Pouco se identifica de um estilo mais marcante
que relacione o oscarizado “Shakespeare Apaixonado” e o thriller “Armas Na Mesa”,
embora eles tenham sido realizados pelo mesmo diretor.
Talvez, o que define o trabalho de John Madden
seja afinal sua capacidade para migrar com o máximo possível de elegância aos
mais diversos gêneros, embora isso acarrete uma atroz falta de profundidade a
essa abordagem justamente pela fugacidade com que é feita.
“O Exótico Hotel Marigold” é um exemplo dessa
desenvoltura e de como ela rende obras satisfatórias (chegou a ser indicado ao
Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical) e igualmente simplórias (pode
se esquecer dele tão logo se acaba).
Sete personagens ingleses são flagrados às
voltas com a rotina e os aborrecimentos da velhice: Evelyn (Judi Dench,
fabulosa) cuja viuvez evidenciou ainda mais a dependência que tinha do marido;
Graham (Tom Wilkinson), juiz da Suprema Corte desiludido com o marasmo de sua
profissão; Douglas e Jean Ainslie (Bill Nigh e Penelope Wilton, que já formaram
um casal em “Todo Mundo Quase Morto”), insatisfeitos com as circunstâncias
modernas da avançada idade; Madge (Celia Imrie, de “Garotas do Calendário"),
septuagenária já farta das incumbências domésticas relegadas a ela pela filha e
pelo genro; Norman (Ronald Pickup, de “O Destino de Uma Nação” e “Evilenko”),
um coroa ainda ávido por conquistas amorosas, cada vez mais escassas devido à
sua condição; e a Sra. Donnelly (a sempre formidável Maggie Smith), senhora
inglesa ranzinza e preconceituosa, confrontada com as falências do próprio
corpo.
Todos eles, por razões distintas, acabam
topando uma hospedagem gratuita em plena Índia oferecida gratuitamente num tal
Hotel Marigold para turistas europeus –alguns com a possibilidade de lá ficar
até o fim de seus dias: Evelyn porque nos quarenta anos de casada nunca fez
nada sem a intervenção do marido (e agora quer se provar); Graham porque é
homossexual, e numa viagem à Índia na juventude, conheceu o único homem que
realmente amou (e, na intenção de encontrá-lo, convence todos os outros da
viabilidade da viagem); Douglas e Jean porque uma aventura pode provar, para os
outros e para si mesmos, que a idade não representa incapacidade (mesmo que tal
mudança signifique perceber as fragilidades do próprio casamento); Madge porque
acredita que ainda pode encontrar em algum lugar a chama do amor e do desejo (e
sua intuição a leva a crer que a Índia possa ser esse lugar); Norman porque em
Londres, na Inglaterra, ele praticamente já esgotou as possibilidades de se dar
bem com as mulheres (e ser um inglês na Índia pode dar-lhe assim alguma
vantagem); e a Sra. Donnelly porque a cirurgia de quadril que ela precisa
imediatamente fazer será muito mais rápida e barata se for realizada em solo
indiano (a despeito da forte discriminação que ela tem com o povo de lá, seja
com seus hábitos e principalmente com sua comida).
São sete protagonistas que se dividem entre o
humor, o drama, a reminiscência, o otimismo e o sarcasmo, para narrar suas
distintas sub-tramas –beneficiados pela primazia particular do veterano elenco
inglês –acrescidos ainda de mais outro: O jovem e irrequieto gerente do Hotel
Marigold, Sonny Kapoor, vivido pelo carismático Dev Patel (de “Quem Quer Ser Um Milionário?”), que se equilibra entre a atrapalhada administração do hotel, uma
herança da família, o cerco cerrado e a cobrança existencial da mãe (Lillete
Dubey, de “Um Casamento À indiana”), o namoro afetuoso, porém, turbulento com a
bela Sunaina (Tina Desai, da série “Sense 8”) e o trato cheio de negociações e
artimanhas com os novos hóspedes.
Essa mistura obtida em “O
Exótico Hotel Marigold” agrada porque a direção soube dar ao filme aquele sabor
de comédia inglesa que sempre cai bem no paladar cinéfilo –e ali estão as
interpretações notáveis (Maggie Smith é particularmente fenomenal) e o senso de
humor auto-depreciativo característico para o deleite –embora seja mais um
título que, na filmografia irregular de John Madden, mostre absoluta
aleatoriedade na sua busca por histórias e personagens.
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