É natural que, ao adentrarmos “O Doce Corpo de Deborah” à procura dos expedientes mais conhecidos do giallo, tendo ele sido lançado em 1968, identificaremos pouco dos elementos que constituíram a totalidade das obras desse sub-gênero: Mario Bava, Dario Argento e todo conjunto de realizadores que deram corpo à esse filão ainda estavam estabelecendo as bases quando Romolo Guerrieri concebeu este filme em moldes muito parecidos. Assim sendo, há toda a influência do mestre Alfred Hitchcock na orientação da premissa –e o roteiro de Ernesto Gastaldi, com o tempo um especialista nesse sub-gênero, abraça todas as suas referências, em especial “Um Corpo Que Cai” –e há também aquela característica ‘torre de Babel’ que norteava produções européias do período: Uma realização italiana, estrelado por Carroll Baker (americana) e Jean Sorel (francês) e ainda ambientada, boa parte, em Genebra.
“O Doce Corpo de Deborah” começa elegíaco, numa
praia paradisíaca, a registrar para a plateia o amor entre Deborah (Carroll) e
Marcel (Sorel), para logo em seguida, mudar sua ambientação para os belíssimos
alpes de Genebra. Foi lá que o personagem de Marcel cresceu, e é para lá, após
casar-se com a rica Deborah, que ele regressa junto dela em lua-de-mel.
A primeira parte do filme de Guerrieri flerta
perigosamente com o descontentamento do público ao acompanhar, em ritmo sempre
moderado, o romance entre os protagonistas, mostrando interesse num intimismo e
numa baixa voltagem que pode tirar a paciência dos apreciadores da faceta
violenta e sanguinária do giallo.
Embora visto como um thriller
erótico, também nessa primeira metade, nota-se bastante moderação da parte da
narrativa: Carroll Baker, de fato belíssima, surge como o maior chamariz ali,
mas suas cenas de nudez são elípticas e esparsas, quase tímidas, embora
existam.
Pouco a pouco, vemos o que parece ser uma trama
de suspense começar a engatinhar: Aqui e ali, Marcel vê um antigo conhecido,
Phillip (Luigi Pistilli), que não lhe dá atenção; para ele, Marcel é o maior
responsável pela morte de Suzanne.
Mas, quem é Suzanne?
Trata-se de um antigo amor do passado de Marcel
(vivida por Ida Galli), e que ele teve de abandonar, entre outras coisas, pela
diferença de classe social –mesma diferença que, diga-se, ele compartilha com a
abastada Deborah.
Suzanne aparentemente cometeu suicídio, e
Phillip (ou mais alguém...) tem intenção de fazer algo para vingar essa
tragédia. Mesmerizados com esse distúrbio na felicidade de sua lua-de-mel,
Deborah e Marcel viajam para uma casa alugada nas montanhas, cujo vizinho, o
artista Robert (George Hilton, outro ator bastante assíduo do giallo) desperta divertida
irritabilidade em Deborah e suspeitas em Marcel. Por essas e outras, o casal
não terá paz por muito tempo.
Elaborar uma sinopse de “O Doce Corpo de
Deborah” é um tanto ingrato: É aquele tipo de filme sobre o qual há pontos da
trama em que convêm não se falar a fim de preservar as surpresas; contudo, o
trecho restante, em que se pode mencionar dando uma ideia ao potencial expectador,
pouco revela daquilo que ele é, sobretudo, os trechos demasiadamente longos e
dispersos que ele se dedica a mostrar o dia-a-dia de Deborah e Marcel.
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