domingo, 14 de junho de 2020

O Exótico Hotel Marigold

Pouco se identifica de um estilo mais marcante que relacione o oscarizado “Shakespeare Apaixonado” e o thriller “Armas Na Mesa”, embora eles tenham sido realizados pelo mesmo diretor.
Talvez, o que define o trabalho de John Madden seja afinal sua capacidade para migrar com o máximo possível de elegância aos mais diversos gêneros, embora isso acarrete uma atroz falta de profundidade a essa abordagem justamente pela fugacidade com que é feita.
“O Exótico Hotel Marigold” é um exemplo dessa desenvoltura e de como ela rende obras satisfatórias (chegou a ser indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical) e igualmente simplórias (pode se esquecer dele tão logo se acaba).
Sete personagens ingleses são flagrados às voltas com a rotina e os aborrecimentos da velhice: Evelyn (Judi Dench, fabulosa) cuja viuvez evidenciou ainda mais a dependência que tinha do marido; Graham (Tom Wilkinson), juiz da Suprema Corte desiludido com o marasmo de sua profissão; Douglas e Jean Ainslie (Bill Nigh e Penelope Wilton, que já formaram um casal em “Todo Mundo Quase Morto”), insatisfeitos com as circunstâncias modernas da avançada idade; Madge (Celia Imrie, de “Garotas do Calendário"), septuagenária já farta das incumbências domésticas relegadas a ela pela filha e pelo genro; Norman (Ronald Pickup, de “O Destino de Uma Nação” e “Evilenko”), um coroa ainda ávido por conquistas amorosas, cada vez mais escassas devido à sua condição; e a Sra. Donnelly (a sempre formidável Maggie Smith), senhora inglesa ranzinza e preconceituosa, confrontada com as falências do próprio corpo.
Todos eles, por razões distintas, acabam topando uma hospedagem gratuita em plena Índia oferecida gratuitamente num tal Hotel Marigold para turistas europeus –alguns com a possibilidade de lá ficar até o fim de seus dias: Evelyn porque nos quarenta anos de casada nunca fez nada sem a intervenção do marido (e agora quer se provar); Graham porque é homossexual, e numa viagem à Índia na juventude, conheceu o único homem que realmente amou (e, na intenção de encontrá-lo, convence todos os outros da viabilidade da viagem); Douglas e Jean porque uma aventura pode provar, para os outros e para si mesmos, que a idade não representa incapacidade (mesmo que tal mudança signifique perceber as fragilidades do próprio casamento); Madge porque acredita que ainda pode encontrar em algum lugar a chama do amor e do desejo (e sua intuição a leva a crer que a Índia possa ser esse lugar); Norman porque em Londres, na Inglaterra, ele praticamente já esgotou as possibilidades de se dar bem com as mulheres (e ser um inglês na Índia pode dar-lhe assim alguma vantagem); e a Sra. Donnelly porque a cirurgia de quadril que ela precisa imediatamente fazer será muito mais rápida e barata se for realizada em solo indiano (a despeito da forte discriminação que ela tem com o povo de lá, seja com seus hábitos e principalmente com sua comida).
São sete protagonistas que se dividem entre o humor, o drama, a reminiscência, o otimismo e o sarcasmo, para narrar suas distintas sub-tramas –beneficiados pela primazia particular do veterano elenco inglês –acrescidos ainda de mais outro: O jovem e irrequieto gerente do Hotel Marigold, Sonny Kapoor, vivido pelo carismático Dev Patel (de “Quem Quer Ser Um Milionário?”), que se equilibra entre a atrapalhada administração do hotel, uma herança da família, o cerco cerrado e a cobrança existencial da mãe (Lillete Dubey, de “Um Casamento À indiana”), o namoro afetuoso, porém, turbulento com a bela Sunaina (Tina Desai, da série “Sense 8”) e o trato cheio de negociações e artimanhas com os novos hóspedes.
Essa mistura obtida em “O Exótico Hotel Marigold” agrada porque a direção soube dar ao filme aquele sabor de comédia inglesa que sempre cai bem no paladar cinéfilo –e ali estão as interpretações notáveis (Maggie Smith é particularmente fenomenal) e o senso de humor auto-depreciativo característico para o deleite –embora seja mais um título que, na filmografia irregular de John Madden, mostre absoluta aleatoriedade na sua busca por histórias e personagens.

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