Pouco conhecida, a ficção científica “The Hidden” já era um daqueles ‘tesouros escondidos’ no tempo glorioso das videolocadoras –em meados dos anos 1990 –que o diga depois, quando o formato do VHS migrou para o DVD, permitindo o surgimento, nas décadas seguintes, de toda uma leva de colecionadores.
O trabalho carregado de urgência e de uma
austera e sensata ênfase na ação e no ritmo do diretor Jack Sholder, e escrito
por Jim Kouf (co-roteirista de “Admiradora Secreta” e “Tocaia”), possui uma
inventividade que já se evidencia no plano inicial: Uma câmera de segurança de
um banco, a registrar com sua imagem preto & branco –enquanto os créditos
transcorrem –a rotina de uma instituição bancária. Ali, daquele mesmo ponto de
vista, testemunhamos um assalto à mão armada. O assaltante, inconsequente e
sádico, procura ao fim pela câmera e a destrói com um tiro de sua arma. E o
filme se principia assim, na perseguição ao meliante.
Contudo, o roteiro não faz muitos rodeios para
revelar o cerne de sua premissa: Que o criminoso em questão é um alienígena
(!), e que, na Terra, passa de corpo em corpo, praticando toda sorte de
permissividades e extravagâncias ao ignorar a lei terrestre.
A cada vez que um hospedeiro é alvejada –e,
portanto, a integridade física do corpo que está habitando se vê ameaçada –ele
migra para outro, possuindo outra pessoa, prosseguindo assim com sua trajetória
de crimes.
Não interessa a esse antagonista perpetrar
algum plano mirabolante para a conquista do mundo –e o roteiro não dedica
qualquer esforço em dar-lhe um propósito mais aprofundado –ele quer ver o circo
pegar fogo somente. Pura inconsequência.
Poderia ser um elemento que sinaliza as
fraquezas do filme, mas a condução esperta de Jack Sholder não permite que
seja: Ele extrai dessa mesma simplicidade a força na qual ancora sua premissa
–e no fato de que assim não há quem não a compreenda –o alienígena, o hidden, é tão somente uma força do mal,
como o era o “Tubarão” de Spielberg. Uma criatura sem amarras morais e, por
isso, tão mais perigoso e amedrontador.
Dessa maneira, era inevitável que o filme
acabasse precisando se concentrar nos personagens ‘do lado da lei’ a perseguir
esse mal-feitor tão incomum: E mesmo nessa manobra, “The Hidden” encontra uma
forma de surpreender: Obcecado em capturar o criminoso está o policial Tom Beck
(Michael Nouri, de “Flashdance”), ladeado pelo estranho agente do FBI Gallagher
(Kyle MacLachlan).
Aos poucos, o expectador começa a captar indícios
(sutis, no começo) de que Gallagher é, também ele, um alienígena capaz de mudar
de corpo –e que o corpo que ocupa, o do agente do FBI, é um meio de se
mobilizar na civilização humana.
A diferença é que Gallagher tem ética e está na
Terra cumprindo uma missão, enquanto que o hidden
está aqui apenas para praticar suas maldades –as quais, com o tempo ele
percebe, serão impunes e intermináveis se ele se apoderar do corpo de um
político poderoso.
A lucidez da direção de Jack Sholter está no
fato de compreender que, em sua aridez, a trama reduzida ao básico fala por si
mesma, e que a melhor maneira de torná-la atraente ao público não é
aprofundando suas motivações –caminho adotado por nove dentre dez realizadores
–mas, sim potencializando seu registro: “The Hidden” não dá um único segundo
para respirar com sua ação bem calibrada e coreografada.
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