sexta-feira, 30 de abril de 2021

Inoshika Ocho - Furyo Anego Den


 O exploitation que perdurou durante os anos 1970 e 80, em grande medida, girava em torno de uma mulher em busca de vingança; e isso não foi diferente no Japão, a terra do sol nascente, onde muitos exploitations cheios de propriedade foram realizados; até mesmo o filme depois deste do diretor Norifumi Suzuki, “A Escola da Besta Sagrada”, à sua maneira, girava em torno dessa premissa.

Elogiado por Quentin Tarantino, este “Inoshika Ocho-Furyo Anego Den” –ou “Sexo e Fúria” título nacional tão genérico quanto apelativo –trás elementos que viriam a pesar na filmografia do realizador em "Pulp Fiction" em geral, e em “Kill Bill” em particular. Durante a Era Meiji (que corresponderia, no Ocidente, ao fim do Século XIX início do Século XX) uma filha pequena é testemunha do brutal assassinato de seu pai, um velho inspetor de polícia. Ela cresce, desejosa de vingança –e nesse processo adquire as curvas da bela Reiko Ike –munida de poucas informações para encontrar os responsáveis: Tudo o que ela sabe (sem que o roteiro explique muito bem o porquê) é que os assassinos tinham, cada um, as tatuagens de um cervo, um javali e uma borboleta.

Adotando o nome de Inoshika Ocho, ela adquire notoriedade como jogadora de cartas, passando a ajudar as mulheres da casa onde foi criada (aparentemente uma espécie de prostíbulo...) e um jovem chamado Shunosuke (Masataka Naruse), também ele atrás de vingança, entretanto, por motivos mais, digamos, idealistas –ele realmente quer ajudar as causas políticas do Japão.

É no envolvimento de Inoshika com esse último personagem (embora não haja romance entre eles) que as coisas entornam para a protagonista: Ela planeja ajudar uma jovem virgem vendida a um gangster yakuza, Iwakura (Hiroshi Nawa), como promessa feita a um amigo (também isso o roteiro não explica muito bem...). No acordo, Inoshika deve derrotar um hábil campeão nas cartas; caso vença, ela terá a irmã do amigo livre; caso perca, a irmã do amigo e a própria Inoshika ficarão à mercê da depravação de Iwakura. O campeão de jogo de cartas escolhido pelo yakuza é outra mulher, a inglesa Christina (interpretada, com pompa de estrela, pela sueca Christina Lindberg, do lendário “Thriller-A Cruel Picture”).

No entanto, Christina tem, ela própria, sua sub-trama paralela: Ela fora apaixonada por Shunosuke no passado, que abandonou-a a fim de regressar ao Japão para lutar por seus ideais. Para reencontrá-lo, Christina tornou-se uma agente secreta, única forma de vir ao Japão sem levantar suspeitas, e nessas condições, ela se depara com situações em que não raro deve seduzir homens detestáveis, como seu próprio oficial superior (para provar que ela é capaz de fazê-lo!) e um dos yakuzas –e tome cenas seguidas e abundantes de nudez e sexo, como toca à cartilha dos exploitations de então!

Contudo, apesar de sua vulgaridade deliberada, essa obra de Norifumi Suzuki justifica plenamente a ovação de Tarantino: “Inoshika Ocho” é um filme bem estruturado –à despeito das sub-tramas ameaçarem a narrativa perder o fio da meada o tempo todo –realizado com esmero e entusiasmo, e dono de uma salutar capacidade de moldar sistematicamente cenas memoráveis uma após a outra, como a primeira luta de espadas da heroína, em que Inoshika combate um punhado de bandidos, completamente nua (!), enquanto vai empilhando corpos mutilados e ensanguentados; a tensa sequência do jogo de cartas que contrapõe as duas grandes personagens femininas do filme (a presença de Christina Lindberg, a despeito da fraca atuação, é muito bem planejada e interessante); as inventivas cenas de sexo (pois, nisso os japoneses, por vezes, se sobressaem!), incluindo um interlúdio lésbico em altíssima voltagem de Christina com a bela japonesa Jun Midorikawa; e a sensacional luta final, influência para diversos trabalhos dentro (e fora) desse sub-gênero que vieram depois.

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