sexta-feira, 23 de abril de 2021

O Doce Corpo de Deborah


 É natural que, ao adentrarmos “O Doce Corpo de Deborah” à procura dos expedientes mais conhecidos do giallo, tendo ele sido lançado em 1968, identificaremos pouco dos elementos que constituíram a totalidade das obras desse sub-gênero: Mario Bava, Dario Argento e todo conjunto de realizadores que deram corpo à esse filão ainda estavam estabelecendo as bases quando Romolo Guerrieri concebeu este filme em moldes muito parecidos. Assim sendo, há toda a influência do mestre Alfred Hitchcock na orientação da premissa –e o roteiro de Ernesto Gastaldi, com o tempo um especialista nesse sub-gênero, abraça todas as suas referências, em especial “Um Corpo Que Cai” –e há também aquela característica ‘torre de Babel’ que norteava produções européias do período: Uma realização italiana, estrelado por Carroll Baker (americana) e Jean Sorel (francês) e ainda ambientada, boa parte, em Genebra.

“O Doce Corpo de Deborah” começa elegíaco, numa praia paradisíaca, a registrar para a plateia o amor entre Deborah (Carroll) e Marcel (Sorel), para logo em seguida, mudar sua ambientação para os belíssimos alpes de Genebra. Foi lá que o personagem de Marcel cresceu, e é para lá, após casar-se com a rica Deborah, que ele regressa junto dela em lua-de-mel.

A primeira parte do filme de Guerrieri flerta perigosamente com o descontentamento do público ao acompanhar, em ritmo sempre moderado, o romance entre os protagonistas, mostrando interesse num intimismo e numa baixa voltagem que pode tirar a paciência dos apreciadores da faceta violenta e sanguinária do giallo. Embora visto como um thriller erótico, também nessa primeira metade, nota-se bastante moderação da parte da narrativa: Carroll Baker, de fato belíssima, surge como o maior chamariz ali, mas suas cenas de nudez são elípticas e esparsas, quase tímidas, embora existam.

Pouco a pouco, vemos o que parece ser uma trama de suspense começar a engatinhar: Aqui e ali, Marcel vê um antigo conhecido, Phillip (Luigi Pistilli), que não lhe dá atenção; para ele, Marcel é o maior responsável pela morte de Suzanne.

Mas, quem é Suzanne?

Trata-se de um antigo amor do passado de Marcel (vivida por Ida Galli), e que ele teve de abandonar, entre outras coisas, pela diferença de classe social –mesma diferença que, diga-se, ele compartilha com a abastada Deborah.

Suzanne aparentemente cometeu suicídio, e Phillip (ou mais alguém...) tem intenção de fazer algo para vingar essa tragédia. Mesmerizados com esse distúrbio na felicidade de sua lua-de-mel, Deborah e Marcel viajam para uma casa alugada nas montanhas, cujo vizinho, o artista Robert (George Hilton, outro ator bastante assíduo do giallo) desperta divertida irritabilidade em Deborah e suspeitas em Marcel. Por essas e outras, o casal não terá paz por muito tempo.

Elaborar uma sinopse de “O Doce Corpo de Deborah” é um tanto ingrato: É aquele tipo de filme sobre o qual há pontos da trama em que convêm não se falar a fim de preservar as surpresas; contudo, o trecho restante, em que se pode mencionar dando uma ideia ao potencial expectador, pouco revela daquilo que ele é, sobretudo, os trechos demasiadamente longos e dispersos que ele se dedica a mostrar o dia-a-dia de Deborah e Marcel.

É claro que, perto do fim, reviravoltas se acumulam num ritmo que subitamente ganha energia e aceleração (e que fazem dele um suspense genuíno), mas é curioso que o público precise fazer a travessia de uma obra toda voltada para o melodrama e para o psicológico até lá chegar.

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