O termo “stop-loss” se refere ao soldado americano reescalado para servir na Guerra do Iraque mesmo após ter cumprido seu período voluntário. Dirigido por Kimberly Peirce, mesma realizadora do contundente “Meninos Não Choram”, este drama de guerra, ao tratar justamente das circunstâncias um tanto massacrantes do “stop-loss” parece inicialmente fazer uma espécie de propaganda patriótica ao Exército Norte-Americano, embora, no decorrer de seus acontecimentos termine por se revelar exatamente o oposto –um trabalho, na verdade, até anti-belicista e anti-militarista.
Produzido pela Paramount Pictures em
colaboração com a MTV Films –sendo, portanto, um filme para a TV –“A Lei da
Guerra” acompanha três amigos em missão no Iraque: Brandon (Ryan Phillippe,
também presente em “A Conquista da Honra”), Steve (Channing Tatum) e Tommy
(Joseph Gordon-Levitch), todos vindos da cidade de Brazoz, no Texas.
Ao fim do longo período de 11 anos como
soldados, os três regressam para suas famílias e sua cidade-natal, não sem
antes serem submetidos à excruciantes experiências em combate –uma delas, uma
emboscada nas ruas de uma cidadezinha iraquiana, é mostrada no prólogo em
sangrentos e exasperantes detalhes.
De volta, todos eles tentam se adaptar à nova
vida. Não conseguem; Steve tenta estabelecer um convívio com Mich (a bela Abbie
Cornish, de “Sucker Punch-Mundo Surreal”), sua noiva à cinco anos, mas os
severos surtos de stress pós-traumático galgam para a violência doméstica;
Tommy, de casamento marcado, põe a perder seu futuro matrimônio (e sua
permanência no exército) graças à sua propensão ao alcoolismo.
Já, Brandon, que almejava uma vida tranquila
depois de cumprido seu dever, tem um ingrata surpresa: Devido à uma ordem
presidencial, ele é um dos “stop-loss”; tão admirável foi seu desempenho em
combate que o exército não aceita sua dispensa e, praticamente à revelia dele
próprio, decide enviá-lo de volta para o Iraque. Sua excelência como soldado
foi a razão para mantê-lo preso à guerra da qual já queria se desvencilhar.
Essa faceta profundamente crítica para com esse
determinado procedimento militar –cujos números e estatísticas (ao menos, os
que estão disponíveis) são enunciados com realismo nos créditos finais –é o que
diferencia “A Lei da Guerra”, uma vez que ele começa aparentando-se quase como
uma variação de “O Franco Atirador” –onde jovens regressam para casa tendo de
conviver com os revezes do conflito –inserido na Guerra do Iraque.
Na verdade, a lida psicológica com o trauma do
Iraque pode ser vista como a fonte de um sub-gênero à parte entre os filmes de
guerra norte-americanos (tal e qual o Vietnam) em meados da década de 2000:
Houve entre outros o drama “Soldado Anônimo”, o suspense “No Vale das Sombras”
e o premiado “Guerra Ao Terror”.
“A Lei da Guerra” se insere nesse conjunto em
partes... pois, a partir de determinado ponto, ele muda, convertendo-se num
quase road movie onde Brandon, agora
desertor, negando-se ceder às exigências autoritárias do exército, se torna uma
espécie de fugitivo, ao lado de Mich, agora afastada de Steve –inclusive, com
uma promessa de triângulo amoroso pairando no ar; a diretora Peirce,
entretanto, parece sensata o bastante para não ceder ao convencionalismo.
Embora bem interpretado, bem conduzido, e envolvente
na maior parte do tempo, “A Lei da Guerra” carrega o problema de jamais ir até
o fim nos inúmeros objetivos que se propõe: Sua crítica ao exército não se
eleva em conclusões relevantes de fato (até porque o desfecho, nesse sentido, é
bastante conciliatório e desanimado) e os dramas de seus personagens assim
desenvolvidos (o alcoolismo de Tommy, a amizade entre Steve e Brandon e,
sobretudo, o envolvimento platônico, mas certamente afetivo, entre esse último
e a jovem Mich) jamais chegam num encerramento que possa sugerir redenção,
resolução ou término.
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