Poucos diretores possuem uma identidade visual tão marcante e particular quanto Luc Besson, e poucos diretores (menos ainda!) logram obter uma liberdade autoral tamanha que conseguem conceber uma obra nos seus devidos termos e objetivos. Em algum momento da década anterior, o diretor Besson descobriu-se independente no que tange às amarras criativas de seus projetos após produzir dezenas de produções de ação para o mercado mundial. A frente de sua produtora, Besson pôde então dar vazão às suas ambições sem preocupar-se com o desempenho de público e a aprovação da crítica.
Certamente, é por isso que, à sua maneira,
“Valerian e A Cidade dos Mil Planetas” remete tanto à elementos do início da
carreira de Besson: Como em “O Último Combate”, seu primeiro longa-metragem, e
outros trabalhos que vieram depois, “Valerian” é adaptado e profundamente
influenciado por clássicos quadrinhos europeus, ligeiramente divergentes dos
quadrinhos norte-americanos, onde o senso estético desigual e a narrativa de
possibilidades tão ilimitadas quanto mirabolantes ditam as regras, ou
possibilitam uma ausência quase contumaz delas.
No caso da graphic-novel
“Valerian e Laureline”, de Pierre Christin e Jean-Claude Méziéres, as
influências vão desde “Star Wars” até “Avatar” –influências que a HQ
desempenhou sobre os longa-metragens e não o contrário, diga-se! O roteiro,
concebido pelo próprio Besson, dá conta da vasta mitologia imaginada para essa
série de ficção científica, e também estabelece uma trama onde muitos aspectos
aventurescos e referenciais dos quadrinhos são mantidos, entretanto, no que diz
respeito à Besson, é o estilo que conta, muito mais que o conteúdo.
A cena inicial –mantida misteriosa e
inexplicada por um bom tanto de filme –mostra um planeta alienígena paradisíaco
sofrendo um súbito genocídio. Corta então para o protagonista do filme, Major
Valerian (Dane Deehan), que parece acordar de uma espécie de pesadelo com essa
cena em mente. Ao lado da Sargento Laureline (Cara Delevingne, de “Cidades de Papel”), ele é um agente operacional do governo da Terra, atuando no espaço
sideral. E aí, no relacionamento entre os dois heróis, começam as obviedades do
filme de Besson: Valerian tem lá seus sentimentos por Laureline, contudo, ela o
evita sistematicamente temendo ser só mais um nome em sua lista de conquistas.
E essa relação de relutância, sempre entre a ternura e a irritação, clichê de
nove entre dez casais da ficção, perpassa toda a história do filme –e encontra
fragilidades ainda maiores porque não só Dane Deehan, um bom ator, não chega a
se adequar com perfeição ao papel de Valerian, e Cara Delevigne, mais linda do
que competente, não se aprofunda na interpretação de Laureline, como também os
dois não partilham de qualquer química.
É por isso que a jornada que segue encontra
sucessivas dificuldades em envolver o público: Incumbidos de uma nova missão
interestelar, Valerian e Laureline têm que adentrar um mercado espacial cujas
negociações se dão em duas distintas dimensões –e são nessas cenas cheias de
inventividade visual que “Valerian” encontra sua grande força.
Dessa forma, eles vão descobrindo indícios de
um mistério que os leva à uma série de atentados perpetrados em Alpha, uma
estação orbital inicialmente criada por humanos, mas cujo trânsito constante de
raças alienígenas diversas transformou, com o passar dos milênios, numa
metrópole espacial apelidada de “A Cidade dos Mil Planetas”.
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