quarta-feira, 2 de junho de 2021

13 Assassinos


 Refilmado em 2010 por Takashi Miike, a obra de Eiichi Kudo é um clássico japonês do chambara –o filme de samurais –cuja estrutura narrativa muito aproveita do molde estabelecido pelo mestre maior Akira Kurosawa em seu formidável “Os Sete Samurais”.

No período do xogunato, os feudos do Japão se deparam com uma situação política frágil: O irmão do Xogum, um político emergente na aristocracia japonesa, revela-se um homem cruel, insolente e devasso. Seus atos de maldade –que envolvem o estupro de uma jovem seguido do assassinato do marido dela –são protegidos por sua posição política impune, o que gera um mau estar entre os outros daimiôs –os nobre designados como governantes dos territórios do Japão.

A solução parece ser inevitável: Antes que esse vilão obtenha o cargo intocável de conselheiro do Xogum, o ministro Doi recruta, por baixo dos panos, o serviço de alguns samurais aposentados, entre eles o honrado Shizaemon (Chiezô Kataoka). A intenção é que ele reúna um grupo específico, coeso e eficaz para, num local determinado, promover uma cilada implacável para o irmão do Xogum e todo seu séquito de guarda-costas (que incluem dezenas de samurais habilidosos).

Assim, tal e qual Kurosawa em seu clássico maior, o filme de Eiichi Kudo estabelece com a nitidez inconteste de sua enxuta premissa, a estrutura sem firulas que definirá seu filme: O início estabelece a situação (o vilão do qual os protagonistas haverão de dar cabo), e em seguida, mais da metade de sua duração se dedica à preparação da emboscada –e durante esse trecho, onde muito diálogo e planejamento são mostrados, sequer vemos qualquer lampejo de cenas de ação.

É no trecho final –que corresponde a pouco mais de um terço da obra –que sua grande (e espetacular) sequência de ação e combate finalmente ganha corpo, evidenciando as lições (bem) aprendidas por Eiichi Kudo do mestre Kurosawa. A coreografia das lutas é hipnótica, tal seu manejo gracioso, a postura competente dos atores, e a habilidade da direção.

Claro que, diferente de “Os Sete Samurais”, “13 Assassinos” não alcança a perfeição: O diretor Eiichi Kudo tão somente reprisa passos similares aos de Kurosawa –não esboça qualquer intenção de alçar voo sozinho e por conta própria, com originalidade. Ele o faz com válida competência, mas não consegue evitar, com isso, alguns lapsos. O grande problema de “13 Assassinos”, talvez, seja sua primeira metade, onde se desenvolvem os preparativos para a grande batalha de seu clímax, durante os quais a paciência do público é testada em longos diálogos e, em alguns casos, desnecessários.

Quando o tão aguardado embate de samurais chega, ele é apoteótico, embora mesmo nesse quesito haja um pequeno empecilho para a obra de Eiichi Kudo nos dias de hoje (e para as plateias de hoje): O filme de Takasi Miike, tendo recontado a mesma história, com requintes de sadismo ainda maior, e de ambiguidade moral em alguns personagens, retratada a mesma batalha com a adição de cores, de efeitos visuais modernos, e de um fulgor técnico que certamente sobrepuja os belos conflitos em preto & branco aqui mostrados.

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