam e lutam entre si, um sendo esse novo Superman amargo e
vilanesco, o outro sendo Clark Kent, a versão real e íntegra do herói (e ambos
belamente interpretados por Christopher Reeve, um bom ator que teve poucas
oportunidades no cinema para brilhar de verdade).
No clímax, Superman assim resolve pôr um fim
aos estratagemas de Webster invadindo sua fortaleza onde enfrentará os recursos
aparentemente vastos do supercomputador que ele e Gus projetaram: Máquina do
mal esta que, no roteiro originalmente concebido por Ilya Salkind, seria
Brainiac, um dos grandes vilões do Superman dos quadrinhos, além de trazer
outros elementos como o Mr. Mxyzptlk e a Supergirl. Todavia, isso tudo foi
alterado para uma mera máquina maligna e descontrolada, graças à inépcia dos
executivos da Warner Bros. que não davam a mínima para elementos oriundos dos
quadrinhos, preferindo colocar no filme o que lhes dava na cabeça...
Descentralizado em sua premissa –o antagonismo
de Webster surge muito tarde na trama, e nunca parece devidamente justificado
ou enfatizado –“Superman 3” não chega a ser uma catásfrote completa, embora seu
envolvimento com o público e suas qualidades em grande medida se concentrem
mais na presença irretocável de Reeve do que na habilidade dos realizadores,
perdendo muito de seu tempo acompanhando a relação pueril e absolutamente
platônica entre Clark Kent e Lana Lang, e dando espaço interminável às cenas
cômicas envolvendo Richard Pryor que nada acrescentam à trama e quase nunca
parecem ter maiores ligações com ela.
O resultado acaba sendo uma aventura um pouco
estranha, banal em seu registro quase rotineiro de uma espécie de dia-a-dia do
Superman, e certamente, bastante inferior à energia contagiante dos dois
primeiros filmes.
Richard Donner fez falta, e
muita.
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