Lá pelos idos de 1982 e 83, dando asas ao seu ímpeto realizador por detrás das câmeras, o astro Sylvester Stallone surpreendeu a indústria do cinema ao assumir a co-produção, o co-roteiro e a direção da inesperada continuação de “Os Embalos de Sábado À Noite”.
Há muito o que se falar de “Os Embalos de
Sábado Continuam”, todavia, se trata-se de algo bom a ser falado... isso já é
outra história: Não obstante o fato de ciscar numa trama que já se sustentava
sozinha, e cujos começo, meio e fim estavam bem definidos e determinados
naquele filme, Stallone, ao assumir as rédeas de uma pouco justificada
continuação criou uma contraparte monstruosa do filme anterior: Se “Embalos de
Sábado À Noite” era um honesto retrato de celeumas e percepções sociais dos
anos 1970, “Embalos de Sábado Continuam” envereda por um retrato do excesso
luxuriante, colorido e brega dos anos 1980. E, na caracterização desse painel,
Stallone exagera em tudo e por tudo, indicando plenamente alguns dos revezes que
sempre definiram seu irregular processo criativo.
Num início que remete alguns dos elementos mais
vulgares e afetados de “O Show Deve Continuar”, de Bob Fosse –as apresentações
de dança erotizadas ao máximo, o clima competitivo e decadente dos bastidores
–o filme mostra, em tom quase de videoclip, a nova rotina de Tony Manero (John
Travolta), cinco anos após os acontecimentos do primeiro filme, depois que ele
se decidiu por deixar a casa da família no Brooklyn e tentar a sorte em
Manhattan: Tony almeja brilhar na Broadway como dançarino e, para tanto,
submete-se à árduas audições enquanto se reveza entre aulas de danças e
sub-empregos em danceterias da madrugada.
Fã do primeiro filme, Stallone, que foi
convidado a dirigir o projeto pelo produtor e pelo roteirista do filme original
(respectivamente, Robert Stigwood e Norman Wexler) e pelo astro Travolta, exibe
um interesse genuíno em poder conduzir os prolongamentos dramáticos dessa nova
fase da vida de Tony –para quem Travolta oferece uma atuação desta vez mais
carregada em maneirismos de sangue quente latino –e isso é o melhor que se pode
falar do filme; pois, como diretor e roteirista, Stallone involuntariamente
caminha na direção do banal. O filme, tão ambicioso nas suas entrelinhas, no
retrato implacável que parece fazer do processo seletivo nos palcos da Broadway
e da difícil vida dos assalariados e aspirantes ao estrelato na Grande Maçã, no
decurso de sua própria premissa acaba por enfatizar tão somente o triângulo
amoroso ao qual a trama termina por restringir-se.
No rumo algo prepotente de seus sonhos, Tony
conhece a rica e arrogante Laura (Finola Hugues), bailarina cheia de contatos e
regalias que, ele sabe, pode ser seu passaporte mais rápido para brilhar na
ribalta. A atração de Tony por ela é genuína, mas suas segundas intenções são
igualmente aparentes; enquanto que Laura dá corda aos devaneios narcisistas de
Tony, ao mesmo tempo que deixa ele (e o público) indeciso quanto à sua índole.
De outro lado, Tony tem uma ‘amiga especial’, a
adorável, paciente e disponível Jackie (Cynthia Rhodes, da ficção “Runaway-Fora
de Controle”), com quem ele poderia até namorar, não fossem suas próprias
vaidades a impedir que o relacionamento avance.
É maniqueísta a forma com que esse triângulo
amoroso é tratado: Laura é sensual e diabólica –e assim é retratada na
apresentação teatral que se sucede no clímax –enquanto que Jackie é bondosa,
compreensiva e angelical; características que soam tão improváveis nela quanto
inverossímeis na outra! Resta ao Tony Manero de John Travolta oferecer um
registro humano mais coerente ao qual o expectador possa se ancorar, no
entanto, Travolta não se acha, aqui, tão inspirado quando no filme anterior. Na
verdade, tanto seu astro principal como o elenco coadjuvante como um todo (em
especial, a descontrolada Finola Hugues), seja pela forma como são dirigidos,
seja pelos diálogos que o roteiro lhes constrói, oferecem atuações que espelham
completamente alguns arroubos artificiais que o próprio Stallone exibiu em suas
performances.
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