sexta-feira, 19 de março de 2021

Calafrio


Parte do ciclo surgido em algum ponto entre os anos 1960 e 70 conhecido como ‘Eco-Terror’ –uma das variações do terror onde os incautos humanos eram vitimados pelas forças da natureza, animais em geral –“Calafrio” (ou “Willard”, no original) é bem menos famoso que sua continuação, “Ben-O Rato Assassino”; embora este também seja famoso mais por sua música-título, entoada por um muito jovem Michael Jackson, do que por seu sucesso ou qualidade.

“Calafrio” conta a história de Willard Stiles (Buce Davidson, de “X-Men-O Filme”), um jovem de vinte e sete anos que experimenta o tipo de submissão que, desde os tempos do “Psicose”, de Hitchcock, o público tem consciência que leva à psicopatia: Willard é subordinado de seu chefe, Martin (Ernest Bornigne) na firma que seu próprio pai ajudou a fundar antes de morrer. Como se as humilhações em horário de trabalho já não fossem o bastante, Willard tem esse detalhe o tempo todo lembrado em casa, graças aos resmungos incessantes da mãe (Elsa Lanchaster) cuja saúde debilitada a transformou numa indireta torturadora psicológica do próprio filho.

A medida que essa rotina tortuosa se intensifica –com o asqueroso Chefe Martin fazendo cada vez mais pressão para Willard desfazer-se da casa em que vive –Willard cria ‘laços’ com a fauna animal que prolifera em seu mal-cuidado quintal. Leia-se: Os ratos!

Dois ratos se destacam em meio à horda que cresce exponencialmente dia-a-dia: O pequeno ratinho branco Sócrates, amigo leal e pacato de Willard, e a enorme e esperta ratazana Ben que constrói com Willard um laço de desconfiança mútua.

Hábil, a direção de Daniel Mann tira proveito de ocasiões domésticas para construir os expedientes de seu suspense, disfarçando com propriedade e certo talento os limitadíssimos recursos que a produção dispõe e o fato de que pouca coisa de fato acontece na maior parte do tempo. Já no caminho para seu clímax, o filme de Mann afunila tensões com a morte da mãe de Willard –e a consequente necessidade dele tomar as rédeas da própria vida adulta –com a introdução de um malfadado interesse amoroso (nas curvas da bela e esguia Sondra Locke, de “Death Game”) e com a morte trágica de Sócrates (o que desestabiliza o já pouco instável Willard e restringe a liderança da horda de ratos apenas ao perigoso Ben).

Em meados de 2007, “Calafrio” sofreu sua inevitável refilmagem com “A Vingança de Willard”, estrelado por Crispin Glover. Nele, nem a tendência ao exagero em relação aos tópicos mais característicos do original, nem o aparato mais modernizado de efeitos animatrônicos para conceber o exército de roedores foram capazes de realmente acrescentar algo à obra, prova de que, em sua afiada e modesta narrativa de terror, “Calafrio”  foi muito mais certeiro e eficiente do que os críticos deram à entender em sua época.

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