quarta-feira, 28 de abril de 2021

The Hidden - O Escondido


 Pouco conhecida, a ficção científica “The Hidden” já era um daqueles ‘tesouros escondidos’ no tempo glorioso das videolocadoras –em meados dos anos 1990 –que o diga depois, quando o formato do VHS migrou para o DVD, permitindo o surgimento, nas décadas seguintes, de toda uma leva de colecionadores.

O trabalho carregado de urgência e de uma austera e sensata ênfase na ação e no ritmo do diretor Jack Sholder, e escrito por Jim Kouf (co-roteirista de “Admiradora Secreta” e “Tocaia”), possui uma inventividade que já se evidencia no plano inicial: Uma câmera de segurança de um banco, a registrar com sua imagem preto & branco –enquanto os créditos transcorrem –a rotina de uma instituição bancária. Ali, daquele mesmo ponto de vista, testemunhamos um assalto à mão armada. O assaltante, inconsequente e sádico, procura ao fim pela câmera e a destrói com um tiro de sua arma. E o filme se principia assim, na perseguição ao meliante.

Contudo, o roteiro não faz muitos rodeios para revelar o cerne de sua premissa: Que o criminoso em questão é um alienígena (!), e que, na Terra, passa de corpo em corpo, praticando toda sorte de permissividades e extravagâncias ao ignorar a lei terrestre.

A cada vez que um hospedeiro é alvejada –e, portanto, a integridade física do corpo que está habitando se vê ameaçada –ele migra para outro, possuindo outra pessoa, prosseguindo assim com sua trajetória de crimes.

Não interessa a esse antagonista perpetrar algum plano mirabolante para a conquista do mundo –e o roteiro não dedica qualquer esforço em dar-lhe um propósito mais aprofundado –ele quer ver o circo pegar fogo somente. Pura inconsequência.

Poderia ser um elemento que sinaliza as fraquezas do filme, mas a condução esperta de Jack Sholder não permite que seja: Ele extrai dessa mesma simplicidade a força na qual ancora sua premissa –e no fato de que assim não há quem não a compreenda –o alienígena, o hidden, é tão somente uma força do mal, como o era o “Tubarão” de Spielberg. Uma criatura sem amarras morais e, por isso, tão mais perigoso e amedrontador.

Dessa maneira, era inevitável que o filme acabasse precisando se concentrar nos personagens ‘do lado da lei’ a perseguir esse mal-feitor tão incomum: E mesmo nessa manobra, “The Hidden” encontra uma forma de surpreender: Obcecado em capturar o criminoso está o policial Tom Beck (Michael Nouri, de “Flashdance”), ladeado pelo estranho agente do FBI Gallagher (Kyle MacLachlan).

Aos poucos, o expectador começa a captar indícios (sutis, no começo) de que Gallagher é, também ele, um alienígena capaz de mudar de corpo –e que o corpo que ocupa, o do agente do FBI, é um meio de se mobilizar na civilização humana.

A diferença é que Gallagher tem ética e está na Terra cumprindo uma missão, enquanto que o hidden está aqui apenas para praticar suas maldades –as quais, com o tempo ele percebe, serão impunes e intermináveis se ele se apoderar do corpo de um político poderoso.

A lucidez da direção de Jack Sholter está no fato de compreender que, em sua aridez, a trama reduzida ao básico fala por si mesma, e que a melhor maneira de torná-la atraente ao público não é aprofundando suas motivações –caminho adotado por nove dentre dez realizadores –mas, sim potencializando seu registro: “The Hidden” não dá um único segundo para respirar com sua ação bem calibrada e coreografada.

Uma mescla interessante e envolvente de ação, policial e ficção científica, dotada de certa originalidade no enfoque de seus elementos, admiravelmente despida de pretensões, plenamente eficaz no tipo de entretenimento que se propõe a ser. Uma pena, hoje, ela ser assim tão desconhecida do público.

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